Anestesia, 'furadeira' com broca e dreno: passo a passo da cirurgia de Lula
O presidente Lula passou por uma trepanação na madrugada desta terça-feira (10). A cirurgia, para drenar sangramentos nas membranas que revestem o cérebro, consiste em fazer um pequeno furo no crânio.
O passo a passo da trepanação
Há uma preparação antes de ir à sala de cirurgia. Tomografias ou ressonâncias magnéticas localizam a hemorragia intracraniana, também chamada de hematoma ou coágulo. Isso é essencial porque orienta o local exato em que a incisão deverá ser feita.
Na sala de operação, o paciente recebe anestesia geral, para não se mexer. Não há monitoramento especial das atividades cerebrais, apenas de sinais como pressão e batimentos cardíacos, comuns em procedimentos em que a pessoa fica desacordada.
Vem na sequência a fase da perfuração. Primeiramente, a pele é cortada com um bisturi.
Já para serrar o osso, usa-se um aparelho parecido com uma "furadeira". Há uma espécie de broca na ponta, que faz a perfuração de centímetros (em geral, de três a quatro centímetros). "É preciso furar no meio do hematoma para drenar de forma adequada", orienta o neurocirurgião Roger Schmidt Brock, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP).
O sangue esguicha ao acessar o coágulo. "O sangue jorra para fora, como se fosse uma bexiga cheia que estoura e começa a esvaziar", explica Wuilker Knoner Campos, presidente da SBN (Sociedade Brasileira de Neurocirurgia).
Depois, uma sonda acessa o local e realiza a lavagem com soro fisiológico, que ajuda a retirar o sangue acumulado. Por fim, um dreno é colocado no cérebro do paciente. Ele funciona como um pequeno cateter, capaz de "sugar" o sangue e resíduos que ficaram por ali. O processo é necessário porque nas bordas desses coágulos existem cápsulas que propiciam novos sangramentos e que não são tiradas porque já estão grudadas ao cérebro.
É preciso reconstruir o osso?
Não é necessário, porque a perfuração do osso cicatriza sozinha sem impacto ao paciente. Isso é possível pelo fato de o furo ser pequeno. Em procedimentos maiores, como a craniotomia, o pedaço tirado é recolocado no crânio. "Na craniotomia tira-se um fragmento ósseo para colocar de volta. De forma leiga, é como destampar e tampar uma panela. Já a trepanação é só o furinho", explica o neurocirurgião Mauricio Panicio, mestre pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Como é pequena [a incisão], não faz diferença no dia a dia do paciente, porque há cicatrização na capa do osso. Se o paciente precisar de uma nova drenagem, devido a outro sangramento na região, dá para utilizar o mesmo caminho.
Wuilker Knoner Campos, presidente da SBN
Por isso, no final da cirurgia, são feitos pontos apenas para fechar as incisões do bisturi. O paciente é levado para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva), onde fica em observação até a retirada do dreno.
Antes da retirada do dreno, os exames de imagem são repetidos para ver se o sangramento não voltou. Se tudo está certo, o cateter é retirado ali mesmo, sem necessidade de nova cirurgia —há uma cordinha em sua ponta, que fica para fora do crânio.
Lula teve sintomas clássicos do problema
Lula passou uma semana com sonolência e quatro dias com forte dor de cabeça, apurou a colunista Thais Bilenky, do UOL. Esses são dois sintomas clássicos da hemorragia intracraniana diagnosticada no presidente.
Também são alertas: náuseas, vômitos e alterações no corpo, como perder os movimentos de um dos lados. O risco é maior em pessoas idosas, que usam remédios anticoagulantes e com doenças que favorecem sangramentos.
Lula está bem e não tem sequelas, informaram os médicos em coletiva de imprensa. O petista ficará 48 horas em observação na UTI por precaução. Marcos Stavale, que integra a equipe, disse que ele terá "vida normal" e poderá viajar de avião "sem restrições" após se recuperar. A previsão é que o presidente retorne a Brasília no início da próxima semana.
Queda no banheiro do Palácio da Alvorada, em 19 de outubro, causou hemorragia. Segundo os médicos, essa é um tipo de complicação "comum, principalmente em pessoas de maior idade". "Às vezes ela nem se lembra da queda, e o hematoma pode aparecer meses depois. Como fizemos o acompanhamento, percebemos que o hematoma aumentou", afirmou o médico Rogério Tuma.