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'Sentia cólica e descobri que meu útero foi perfurado pelo DIU duas vezes'

De VivaBem, em São Paulo

02/12/2024 05h30

A produtora de conteúdo Vivianne Miranda, 32, passou por um grande susto. Seu DIU perfurou a parede do útero duas vezes em dois anos. Mesmo fazendo a colocação sedada e no centro cirúrgico, ela conta que teve problemas com o método contraceptivo. A VivaBem, Miranda contou sua história.

'Sentia cólica, mas estava acostumada'

"Eu tomava pílula anticoncepcional e não estava me fazendo bem, então a endócrino recomentou que eu parasse e sugeriu que eu tentasse o DIU.

Fui à ginecologista e conversei sobre a possibilidade. Ela topou e marcamos de colocá-lo no centro cirúrgico em julho de 2022. Tinha medo de sentir dor e, como o convênio cobria o procedimento com anestesia, preferi fazer dessa forma.

Achei também que seria mais seguro, já que o médico teria acesso a aparelhos de vídeo, algo que não existe no consultório. Quando acordei, estava com muita dor. Tomei remédios fortes e não melhorava, eu nem conseguia entender o motivo.

Os dias foram passando e a dor diminuiu até sumir.

Passados 30 dias, fiz o exame de imagem e ele mostrou que o DIU estava no lugar. Eu sentia cólica, mas, como estava acostumada, não pensei que poderia ter alguma coisa a ver com meu método contraceptivo.

Primeira perfuração

Seis meses após a colocação do DIU, fiz outro exame de imagem. Desta vez, o resultado mostrava que existia uma perfuração no meu útero. A médica do ultrassom chegou a me perguntar se eu estava sentindo muita dor. Eu expliquei que não, só uma cólica. Eu não tinha me ligado, mas, como não menstruava mais, não deveria sentir cólica.

Como a médica que colocou meu DIU parou de atender pelo convênio, procurei outro profissional. Ele olhou meus exames e disse que não precisávamos tirar o DIU, bastava reposicioná-lo. Fui mais uma vez para o centro cirúrgico. Ele foi reposicionado e segui a vida.

Quando fui fazer meus exames de rotina, no ano seguinte, mais uma vez o técnico do ultrassom me disse que o DIU estava perfurando a parede do meu útero. Era a segunda vez. Não estava entendendo o que acontecia comigo.

Procurei uma terceira ginecologista —isso em um intervalo de dois anos. A médica me explicou que isso podia ter acontecido por um erro, mas não dava para afirmar com certeza.

Dessa vez, eu precisaria retirar o DIU, esperar que a laceração cicatrizasse para depois pensar em colocá-lo novamente. Então, fui mais uma vez para o centro cirúrgico fazer a retirada. Foi muito rápido. Em cerca de 20 minutos, estava de volta ao quarto.

Traumas

A ginecologista me explicou que não corro o risco de ter sequelas. Basta cicatrizar o machucado que está tudo bem. Que eu poderia tentar colocá-lo novamente em alguns meses.

Não tenho coragem de colocar de novo porque tenho medo de passar pelo mesmo que passei."

O que dizem os médicos

Perfurações não são consideradas erros médicos, diz a ginecologista e obstetra Larissa Cassiano. "São complicações possíveis de acontecer durante a inserção do DIU. Nós, médicos, estamos vendo um aumento de mulheres que usam esse método e, por consequência, também um aumento de histórias de perfurações", explica.

A especialista explica que esse tipo de lesão é mais comum quando o DIU é hormonal. "O insertor faz uma certa pressão na hora da colocação e isso pode favorecer a perfuração."

A hora da colocação é a mais perigosa, avalia o ginecologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz Rogerio Felizi. "O músculo do útero é um tecido frágil. Com excesso de força ou colocação inadequada essa lesão pode aparecer."

Além da força na colocação, a anatomia da paciente pode ser outro fator "Como aconteceu duas vezes, com profissionais diferentes, diria que tem mais chances de ser uma questão do corpo do que de um erro médico", diz Cassiano.

Há ainda uma terceira possibilidade que pode levar à perfuração. "É bem raro, mas o DIU pode migrar dentro das tubas uterinas. Já vimos acontecer, mas é muito difícil", diz Felizi.

No Brasil, há aumento na busca por esse método. Cassiano explica que, há oito anos, um hospital podia chegar a colocar 10 DIUs por mês. Hoje, coloca-se esse número em um único dia. "Por isso vemos mais perfurações." Apesar de problemas eventuais, como o que aconteceu com Miranda, é bom lembrar que, de um modo geral, o DIU é extremamente seguro e eficaz, tem algumas vantagens sobre outros métodos, como as pílulas, e ainda permite que a mulher passe vários anos sem se preocupar com a contracepção.

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