Trepanação: procedimento feito em Lula já foi usado para 'tirar demônios'

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi submetido a uma trepanação na madrugada desta terça-feira (10), em São Paulo, para drenagem de uma hemorragia intracraniana. O procedimento, realizado no Hospital Sírio-Libanês, consiste na abertura de perfurações no crânio para colocação de um dreno.

Considerada pelos médicos contemporâneos como uma cirurgia simples, a trepanação é um método que remonta a milhares de anos e já carregou crenças religiosas, fazendo parte de rituais como sessões de exorcismo.

O que é a trepanação

A técnica é menos invasiva do que a craniotomia, procedimento cirúrgico com objetivo semelhante. "A diferença entre uma trepanação e uma craniotomia é o tamanho do orifício que se faz para acessar a parte intracraniana. A trepanação é um pequeno orifício, que se faz com uma broca, no tamanho de uma moeda de 1 real, mais ou menos. Já na craniotomia temos que abrir uma área maior do crânio para acessar mais estruturas", explica Wuilker Knoner Campos, presidente da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia.

Este tipo de cirurgia é utilizado para tratar diversas condições neurológicas. Entre os cenários em que o procedimento pode ser indicado, estão casos de tumores cerebrais, hemorragias intracerebrais —como a de Lula —, lesões traumáticas, infecções e malformações vasculares. A hemorragia recente do presidente é decorrente de uma queda em outubro deste ano. Na ocasião, caiu no banheiro do Palácio da Alvorada e precisou levar cinco pontos. Segundo os responsáveis pelo caso, Lula está estável.

A trepanação e o exorcismo

A trepanação já foi vista como a solução para vários tipos de doenças, principalmente aquelas encaradas como transtornos mentais. De acordo com a BBC, a técnica era usada na pré-história e na Antiguidade para "eliminar os maus espíritos e demônios do paciente".

À época, acreditava-se que os demônios que causavam a dor em questão sairiam do corpo do paciente por meio dos buracos feitos no crânio. Só mais tarde foram descobertas vantagens terapêuticas práticas no procedimento.

As eventuais "manifestações demoníacas" eram motivo suficiente para que o paciente fosse submetido à trepanação. Crânios com perfurações que indicam a realização do procedimento já foram encontrados ao redor do mundo, como no Peru e na França.

Ilustração detalhe "kit de trepanação" de um cirurgião naval do século XVII
Ilustração detalhe "kit de trepanação" de um cirurgião naval do século XVII Imagem: Reprodução/The Mit Press Reader
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Na Europa, puderam ser comprovados mais de 450 casos de trepanação durante o Neolítico [divisão cronológica entre 10.000 a.C. e 3000 a.C BBC

A sobrevivência ao procedimento, ainda conforme dados da emissora britânica, era de aproximadamente 70%. Durante a Idade Média, no entanto, a taxa de sucesso nesse tipo de intervenção era de praticamente zero, ou seja, quase todos os pacientes submetidos à trepanação morriam após a cirurgia.

A trepanação é conhecida como "o procedimento cirúrgico mais antigo conhecido pela humanidade", segundo o portal The Mit Press Reader, da universidade de Cambridge. Diversos crânios já foram encontrados com buracos arredondados de cinco a sete centímetros de largura, intrigando arqueólogos e cirurgiões sobre como a técnica era realizada antigamente. "Os crânios tinham bordas recortadas, como se tivessem sido raspados com uma pedra afiada. Ainda mais notável, foram encontrados discos de crânio do mesmo tamanho dos buracos nesses locais", diz o portal.

Ao longo da história, arqueólogos já encontraram crânios com perfurações que indicam que a trepanação é uma técnica utilizada há centenas de anos
Ao longo da história, arqueólogos já encontraram crânios com perfurações que indicam que a trepanação é uma técnica utilizada há centenas de anos Imagem: Reprodução/World Neurosurgery/The Sun

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