Cânceres relacionados ao cigarro levam mais de 50% dos pacientes a óbito

Mais da metade dos pacientes com cânceres causados pelo tabagismo não sobrevivem à doença, revela um estudo realizado pela Fundação do Câncer e divulgado nesta quarta-feira (27). Em alguns casos, mais de 80% dos pacientes podem ir a óbito, como ocorre com o câncer de esôfago.

As informações foram publicadas no sétimo volume do boletim info.oncollect, intitulado "Impactos do tabagismo além do câncer de pulmão", que analisou a incidência, mortalidade e letalidade de sete tipos de cânceres relacionados à cavidade oral: esôfago, estômago, cólon e reto, laringe, colo do útero e bexiga. A publicação reforça que o cigarro continua sendo um dos maiores causadores de câncer e mortes evitáveis no país.

O tabagismo está relacionado ao desenvolvimento de vários outros tipos de cânceres que afetam homens e mulheres. Em muitos desses cânceres, fumar representa risco significativo, embora outros fatores comportamentais, ocupacionais e infecciosos também possam fazer parte da cadeia de causalidade dessas doenças. Essa conexão multifatorial ressalta ainda mais a importância de prevenir e eliminar o tabagismo como uma estratégia efetiva de saúde pública. Luiz Augusto Maltoni, diretor executivo da Fundação do Câncer

O que estudo descobriu

Para chegar à taxa de letalidade, os pesquisadores se basearam nos números de incidência e mortalidade do RCBP (Registros de Câncer de Base Populacional) e do SIM (Sistema de Informação sobre Mortalidade). Veja resultados:

No câncer de cavidade oral, a letalidade é de 43% nos homens e 28% nas mulheres. Destaque para a região Nordeste, onde esse câncer apresenta maior letalidade entre os homens no país (52%). Já entre as mulheres, a região Norte alcançou a maior letalidade, atingindo 34%.

Para o câncer de esôfago, foi possível observar uma alta letalidade estimada em ambos os sexos, ficando acima de 80% para a maioria das regiões brasileiras. O destaque ficou para a região Sudeste, onde a letalidade entre os homens é de 98%.

No câncer de estômago, foi verificado que a letalidade para a doença é de 71%. A região Norte apresentou o maior índice (83%). No caso do câncer de cólon e reto, a letalidade estimada para a doença entre homens foi de 48% e entre as mulheres 45%, em todo o Brasil.

A letalidade estimada para o câncer de laringe no Brasil foi de 65% para o sexo masculino. "Existe uma alta relevância em relação à letalidade da doença no sexo feminino, variando de 48% a 88% em todas as regiões brasileiras. Os valores das taxas de incidência mostraram que a ocorrência desse tipo de câncer é cinco vezes maior em homens do que em mulheres", destaca a bióloga Rejane Reis, uma das pesquisadoras.

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Em relação ao câncer do colo do útero, a letalidade da doença é de 42%. "Vale a pena assinalar, ainda, a contribuição do tabagismo para as alarmantes taxas de incidência e a mortalidade por câncer do colo do útero na região Norte, uma vez que essa doença tem prevenção primária disponível também por meio da vacinação contra o HPV, além de programa de detecção precoce", completa Alfredo Scaff, epidemiologista e consultor médico da Fundação.

Para o câncer de bexiga, a letalidade estimada em homens e mulheres foi de 44% e 43%, respectivamente. "A letalidade é um indicador que impacta na mortalidade da doença, é um reflexo da agressividade dessas doenças e da dificuldade no diagnóstico precoce e no tratamento. Os números analisados e calculados pela fundação são um alerta para a urgência de eliminar o tabagismo. Muitas dessas mortes poderiam ser evitadas com a adoção de políticas públicas mais rigorosas", afirma Scaff.

De acordo com o Ministério da Saúde, dos sete tipos de câncer relacionados ao tabaco analisados na publicação, são estimados:

  • 15.100 casos novos de câncer de cavidade oral em 2024
  • 10.990 casos novos de câncer de esôfago
  • 13.340 casos de câncer de estômago
  • 45 mil de cólon e reto
  • 7.790 casos novos de câncer de laringe
  • 17 mil casos de câncer do colo do útero
  • 11.370 casos de câncer de bexiga

Cigarros eletrônicos são o novo desafio

O câncer representa a segunda maior causa de morte no Brasil, com 239 mil óbitos em 2022, e 704 mil casos novos estimados para 2024, segundo o Inca (Instituto Nacional do Câncer). Os cânceres relacionados ao tabaco analisados neste boletim foram responsáveis por 26,5% das mortes por câncer em 2022. Além disso, representam 17,2% dos novos diagnósticos estimados para 2024.

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O epidemiologista e consultor médico da fundação destaca que a eliminação do tabagismo poderia evitar uma parte significativa dessas mortes, aliviando o sistema de saúde. "Cerca de 12% da população ainda fuma. E nós precisamos continuar trabalhando para fazer com que as pessoas entendam os malefícios do tabagismo e reconheçam o cigarro como um dos principais causadores de doenças no ser humano, não só de cânceres, como enfocado na publicação, mas de doenças cardiovasculares, pulmonares e outras", comenta Scaff, que também é coordenador do estudo.

Enquanto o Brasil avançou na redução do número de fumantes, a popularização dos cigarros eletrônicos traz novas preocupações. Apresentados erroneamente como alternativa para os cigarros tradicionais, esses dispositivos têm atraído jovens, e servido como porta de entrada para a dependência em nicotina.

"O problema dos chamados vapes é que eles mascaram os perigos do tabaco e criam uma nova geração de dependentes. Precisamos agir rápido para conter essa nova onda. Precisamos intensificar a luta contra esse problema evitável. É um compromisso de todos, das autoridades aos cidadãos", diz Maltoni.

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