Necessidade de ser o centro das atenções? Veja motivo, segundo a psicologia

Sabe aquelas pessoas que fazem tudo para ser o centro das atenções? Para elas, não há limites quando o que está em jogo é atrair todos os olhares para si, receber elogios e ser um destaque absoluto. Quem tem o transtorno de personalidade histriônica é assim o tempo todo. Para conseguir atenção, vale chorar, desmaiar, vestir-se de forma extravagante, abusar da sedução e derramar as emoções como nos grandes dramalhões.

Bruno Netto Reys, psiquiatra e psicanalista, afirma que os histriônicos representam aproximadamente 3% da população —ou seja, cerca de três a cada cem pessoas. Sua causa ainda é desconhecida, mas especialistas acreditam que pode haver uma suscetibilidade genética e influência do meio externo.

Pessoas com esse transtorno têm uma baixa tolerância à frustração. Ficam entediadas facilmente, não lidam bem com a rotina e vivem à procura de excitação. O sofrimento no qual elas mergulham quando não são notadas faz com que tenham um humor instável e reativo.

"Os histriônicos ficam seguros quando são o centro das atenções. Quando não são, ficam extremamente incomodados, sentem um desconforto muito grande, quase que um aniquilamento", resume o psiquiatra Erlei Sassi. Isso acontece no trabalho, nos relacionamentos amorosos, entre familiares e amigos e até mesmo no meio de estranhos.

Para evitar que alguém brilhe mais do que ele, o histriônico aposta suas fichas na aparência física. Não raro recorre a vários procedimentos estéticos, segue dietas rigorosas, fica obcecado por exercícios físicos e usa roupas provocantes.

Como reconhecer uma pessoa histriônica?

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Imagem: iStock

Além do exibicionismo visual, ela fala de forma vigorosa, gesticula muito e expõe suas emoções de um jeito dramático, teatral, beirando o caricato. Também é conquistadora, desinibida e tem a sexualidade à flor da pele, demonstrada inclusive em lugares inadequados, como o ambiente de trabalho.

Ainda que pareça muito intensa, costuma ser emocionalmente superficial e percebe a realidade de uma maneira particular. É comum, por exemplo, o histriônico acabar de conhecer uma pessoa, já considerá-la íntima e exigir que ela se comporte como tal.

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Geralmente coleciona vários parceiros amorosos e não permanece muito tempo com nenhum deles, porque é movido a excitação. A paixão profunda que sente no início acaba de repente, pois deixa de ser novidade.

Apesar de parecerem seguras de si, no fundo são bastante sugestionáveis, vivem em busca de apoio e aprovação e têm medo de ser abandonadas. Por outro lado, são impulsivas, têm aversão a críticas e seus discursos são vagos e difusos.

Geralmente, os primeiros sinais dos transtornos de personalidade começam cedo, ainda na infância, e vão se tornando mais nítidos no decorrer do tempo. Mas o diagnóstico só é feito entre o final da adolescência e o início da vida adulta.

Consequências sérias

Depressão: as frustrações que o histriônico vai acumulando na vida podem levá-lo ao esgotamento e à depressão, que pode ser profunda, pois se agrava com o tempo.

Ansiedade: quando não consegue a atenção que tanto deseja, ele vai ficando cada vez mais ansioso

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Bipolaridade: por viver uma gangorra de emoções, o histriônico pode desenvolver bipolaridade.

Transtornos alimentares: a obsessão pela aparência perfeita pode levar o histriônico a ter distúrbios como anorexia e bulimia.

O desafio do tratamento

Todos nós queremos ser o centro das atenções em alguns momentos e isso é normal. O problema do histriônico é querer ser prestigiado o tempo inteiro, em qualquer situação. Mas ele nunca vai admitir que se comporta assim, nem reconhece que precisa de ajuda. Isso só acontece quando o sofrimento aperta.

"Ele costuma procurar ajuda mais pela comorbidade, porque está deprimido e tem a ideia de que o mundo não gosta dele. Um histriônico procura tratamento pela insatisfação, tristeza, pelos transtornos alimentares, pelo alcoolismo, uso de drogas e descontentamento com o corpo", resume Sassi. E aí que ele recebe o diagnóstico.

Quando chega a esse estado, precisa de remédios. "A parte psiquiátrica pode ajudar no controle da ansiedade, depressão, até de forma resolutiva, com medicamentos. Mas para a pessoa perceber seus exageros, o caráter repetitivo e pouco modulável desse comportamento, é necessária uma terapia em longo prazo", ressalta Reys. O tratamento do transtorno em si é feito com psicoterapia.

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Uma possibilidade é a psicoterapia dinâmica, que trabalha os problemas psíquicos a partir dos conflitos inconscientes originados na infância, ajudando a pessoa a diminuir sua reatividade emocional. Outra é a cognitivo-comportamental, que ajuda o histriônico a reduzir pensamentos disfuncionais, através da identificação e compreensão dos sentimentos, além de treinamentos.

Ele passa a dosar melhor os exageros, aprender um pouco mais com as experiências, ser mais tolerante e menos dependente da aparência e da busca de atenção. Não há cura, mas o tratamento aumenta a qualidade de vida dele e de quem está ao redor.

*Com informações de reportagem publicada em 30/07/2020

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