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'Desci rua com carrinho, bati a cabeça e tive parte do crânio retirada'

De VivaBem, em São Paulo

06/12/2024 05h30

O corretor Eduardo Santos, 45, sofreu um acidente enquanto brincava em um carrinho de rolimã. Numa curva, girou com o veículo e bateu a cabeça no asfalto. Uma parte do crânio dele precisou ser retirada para dar espaço ao cérebro inchado.

Depois de alguns procedimentos e infecção, ele fez a última cirurgia de reconstrução do crânio em setembro deste ano. A VivaBem, ele contou essa história.

'Apaguei e me levaram ao hospital'

"Em julho de 2019, estávamos em um almoço de comemoração em família. Comecei a brincar com sobrinhos e cunhados num tipo de carrinho de rolimã, com duas rodas pequenas atrás e uma de bike na frente.

Eu já tinha descido algumas vezes e, numa delas, a gente comentou: 'vamos ver se o asfalto é duro'. Na curva, a gente acabou girando e bati a cabeça no asfalto.

Apaguei no momento, meu cunhado me pegou e levou até em casa e eu não me lembro disso, mas, segundo minha esposa, eu acordei querendo lavar a cabeça e meus cunhados me levaram ao hospital.

Era domingo e fui socorrido num hospital de Barueri. O médico deu uns pontos, falou que eu estava bem e podia ir para casa, mas minha esposa disse não. Fiquei, passei mal durante a noite e, na segunda, fui atendido por outros médicos, que fizeram uma craniectomia.

Tiraram uma calota [parte] do crânio, porque devido ao impacto, o cérebro inchou e precisava de espaço. Com o tempo, voltaria ao normal para colocar a prótese.

Fiquei uns dez dias em coma induzido e praticamente quatro meses na UTI. Os médicos calculam que bati no chão a 80 km/h.

Minha ficha só caiu depois de 60 dias. Fiquei um período deitado, tudo era feito na cama, inclusive banho. Não podia ir ao banheiro porque estava com sonda também.

Quando tiraram a sonda e coloquei os pés no chão, comecei a chorar, perguntando se tinha perdido os movimentos, mas não: era devido ao tempo que fiquei deitado. Aos poucos, voltei a sentir. Nesse período, perdi 16 kg de massa muscular.

Prótese teve de ser retirada

Eduardo ficou um período sem parte do crânio durante o processo para a reconstrução Imagem: Arquivo pessoal

Saí do hospital com uma prótese, mas fiz de duas a três cirurgias porque os pontos abriram e dava para ver a prótese. Foi quando procurei outros caminhos e conheci os médicos Alessandra dos Santos e Anderson Souza.

Fiz uma ressonância, que constatou que eu deveria retirar a prótese, porque tinha dado infecção, o que foi feito em março de 2020. Naquele mês, também tive uma convulsão. Fiquei cerca de 40 dias internado para tomar antibiótico e fazer raspagem no crânio.

Depois de liberado, fiquei sem prótese. Antes de colocar uma nova, precisei fazer tratamento de foliculite no couro cabeludo, em que tomei roacutan por um ano. Depois, tinha que usar expansores para esticar a pele da cabeça.

Eduardo com o expansor inflado para esticar a pele Imagem: Arquivo pessoal

Mas tive problemas com o convênio para autorizar a nova prótese. Entrei com uma liminar, ganhei, mas o plano entrou com contestação e foi para segunda instância. Então, minha filha falou de criar uma vaquinha para pagar a cirurgia.

Com sete dias, pedi para interromper, porque o barulho nas redes sociais deu certo. A gente custeou uma parte com o dinheiro que tinha e o restante foi com a vaquinha.

Coloquei os expansores em fevereiro de 2024 e no dia 2 de setembro fiz a cirurgia. Fiquei um dia e meio na UTI e tive alta no dia 8. Quando vi o resultado, tinha ficado bom demais.

Recomeço

Eu era representante comercial quando sofri o acidente. Devido ao período hospitalizado, me desativei das fábricas que trabalhava. No final de 2021, eu migrei para a corretagem de imóveis.

Devagar, comecei a trabalhar, me mudei de São Paulo para a Bahia e graças a Deus não tenho do que me queixar. Eu tomo anticonvulsivo desde o período do acidente, é raro eu ter dor de cabeça e, vez ou outra, sinto latejar, mas não é dor."

Cérebro tem que inchar à vontade

O neurocirurgião Anderson Rodrigo Souza, cofundador do CEM (Centro de Excelência em Medicina) de São Paulo, foi quem atendeu Eduardo após os procedimentos em Barueri. Ele disse que a pancada na cabeça do corretor fez o cérebro inchar. É um processo natural que precisa ocorrer, por isso a necessidade de tirar uma parte do crânio.

"O cérebro fica dentro de uma 'caixa'. Quando começa a inchar, o osso não deixa. Se aumentar muito a pressão dentro da cabeça, o sangue não chega ao cérebro e ele entra em sofrimento. Então é feita a craniectomia descompressiva", explicou.

Mas nem sempre o procedimento é necessário. Tem sensores que medem direta e indiretamente a pressão dentro da cabeça. Dependendo do valor, não há necessidade de tirar a calota craniana.

Pele precisou ser esticada

A falta do osso faz a pele encurtar com o tempo, afirma o médico. Quando Eduardo colocou uma nova prótese com Souza, a pele havia ficado muito tensionada, então a solução foi usar expansores.

O neurocirurgião compara o expansor a uma câmara de bicicleta. O dispositivo esvaziado é colocado sob a pele por meio de um pequeno corte. Periodicamente, o paciente vai ao consultório para que se injete um tipo de soro ali dentro a fim de que inche. "O expansor vai crescendo com o tempo, e a pele vai se adaptando. Foi criada pele em excesso para que sobrasse", explica.

Prótese de até R$ 150 mil

As próteses custam de R$ 50 mil a 150 mil. Elas podem ser feitas de titânio, PEEK (polieteretercetona) ou, no caso dele, de metilmetacrilato. Pode-se fazer primeiro um protótipo no computador ou, em alguns casos, à mão mesmo, se a peça for pequena.

Cirurgia geralmente é rápida, menos de duas horas. A prótese é encaixada como uma peça de Lego, e pequenas presilhas são afixadas para mantê-la no lugar. Segundo Souza, o material "não dá muita reação, mas nunca se torna parte integrada do organismo".

Prótese tem vida útil, mas nem sempre precisa ser trocada. Depois de dez a 15 anos, há um risco de o metilmetacrilato trincar, pois não tem a mobilidade e resistência do osso. Mas, se não causar danos, pode ser mantido.

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