Muito além de uma 'despesa': investir em saúde aumenta PIB e renda familiar
Investir recursos em saúde causa um efeito multiplicador, com benefícios ao PIB (Produto Interno Bruto) e à renda familiar, mostra estudo realizado pela consultoria HTopics, com apoio da Roche Farma Brasil, e ao qual VivaBem teve acesso com exclusividade.
A análise mostra que R$ 1 investido gera retornos de R$ 1,61 ao PIB e de R$ 1,23 adicional às rendas familiares. Dados também apontam que famílias que ganham até R$ 1.200, valor menor que um salário mínimo, são as que mais usam o sistema de saúde (82%).
Esse rastreio ajuda a ver o direcionamento estratégico de recursos à saúde como um investimento, e não despesa. Isso porque asseguraria o acesso a um sistema de saúde qualificado, enquanto beneficia a economia —com medidas como a geração de mão de obra e a redução de gastos com doenças evitáveis, por exemplo.
"Há o senso comum de avaliar a aplicação de recursos em saúde como uma concessão para proteger a saúde da população, em um caráter de despesa. Mas no estudo trazemos elementos para mostrar que aplicar em saúde é muito estratégico para o país", afirma Everton Macêdo, coordenador técnico do levantamento e pesquisador da Universidade de Paris e do Instituto Nacional de Pesquisa Médica e de Saúde, ambos na França.
Uma vez que você consegue trazer uma cadeia virtuosa, você assegura não somente toda a questão de direito social à saúde, que temos como garantia constitucional no Brasil, como promove ganho à economia.
Everton Macêdo, coordenador técnico do estudo
O que explica o efeito multiplicador na economia?
É uma lógica simples: a tendência é que mais pessoas busquem o sistema de saúde, caso este esteja fortalecido após o investimento de recursos estratégicos. Naturalmente, sobe a demanda por serviços necessários para ele funcionar (sejam eles de saúde ou não).
"Aumenta-se a produção de produtos e medicamentos que vão ser consumidos em hospitais, a demanda por mão de obra e toda uma cadeia que vai se beneficiar disso: como a produção daquilo que é usado na prestação desses serviços, mas não é necessariamente produzido pelo setor de saúde", exemplifica Macêdo.
Dessa forma, há um aquecimento circular da economia, em que um setor demanda do próximo até a produção final. Uma das consequências é o retorno ao PIB, mostrado no estudo, mas não só. Esses investimentos ajudam ainda na prevenção de saúde e reduzem os custos com eventuais complicações, evitando aposentadorias precoces e favorecendo a economia —uma vez que há maior população ocupada no país.
Segundo o pesquisador, ver o investimento pelas óticas da proteção social e do crescimento econômico é uma das premissas de países que alcançaram bons níveis de desenvolvimento. "É importante ter em mente que nenhum país em desenvolvimento contínuo fez isso sem ter investimento estratégico em um sistema de saúde forte", diz.
Quando avaliamos como o acesso a serviços de qualidade influencia não apenas o bem-estar individual, mas também a redução de desigualdades e a geração de riqueza, conseguimos construir uma narrativa orientada por evidências. Lorice Scalise, presidente da Roche Farma Brasil
Recortes podem ajudar a distribuir recursos
O estudo indica que 82% dos recursos em saúde pública são consumidos por famílias que ganham até R$ 1.200. "Isso mostra o quanto essas famílias são dependentes de um sistema de saúde que gere proteção social e financeira, ou seja, que evite que gastem com saúde e, consequentemente, sejam empurradas para abaixo da linha da pobreza", explica o pesquisador.
Esse dado é um exemplo das investigações futuras que a equipe planeja fazer. Para a análise, o grupo projetou uma matriz de contabilidade, que cruza diferentes indicadores sociais, econômicos e de saúde. O próximo passo é buscar cenários estratificados, capazes de mostrar como o efeito multiplicador se comporta em cada um, além de ajudarem a nortear a melhor distribuição de recursos.
"Estudos desse tipo permitem identificar pontos de alavancagem no sistema, demonstrando como investimentos estruturados podem desencadear efeitos positivos em cadeia. Por exemplo, ao reduzir gastos das famílias com saúde, criam-se novas possibilidades para consumo e investimentos pessoais, que influenciam outros setores econômicos", diz Scalise.