Dexametasona: o que é, para que serve, como usar e efeitos colaterais

Há décadas, a dexametasona vem sendo usada para aliviar inflamações e tratar diversas condições que demandam ação imunossupressora, como artrite reumatoide, alergias, asma, entre outras.
Confira abaixo todas as informações sobre esse medicamento.

O que é dexametasona?

A dexametasona é um glicocorticoide sintético que faz parte da classe dos corticosteroides. Conhecido também como corticoide ou esteroide, esse tipo de fármaco tem alto poder anti-inflamatório e imunossupressor, e é uma versão sintética dos hormônios produzidos pelas glândulas suprarrenais (adrenais), localizadas na parte superior dos seus rins.

Quando usar a dexametasona?

Esse medicamento só pode ser vendido sob prescrição médica. Dada a ampla utilização desse fármaco, ele é considerado seguro. Contudo, é importante que você faça o uso racional desse remédio, ou seja, utilize-o de forma apropriada, na dose certa e por tempo determinado.

Dadas as características desse medicamento, suas doses devem ser personalizadas. Por isso, evite automedicar-se, sob pena de trazer prejuízos para a sua saúde.

Para que serve a dexametasona?

Geralmente, a medicação é utilizada quando se deseja obter efeitos anti-inflamatórios e imunossupressores (redução da atividade de defesa orgânica), em tratamentos intensivos e de curto prazo, nas seguintes situações:

  • Doenças reumatológicas
  • Distúrbios da pele
  • Problemas oculares, glandulares, pulmonares, gastrointestinais, neurológicos e sanguíneos
  • Alergias
  • Transplantes
  • Tumores

O seu médico também poderá indicar o uso da dexametasona em outros quadros clínicos, tais como os que você vê a seguir, que são definidos como usos off label:

  • Falta de apetite (durante cuidados paliativos)
  • Controle dos efeitos colaterais da quimioterapia
  • Compressão da medula espinhal decorrente de metástase
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Como a dexametasona funciona?

A dexametasona deve ser usada apenas sob prescrição médica
A dexametasona deve ser usada apenas sob prescrição médica Imagem: smolaw11/Getty Images/iStockphoto

A dexametasona possui excelentes farmacocinética e farmacodinâmica, ou seja, é bem absorvida e distribuída pelos tecidos, até que efetua sua ação que é impedir que as células liberem substâncias que produzem respostas imunológica e alérgica, o que controla a inflamação excessiva.

Assim, ela atua reduzindo a circulação de glóbulos brancos no sangue (leucócitos), relacionados às defesas do corpo, o que é útil nas doenças autoimunes, e até no tratamento de certos tumores. Depois disso, o medicamento é metabolizado pelo fígado e excretado pela via renal. As explicações são de Gracinda Maria D'Almeida e Oliveira, professora da PUC-PR.

Conheça as apresentações disponíveis

Decadron® é um exemplo de marca de referência da dexametasona. Mas você também pode encontrar as versões genéricas.

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Confira as apresentações disponíveis:

  • Comprimidos - 0,5 mg, 0,75 mg e 4 mg
  • Elixir - 0,5 mg
  • Creme dermatológico - 1,0 mg
  • Solução nasal - 0,5 mg
  • Colírio - 1,0 mg
  • Injetável (intramuscular, intra-articular ou intravenosa) - 2 mg, 4 mg

As formas injetáveis são encontradas como fosfato dissódico de dexametasona, e as de via oral como acetato de dexametasona.

O remédio começa a fazer efeito rapidamente e, a depender da apresentação, isso se dará de 10 a 60 minutos, e até 2 horas após o seu uso.

O esquema de tratamento é sempre personalizado e deve respeitar critérios como idade, gravidade e tipo da doença ou sintoma.

O que acontece se eu abandonar o tratamento?

Amouni Mourad, assessora técnica do CRF-SP e professora do curso de farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP), esclarece que quando o tratamento é prolongado, a sua interrupção, sem orientação médica, pode trazer graves consequências. Isso porque os corticoides inibem a produção hormonal.

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"No caso da dexametasona, o resultado é um quadro de insuficiência suprarrenal. Se a terapia é longa e utiliza doses altas, o medicamento não deve ser suspenso de forma abrupta. Ele precisa ser reduzido ao longo do tempo [desmame], o que pode ocorrer durante meses." "A meta é dar tempo à adaptação do organismo", explica a especialista.

Quais os benefícios da dexametasona? E as desvantagens do seu uso?

Destacam-se, entre suas vantagens, a potência e o rápido efeito quando as ações anti-inflamatória e imunossupressora são necessárias. Além disso, a dexametasona é considerada segura e pode ser utilizada em uma extensa variedade de condições clínicas.

