Doença misteriosa e fatal no Congo ainda não tem explicação; OMS fez alerta
Colaboração para VivaBem
09/12/2024 15h41
O sudoeste da República Democrática do Congo (RDC) sofre com um surto de uma doença misteriosa e fatal com sintomas semelhantes aos de uma pneumonia, alertou neste domingo (8) a Organização Mundial de Saúde.
Especialistas tanto da OMS quanto das autoridades congolesas ainda não conseguiram encontrar a causa da doença ou identificar como ela se espalha até o momento, mas já a consideram de importância nacional e trabalham com urgência para determinar o que acontece na região. No início de 2020, um surto de uma pneumonia misteriosa em Wuhan, na China, deu início à pandemia de covid-19.
A doença que assusta o Congo
Até quinta (5), 406 casos já haviam sido registrados em Panzi, na província de Kwango. O surto teve início em 24 de outubro, segundo a OMS, com pacientes com sintomas de febre, dor de cabeça, tosse, coriza e dores no corpo. Todos os casos mais graves aconteceram em pacientes com desnutrição grave.
Número de mortes pode ser maior do que já calculado. A OMS confirma 31 mortes já registradas, a maioria entre crianças menores de cinco anos. No entanto, autoridades congolesas informaram à agência Associated Press na terça (3) que investigam a possibilidade de que 67 a 143 mortes estejam associadas à doença em um período de apenas duas semanas.
A mortalidade estimada pode ser quatro vezes maior do que a da covid-19. A taxa, segundo a OMS, seria de 7,6%, enquanto o índice associado à covid-19 no Brasil até 2023 era de 1,9%, segundo a Universidade Johns Hopkins. No entanto, é importante destacar que, no início da pandemia, este número chegou a 15%.
Pico do surto aconteceu na semana de 9 de novembro, acredita a OMS. O surto ainda está em curso. O Ministério da Saúde da RDC anunciou no dia 5 que investiga diversas mortes que não aconteceram em hospitais ou postos de saúde. Estes números ainda devem ser adicionados à estatística e ajudar a caracterizar melhor como a doença tem progredido.
Meninas são as mais afetadas. Em Panzi, crianças e adolescentes até 14 anos representam 64,3% de todos os casos. Pacientes até cinco anos são 53% de todos os doentes, aqueles entre cinco e nove anos são 7,4% e os com 10 a 14 anos são 3,9% deles. 71% das mortes já registradas aconteceram entre menores de 15 anos, sendo 54,8% deles menores de cinco anos de idade. 59,9% de todos os pacientes são do sexo feminino.
Já há 145 casos confirmados de pacientes maiores de 15 anos. Deles, nove morreram —a maioria, em vilarejos.
Autoridades descartam primeiro a associação com outras doenças. Segundo os dados levantados até agora, 96,5% dos pacientes têm febre, 87,9% têm tosse, 60,9%, fadiga e 57,8% tiveram coriza. Mas entre as pessoas que morreram, os sintomas mais frequentes foram dificuldade para respirar, anemia e sinais de desnutrição aguda. Como estes sintomas são frequentemente associados a outras doenças, especialistas fazem exames laboratoriais para excluir casos relacionados a sarampo, gripe, pneumonia aguda, síndrome hemolítico-urêmica por E. coli, covid-19 e malária. É possível ainda que a situação de emergência tenha contribuição de mais de uma doença.
Área onde casos se concentram é rural e de acesso remoto. Por isso, o acesso à estrutura de diagnósticos, vacinação para outras doenças já conhecidas e tratamento disponível é difícil e escasso. Associado a questões de segurança na área que prejudicam o abastecimento, a OMS classificou como alto o risco da doença para a comunidade.
Anemia pode ser causa ou efeito. Outra linha pesquisada pela OMS e pelo Ministério da Saúde do Congo é se a anemia vista nos casos fatais da doença é efeito dela ou se seria uma condição anterior —ou seja, indivíduos extremamente mal nutridos desenvolveriam a anemia que possibilitaria a evolução para um quadro mais grave da doença, levando à morte.
Corpos devem ser isolados. O vice-governador da província, Rémy Saki, veio a público recomendar que a população evite o contato com corpos de pessoas mortas pela doença misteriosa, para evitar o contágio. Ele ainda pediu para parceiros nacionais e internacionais enviarem suprimentos médicos para a região, segundo a AP.
República Democrática do Congo já lida com epidemia de mpox. País tem mais de 47 mil casos suspeitos da doença e mais de mil mortes potencialmente associadas a ela, segundo a OMS.