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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


'Médicos mandavam para casa': ela descobriu câncer após 4 meses de sintomas

Paloma ficou 4 meses com sintomas até descobrir tipo de leucemia Imagem: Arquivo pessoal

De VivaBem, em São Paulo

10/12/2024 05h30

Aos 19 anos, Paloma Teodoro fazia faculdade de enfermagem e trabalhava em um escritório de administração. Era novembro de 2022, e a rotina talvez justificasse as enxaquecas frequentes que sentia.

No hospital, a orientação era tomar analgésicos, mas logo outros sintomas surgiram: fraqueza no corpo, tontura, enjoos e dores nas pernas. Também não conseguia comer e, quando se alimentava, vomitava. A suspeita era de que estivesse grávida.

"Eles só passavam o teste de gravidez, que dava negativo, ou remédios na veia e me mandavam para casa", relata a VivaBem. Um dia a menstruação dela começou, mas não acabou. Era hemorragia vaginal.

Mas os profissionais que a atenderam em Planaltina de Goiás, onde mora, não investigaram mais a fundo. Em outra ocasião, Paloma foi levada pela mãe ao pronto-socorro da cidade, onde coletaram sangue e constataram anemia. Ela foi transferida de emergência para uma cidade próxima para fazer transfusão de sangue.

O nível de hemoglobina aumentou, mas o de plaquetas baixou muito. De novo, ela foi transferida para um hospital em Sobradinho, no DF, onde foi avaliada por hematologista e fez um mielograma, exame que avalia a medula óssea.

Depois de quatro meses dos primeiros sintomas e 40 dias desde a hemorragia, foi confirmada uma leucemia linfoblástica aguda (LLA), um tipo de câncer do sangue e da medula óssea. No Hospital Universitário de Brasília, ela começou o tratamento.

Sintomas se confundem

Os sinais e sintomas clássicos da leucemia são fraqueza, palidez, manchas roxas pelo corpo, sangramento e febre inexplicável (sem infecções). Um exame de sangue também acusa baixa de plaquetas e aumento de glóbulos brancos, mas de células sem a devida função.

"É uma célula chamada blasto, que é a célula leucêmica e não se comporta como uma célula de defesa normal", explica o hematologista José Ulysses Amigo Filho.

Sem proteção adequada, o organismo fica vulnerável a outras doenças, como pneumonia. Por isso o médico diz que, "para diagnosticar uma leucemia, precisa pensar em leucemia", porque os sintomas iniciais podem sugerir outro cenário.

Além disso, há casos em que os sintomas clássicos não aparecem e o hemograma completo não está tão alterado.

Transplante era urgente

Na condição de Paloma, o transplante de medula óssea era urgente. Ela tem uma anormalidade cromossômica, chamada cromossomo Filadélfia, que torna a leucemia linfoblástica aguda de alto risco. Isso significa alta mortalidade e baixa probabilidade de cura com tratamentos convencionais.

O transplante aumentaria a chance de cura e de sobrevida sem progressão da doença. Mas, enquanto a equipe buscava uma pessoa doadora compatível, ela iniciou ciclos de quimioterapia.

Com o tratamento inicial, as dores de cabeça e nas pernas diminuíram, mas o cabelo caiu, ela ficou inchada, sentia enjoos e dor intensa na região da medula. "Eu tinha que tomar doses altas de tramal", conta.

O pior era ficar internada. Foram 22 dias no hospital para o primeiro ciclo de quimioterapia. Depois da alta, ia e voltava todos os dias para as sessões. Em seguida, ia três vezes por semana.

Embora estivesse em tratamento e à espera do transplante, Paloma diz que "não tinha nem um pouco de esperança". Num primeiro momento, a equipe médica optou por aguardar uma medula mais compatível com ela, pois os pais tinham 50% de compatibilidade cada e os irmãos ainda crianças não podiam ser doadores.

"Achei que ia demorar horrores e que aquela seria minha vida por um bom tempo."

Hospital de referência

Ao se tornar uma candidata ao transplante de medula óssea, Paloma foi incluída no projeto Mais TMO, da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

A iniciativa ocorre no âmbito do Proadi-SUS (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde).

Por meio de uma parceria público-privada entre o Ministério da Saúde e seis hospitais filantrópicos, o programa busca aprimorar os serviços do sistema público de saúde e expandir o atendimento.

Nos últimos 15 anos, os hospitais Albert Einstein, Sírio-Libanês, BP e Moinhos de Vento foram responsáveis por mais de 5,6 mil transplantes na rede pública. Também fazem parte do Proadi o Hcor e o Oswaldo Cruz.

Faz um ano que Paloma fez transplante de medula óssea Imagem: Arquivo pessoal

A equipe da BP entrou em contato com Paloma para avisar que fariam o transplante, com o pai dela como doador.

Esse foi um momento "estranho", ela descreve, pois não via o genitor desde os 13 anos. "Mas não tinha opção. Fomos os três para São Paulo."

A família recebeu auxílio financeiro, passagens aéreas e hospedagem na Casa Hope, mas por questões pessoais preferiram alugar um local privado depois de 20 dias na cidade. Uma vaquinha online aberta antes arrecadou dinheiro para comprar itens necessários, como roupas de frio.

O hematologista Amigo Filho, que coordena o projeto de transplantes da BP e acompanhou Paloma, explica que um doador 100% compatível é ideal porque o resultado pós-transplante é melhor. Mas, dependendo do caso, a escolha é pelo melhor doador para o momento. E foi assim com a estudante, pois a doença não espera.

Reset no sistema

Foram dois meses e meio em São Paulo até o transplante. Antes do procedimento, ela fez cinco sessões de quimioterapia e duas de radioterapia para garantir um organismo "limpo".

O transplante é como uma transfusão de sangue, mas com efeitos colaterais imediatos. Ela conta que vomitou e sentiu na boca um gosto que lembrava pamonha.

Uma hora e meia depois, o procedimento foi concluído, e Paloma ficou 14 dias internada até a "pega" da medula. Voltou para a cidade natal seis meses após chegar a São Paulo, porque teve intercorrências a serem tratadas.

Já em casa, no começo sentia muito cansaço e tinha medo de a doença voltar, de passar por tudo de novo. "Achei que nunca mais ia ter minha vida de volta." Mas o tempo traz novas perspectivas.

Em 9 de agosto, fez um ano que ela renasceu, até mesmo porque precisou tomar de novo as vacinas da infância, e segue nas consultas de acompanhamento a cada 45 dias.

"Hoje vou para onde quero, voltei a estudar, estou trabalhando, comecei a morar sozinha com meu noivo e me sinto saudável."

Como ser doador de medula óssea

Quem não tem doadores no círculo familiar precisa de doadores não aparentados.

Para se voluntariar, é preciso ir ao hemocentro mais próximo (consulte aqui), fazer o cadastro no Redome (Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea) e coletar uma amostra de sangue (10 ml) para exame de tipagem HLA (sigla em inglês para antígeno leucocitário humano).

Os requisitos para ser doador de medula óssea são:

  • Ter entre 18 e 35 anos de idade (a doação pode ser feita até os 60 anos)
  • Levar documento de identificação oficial com foto
  • Estar em bom estado geral de saúde
  • Não ter nenhuma doença impeditiva para cadastro e doação de medula óssea (veja lista)

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