Pesquisas sugerem que muitos de vocês, depois de terem lido sobre um elefante rosa aqui, já imaginaram ver um.
Entretanto, algumas pessoas, como nós, têm afantasia — não conseguem visualizar algo mentalmente. Portanto, ficamos um pouco confusos com a ideia de que outras pessoas podem imaginar ver coisas que não existem.
Em um novo estudo, descobrimos evidências de que o problema do elefante rosa não é universal. Algumas pessoas - inclusive pessoas com afantasia - podem bloquear pensamentos visuais involuntários de suas mentes.
O que é afantasia?
Pessoas com afantasia não conseguem imaginar voluntariamente que estão vendo coisas com "os olhos da mente". Portanto, se você nos pedir para não pensarmos em um elefante rosa, não o visualizaremos, porque não podemos.
A afantasia é normalmente descrita como um déficit. Quando as pessoas ficam sabendo que têm afantasia, geralmente ficam chateadas, pois percebem que outras pessoas conseguem fazer coisas que elas não conseguem. Pode ser bom imaginar ver os personagens descritos em um livro, por exemplo, ou visualizar um ente querido ausente.
No entanto, déficits frequentemente são equilibrados por benefícios. Há pesquisas que sugerem que as pessoas com afantasia (ou afantasistas, como às vezes somos chamados) podem ter uma resistência maior a pensamentos intrusivos involuntários.
Outra maneira de ver isso é que os afantasistas são parte de uma diversidade natural das mentes humanas, com pessoas que têm diferentes capacidades de visualização. Enquanto os afantasistas não têm esta capacidade, a maioria das pessoas teria uma capacidade média, e um pequeno número de pessoas teria uma capacidade de visualização extremamente forte.
Imagens mentais vívidas e visualizações involuntárias
Em nosso novo estudo, analisamos as ligações entre a intensidade da imaginação visual das pessoas e sua tendência a visualizar, mesmo quando tentam não fazê-lo. As pessoas com imaginação visual vívida tinham maior probabilidade de ter visualizações involuntárias, e pudemos prever esses resultados medindo a atividade cerebral.
Algumas pessoas talvez gostem de poder imaginar cenas detalhadas sempre que desejarem. No entanto, isso parece vir ao custo de não serem capazes de interromper ou bloquear essas experiências.
Já a maioria das pessoas produz imagens menos vibrantes, mas parece ser mais capaz de reprimir esses pensamentos.
Os afantasistas têm mentes pacíficas?
É improvável que os afantasistas tenham visualizações involuntárias. Isso significa que eles têm mentes mais "pacíficas"?
Em nosso estudo, as pessoas que relataram produzir imagens fracas tinham menos probabilidade de imaginar ver coisas nas quais estavam tentando não pensar. No entanto, elas eram mais propensas a relatar divagações mentais.
Se isso descreve os afantasistas, em vez de visualizarmos coisas nas quais estamos tentando não pensar, podemos voltar nossa mente para outros pensamentos, como o que há para o jantar. Portanto, não teríamos mentes mais tranquilas, apenas uma resistência a pensar sobre coisas que estamos tentando deixar de lado.
Se os afantasistas não visualizam, eles têm devaneios?
Com base em nossa própria experiência, podemos confirmar que pelo menos alguns afantasistas têm mentes que vagueiam. Mas quando nossas mentes vagueiam, nenhum de nós imagina ver coisas. Nossas experiências são diferentes.
Quando a mente de Derek divaga, ele se imagina ouvindo e participando de conversas puramente sonoras. Como os devaneios estão normalmente associados à visão, ele não percebeu até muito recentemente que essas conversas imaginárias poderiam ser descritas como sua experiência deste "sonhar acordado".
Já Loren não consegue visualizar ou imaginar coisas auditivas. Ela experimenta seus pensamentos como diferentes sensações de textura e sensações imaginárias de movimento - e é isso que ela experimenta quando sua mente divaga.
Os afantasistas são mais resistentes ao trauma de reviver eventos?
Talvez. Embora nossas evidências sugiram que os afantasistas são resistentes a visualizações involuntárias, são necessárias mais pesquisas para descobrir se somos resistentes a reviver traumas, ou se eles simplesmente desencadeiam diferentes tipos de experiências imaginárias.
O que está claro é que Siodmak estava errado. Se você disser às pessoas que elas não devem pensar em um elefante cor-de-rosa, alguns de nós ficarão felizes em tirar esse animal da cabeça e voltar seus pensamentos para outros assuntos. O que há para o jantar?
*Derek Arnold, Professor da Escola de Psicologia da Universidade de Queensland e Loren N. Bouyer, Doutoranda em Neurociência na Universidade de Queensland.
Este artigo é republicado do The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o original aqui.
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