Uma desvantagem é que, quando é usada de forma crônica, para descontinuá-la é necessária a gradual redução das doses. Outros aspectos negativos são a maior suscetibilidade a infecções e a necessidade de abster-se da exposição a viroses como catapora, varicela e sarampo. Tais doenças poderiam ser potencialmente mais graves em indivíduos em tratamento com a dexametasona.

Por fim, o fármaco tem uso restrito entre atletas. A depender do tipo de apresentação e administração, ele pode ser considerado dopagem (dopping).

Quais são as contraindicações da dexametasona?

A dexametasona não pode ser usada por pessoas que sejam alérgicas (ou tenham conhecimento de que alguém da família tenham tido reação semelhante) ao seu princípio ativo ou a qualquer outro medicamento da mesma classe, bem como a algum componente de sua fórmula. Lembre-se de falar com seu médico ou dentista antes de usá-la.

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Além disso, o medicamento deve ser usado com precaução, e sempre com o rigoroso acompanhamento médico, nos seguintes casos:

  • Diabetes
  • Úlcera estomacal
  • Doenças psiquiátricas
  • Osteoporose
  • Problemas no fígado ou rins
  • Insuficiência cardíaca ou no período pós infarto
  • Hipertensão
  • Catarata ou glaucoma
  • Herpes ativo
  • Tuberculose
  • Doenças inflamatórias intestinais
  • Trombose (pacientes com risco para)
  • Hipotireoidismo
  • Epilepsia
  • Hipocalemia

Crianças e idosos podem usar dexametasona?

Crianças podem usar a dexametasona desde que haja indicação médica
Crianças podem usar a dexametasona desde que haja indicação médica Imagem: iStock

Sim, desde que acompanhados por um médico ou dentista, especialmente se devem fazer uso prolongado do medicamento. Nesses casos, os pequenos precisam ser monitorados em seu crescimento e desenvolvimento.

Bebês prematuros com problemas pulmonares não devem ser medicados com a dexametasona.

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Os demais cuidados quanto às doses, contraindicações e seguimento do tratamento, da mesma forma, se aplicam a esses grupos.

Estou grávida? Posso usar dexametasona?

Se você é gestante ou está amamentando, fale com seu médico ou dentista antes do início do tratamento com esse fármaco.

Cabe ao especialista considerar a relação de risco x benefício para cada paciente, individualmente. Isso porque, até o momento, não existem estudos de segurança que assegurem que ele possa ser usado sem que haja prejuízo para a mãe e o bebê.

Qual é a melhor forma de consumir a dexametasona?

Para que não haja risco de má absorção do medicamento, a melhor forma de consumir os comprimidos é com água.

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Existe uma melhor hora do dia para usar esse medicamento?

Não. O importante é que ele seja ingerido na forma indicada pelo médico, sem interrupção do esquema de doses antes do final do tratamento.

O que faço quando esquecer de tomar o remédio?

Tome assim que lembrar e reinicie o esquema de uso do medicamento. É desaconselhado tomar doses em dobro de uma vez para compensar a dose que foi esquecida.

Se você é daqueles que sempre se esquecem de tomar seus remédios, use algum tipo de alarme para lembrar-se.

Quais são os possíveis efeitos colaterais?

Como todo medicamento, a dexametasona pode causar efeitos colaterais, embora nem todas as pessoas possam apresentar essas reações. A mais comum delas, porém, é a insônia.

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Confira outros exemplos de efeitos comuns identificados:

  • Acne
  • Indigestão
  • Aumento de peso
  • Aumento de apetite
  • Náusea
  • Anorexia
  • Vômitos
  • Agitação
  • Depressão
  • Edema
  • Cicatrização lenta
  • Hipertensão
  • Aumento de glicemia

Exemplos de efeitos raros:

  • Supressão adrenal
  • Arritmia
  • Mudanças espermatogênicas
  • Glaucoma
  • Hipocalemia
  • Edema pulmonar
  • Aumento de pressão craniana

Interações medicamentosas

Alguns medicamentos não combinam com a dexametasona e podem alterar, reduzir ou potencializar efeitos, mesmo os colaterais. Avise seu médico se estiver consumindo algum dos seguintes fármacos:

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  • Outros tipos de anti-inflamatórios
  • Antiácidos
  • Anticonvulsivos
  • Antibióticos
  • Anticoagulantes
  • Antidiabéticos
  • Medicamentos para HIV
  • Diuréticos
  • Anticoncepcionais à base de estrogênio
  • Vacinas com vírus atenuados (exemplos: MMR e BCG)

Fale também com um médico, farmacêutico ou até o cirurgião antes de usar esse medicamento se você faz uso contínuo de algum fitoterápico, suplemento ou vitaminas.

Interação alimentar

Um estudo de revisão de literatura de autoria de Márcia Lombardo e Jaqueline Kalleian Eserian, do Instituto Adolfo Lutz, mostrou que a dexametasona pode reduzir a absorção ou elevar a excreção de vitaminas e nutrientes como as vitaminas A, C, B1, B6, o cálcio, fósforo, magnésio e zinco.

