'Mulheres podem muito': como foi correr 5 km na Venus Half Marathon?

Você sabia que, até 1972, as mulheres eram proibidas de correr oficialmente uma maratona (prova com 42,195 km), pois os homens achavam que a distância era perigosa para uma atleta do sexo feminino? Além de considerarem as mulheres mais frágeis, muitos homens também temiam que a prática esportiva pudesse tornar as mulheres mais "masculinas" e até prejudicar sua capacidade reprodutiva.

De lá para cá, com muita luta, conseguimos provar que de frágeis não temos nada. E, embora o machismo ainda exista, as mulheres conquistaram muitos direitos, incluindo o de participar de maratonas e corridas de rua. Esse sentimento de celebração e orgulho pela nossa história estava no meu peito enquanto eu iniciava o percurso de 5 km na Venus Half Marathon, corrida realizada em São Paulo todos os anos desde 2014 e que conta apenas com mulheres competindo.

A prova realizada neste domingo (1) teve quatro percursos: 5 km, 10 km, 15km e 21,1 km. Como iniciante no esporte, escolhi a menor distância e já me surpreendi com a organização na hora da inscrição: era preciso informar o meu pace (ritmo) médio para, na hora da largada, ficar com outras mulheres que correriam na mesma velocidade que eu.

Na prova, isso fez diferença: ao longo do percurso, estávamos todas mais ou menos no mesmo nível, o que me ajudou a manter o foco na corrida e até me sentir menos mal —e menos julgada— quando precisei dar uma pausa para respirar e caminhar um pouco.

Completei os 5 km em 40 minutos, uma marca pessoal muito boa
Completei os 5 km em 40 minutos, uma marca pessoal muito boa Imagem: Acervo pessoal

De volta ao percurso e correndo novamente, notei também que haviam muitas amigas e até irmãs, tias e sobrinhas e mães e filhas correndo juntas. Eu mesma fui com uma amiga e acredito que esse é outro incentivo para fazer uma corrida de rua: encontrar pessoas queridas, dar risada juntas e compartilhar momentos de afeto e superação ao lado de quem queremos bem.

A corrida

Eu realmente acredito que completar qualquer distância é uma vitória para as corredoras, já que cada uma tem sua história e seus desafios para começar e continuar a praticar corrida.

Para mim, que sempre fui sedentária, correr se tornou um grande desafio por outro motivo. Há cerca de dois anos, descobri que tinha condromalácia patelar de grau 4 nos dois joelhos. A condição é caracterizada pelo desgaste da cartilagem do osso da patela (ou rótula), localizado na frente do joelho.

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Quando comecei a correr, senti dores fortes e precisei ir com calma, além de combinar os treinos de corrida com exercícios de fortalecimento para preparar a musculatura das pernas e impedir que a condição se agravasse. Felizmente, com o apoio do treinador Felipe Trama —e dos amigos corredores, que nunca me deixaram desistir!— eu consegui seguir em frente e participar a Venus Half Marathon, ainda que na distância mais curta.

Achei a prova muito organizada e todo o percurso estava muito bem sinalizado. A corrida aconteceu na Marginal Pinheiros, o que também foi excelente: as pistas amplas permitiam que todas corressem sem aperto e o trajeto de 5 km foi todo plano, um alento para quem, como eu, ainda está na categoria iniciante. Haviam pontos com água geladinha e o melhor, lixeiras para depositar os copos e não ter de jogá-los no chão (o que é bastante comum em eventos desse tipo).

Mulheres podem muito

Duas coisas me marcaram bastante durante a Venus Half Marathon. A primeira foi que, na reta final, havia um grupo de "taiko" formado apenas por mulheres. O "taiko", que em japonês significa "tambor", é um instrumento com diversos usos, incluindo religioso e teatral. Mas, no Japão feudal, ele era usado para incentivar os soldados a marchar para as batalhas e ainda amedrontar os inimigos.

A escolha desse grupo perto da linha de chegada, portanto, não foi aleatória. E deu certo. O som forte e constante da percussão me deu arrepios e um gás para o "sprint" final. Percebi que outras mulheres que estavam caminhando ao meu lado também sentiram a energia eletrizante trazida pelo som dos taikos e voltaram a correr.

A segunda coisa que me chamou a atenção foi a presença de muitas crianças, bebês inclusive, encontrando suas mães ao fim da prova. Haviam companheiros, companheiras e até avós cuidando dos pequenos enquanto suas guerreiras estavam correndo.

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Depois da prova e com a medalha na mão, recebemos lanchinho com iogurte proteico e frutas
Depois da prova e com a medalha na mão, recebemos lanchinho com iogurte proteico e frutas Imagem: Acervo pessoal

Vi uma mãe correndo com uma espécie de carrinho adaptado para a filha com deficiência cruzar a linha de chegada com lágrima nos olhos. Vi um namorado levando flores para a namorada quando ela cruzou a linha de chegada.

Como mãe de duas crianças pequenas, fiquei emocionada de ver até onde nós, mulheres, somos capazes de chegar com uma boa rede de apoio. E como é realizador poder ser "múltipla" e viver algo para si além de ser uma mãe, profissional, amiga e esposa/companheira.

Segui para pegar minha medalha sentindo de novo aquele quentinho no coração, o orgulho de ser mulher batendo forte no peito. E já comecei a pensar: será que ano que vem consigo finalizar 10 km? Se depender da história de superação das minhas antepassadas, com certeza.

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