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Anestesia, 'furadeira' com broca e dreno: passo a passo da cirurgia de Lula

De VivaBem, em São Paulo

11/12/2024 05h30

O presidente Lula passou por uma trepanação na madrugada desta terça-feira (10). A cirurgia, para drenar sangramentos nas membranas que revestem o cérebro, consiste em fazer um pequeno furo no crânio.

O passo a passo da trepanação

Há uma preparação antes de ir à sala de cirurgia. Tomografias ou ressonâncias magnéticas localizam a hemorragia intracraniana, também chamada de hematoma ou coágulo. Isso é essencial porque orienta o local exato em que a incisão deverá ser feita.

Na sala de operação, o paciente recebe anestesia geral, para não se mexer. Não há monitoramento especial das atividades cerebrais, apenas de sinais como pressão e batimentos cardíacos, comuns em procedimentos em que a pessoa fica desacordada.

Vem na sequência a fase da perfuração. Primeiramente, a pele é cortada com um bisturi.

Já para serrar o osso, usa-se um aparelho parecido com uma "furadeira". Há uma espécie de broca na ponta, que faz a perfuração de centímetros (em geral, de três a quatro centímetros). "É preciso furar no meio do hematoma para drenar de forma adequada", orienta o neurocirurgião Roger Schmidt Brock, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP).

Imagem: Arte UOL | Revisão: Mauricio Panicio, neurocirurgião

O sangue esguicha ao acessar o coágulo. "O sangue jorra para fora, como se fosse uma bexiga cheia que estoura e começa a esvaziar", explica Wuilker Knoner Campos, presidente da SBN (Sociedade Brasileira de Neurocirurgia).

Depois, uma sonda acessa o local e realiza a lavagem com soro fisiológico, que ajuda a retirar o sangue acumulado. Por fim, um dreno é colocado no cérebro do paciente. Ele funciona como um pequeno cateter, capaz de "sugar" o sangue e resíduos que ficaram por ali. O processo é necessário porque nas bordas desses coágulos existem cápsulas que propiciam novos sangramentos e que não são tiradas porque já estão grudadas ao cérebro.

Imagem: Arte UOL | Revisão: Mauricio Panicio, neurocirurgião

É preciso reconstruir o osso?

Não é necessário, porque a perfuração do osso cicatriza sozinha sem impacto ao paciente. Isso é possível pelo fato de o furo ser pequeno. Em procedimentos maiores, como a craniotomia, o pedaço tirado é recolocado no crânio. "Na craniotomia tira-se um fragmento ósseo para colocar de volta. De forma leiga, é como destampar e tampar uma panela. Já a trepanação é só o furinho", explica o neurocirurgião Mauricio Panicio, mestre pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Como é pequena [a incisão], não faz diferença no dia a dia do paciente, porque há cicatrização na capa do osso. Se o paciente precisar de uma nova drenagem, devido a outro sangramento na região, dá para utilizar o mesmo caminho.
Wuilker Knoner Campos, presidente da SBN

Por isso, no final da cirurgia, são feitos pontos apenas para fechar as incisões do bisturi. O paciente é levado para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva), onde fica em observação até a retirada do dreno.

Antes da retirada do dreno, os exames de imagem são repetidos para ver se o sangramento não voltou. Se tudo está certo, o cateter é retirado ali mesmo, sem necessidade de nova cirurgia —há uma cordinha em sua ponta, que fica para fora do crânio.

Imagem: Arte UOL | Revisão: Mauricio Panicio, neurocirurgião

Lula teve sintomas clássicos do problema

Lula passou uma semana com sonolência e quatro dias com forte dor de cabeça, apurou a colunista Thais Bilenky, do UOL. Esses são dois sintomas clássicos da hemorragia intracraniana diagnosticada no presidente.

Também são alertas: náuseas, vômitos e alterações no corpo, como perder os movimentos de um dos lados. O risco é maior em pessoas idosas, que usam remédios anticoagulantes e com doenças que favorecem sangramentos.

Lula está bem e não tem sequelas, informaram os médicos em coletiva de imprensa. O petista ficará 48 horas em observação na UTI por precaução. Marcos Stavale, que integra a equipe, disse que ele terá "vida normal" e poderá viajar de avião "sem restrições" após se recuperar. A previsão é que o presidente retorne a Brasília no início da próxima semana.

Foto mostra ferimento na nuca de Lula após queda em outubro Imagem: Gabriela Biló / Folhapress

Queda no banheiro do Palácio da Alvorada, em 19 de outubro, causou hemorragia. Segundo os médicos, essa é um tipo de complicação "comum, principalmente em pessoas de maior idade". "Às vezes ela nem se lembra da queda, e o hematoma pode aparecer meses depois. Como fizemos o acompanhamento, percebemos que o hematoma aumentou", afirmou o médico Rogério Tuma.

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