A recomendação é que a ingestão de frutas se dê nos intervalos das refeições para reduzir esse efeito. A pesquisa foi publicada pela revista Infarma, do CFF (Conselho Federal de Farmácia).

Há interação com exames laboratoriais?

Sim, mas é mais comum entre as pessoas que fazem uso crônico desse medicamento. Os testes que poderão apresentar alterações são os seguintes:

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  • Teste de nitroazultetrazol (NBT)
  • Teste de tempo de protrombina
  • Teste de nível de cálcio

Antes de submeter-se a esses exames, lembre-se de comunicar ao médico ou ao atendente do laboratório sobre o uso da dexametasona.

Qual a relação entre dexametasona e covid-19?

Até a presente data, não existem medicamentos ou terapias aprovadas pelas autoridades médicas e sanitárias para prevenir ou tratar a covid-19. As estratégias que os médicos dispõem buscam prevenir infecções e controlar o avanço e a gravidade da doença, incluindo o uso de oxigênio e ventilação mecânica quando indicados.

Apesar disso, "as abordagens terapêuticas no momento utilizadas —mesmo que de forma experimental— preveem o uso concomitante de alguns medicamentos. Corticosteroides compõem o arsenal terapêutico, mas somente em situações específicas e com doses adequadas", afirma Homero Luis de Aquino Palma, médico de família e clínico do Home Care da Amil.

Entre as diretrizes de tratamento da covid-19, do Instituto de Saúde dos Estados Unidos (NHS-CDC), consta a manutenção da terapia com o medicamento nas hipóteses de uso crônico (doenças reumatológicas, asma, DPOC etc.), até entre as grávidas.

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Neste caso, o medicamento deve ser mantido somente se houver benefício para o feto, ressalvada a modificação dessas diretrizes diante da ponderação daquilo que for menos prejudicial ao bebê e à gestante.

Em casa, coloque em prática as seguintes dicas:

  • Fique atento à validade do medicamento, que é de 24 meses. Considere que, após aberto, essa validade é ainda menor;
  • Mantenha o medicamento sempre dentro da própria embalagem e nunca descarte a bula até terminar o tratamento;
  • Leia atentamente a bula ou as instruções de consumo do medicamento;
  • Utilize o medicamento na posologia indicada;
  • Ingira os comprimidos inteiros. Evite esmagá-los ou cortá-los ao meio --eles podem ferir sua boca ou garganta. A exceção é a indicação médica;
  • Escolha um local protegido da luz e da umidade para armazenamento. Cozinhas e banheiros não são a melhor opção. A temperatura ambiente deve estar entre 15°C e 30°C;
  • Guarde seus remédios em compartimentos altos ou trancados. A ideia é dificultar o acesso das crianças;
  • Procure saber quais locais próximos da sua casa aceitam o descarte de remédios. Algumas farmácias e indústrias farmacêuticas já têm projetos de coleta;
  • Evite o descarte no lixo caseiro ou no vaso sanitário. Frascos vazios de vidro e plástico, bem como caixas e cartelas vazias podem ir para a reciclagem comum.

O Ministério da Saúde mantém uma cartilha (em pdf) para o Uso Racional de Medicamentos, mas você pode complementar a leitura com a Cartilha do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos - FIOCRUZ) (em pdf) ou do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo (também em pdf). Quanto mais você se educa em saúde, menos riscos você corre.

Fontes: Gracinda Maria D'Almeida e Oliveira, professora da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), com experiência na área de farmacologia, atuando principalmente na atenção farmacêutica, assistência farmacêutica, farmacêuticos e farmacovigilância; Homero Luis de Aquino Palma, médico de família e clínico do Home Care da Amil, responsável pela Saúde do Homem do DAPS (Departamento de Atenção Primária à Saúde), da Prefeitura Municipal de Curitiba, professor da Escola de Medicina da PUC-PR; Amouni Mourad, farmacêutica, professora do curso de farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP) e assessora técnica do CRF-SP e Cynthia França Wolanski Bordin, farmacêutica e professora adjunta das Faculdades de Farmácia, Enfermagem, Odontologia e Medicina da PUC-PR, com mestrado em Tecnologia Química e doutorado em Ciências da Saúde. Revisão técnica: Cynthia França Wolanski Bordin.

Referências: CDC (Centers for Disease Control and Prevention); NIS (National Institute of Health) - Covid-19 Treatment Guidelines; Donavon B. Johnson; Brendan Kelley. Dexamethasone.StatPearls. NCBI. 2020; Nicola Veronese et alii. Use of Corticosteroids in Coronavirus Disease 2019 Pneumonia: A Systematic Review of the Literature. Front. Med. 2020; Ahad Aljebab et alii. Systematic review of the toxicity of short-course oral corticosteroids in children. Arch Dis. Child BMJ. 2016.

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