Por que a cirurgia de Lula foi no topo da cabeça se ele bateu a nuca?

O presidente Lula, 79, publicou um vídeo nesta sexta-feira (13) em que caminha no Hospital Sírio-Libanês após ter alta da UTI. Ele, que passou por um procedimento para conter um sangramento intracraniano, apareceu com um curativo no topo da cabeça —a hemorragia ocorreu após Lula sofrer uma queda e bater a nuca.

Curativo após trepanação

No vídeo, é possível ver um curativo no topo da cabeça, no lado esquerdo, após o presidente passar por um procedimento chamado trepanação. A trepanação foi feita para conter um sangramento decorrente da queda do presidente em outubro, quando ele machucou a nuca. O sangramento se formou na frente do crânio, no lobo frontal —o nome técnico é hematoma subdural frontoparietal.

A diferença entre o local da queda e a repercussão do sangramento acontece porque os coágulos não são lesões diretas no cérebro, mas nas meninges (as camadas que revestem o órgão). São elas: dura-máter, logo abaixo do crânio; aracnoide, no meio; e pia-máter —veja a divisão mais abaixo.

Quando você bate a cabeça e chacoalha para frente a para trás, o sangramento não é no local da batida. Ele é causado pelo chacoalhão do cérebro.
Marcos Stavale, neurocirurgião da equipe do presidente e que aparece com ele no vídeo

É possível ver o machucado da cirurgia no lado esquerdo da cabeça de Lula em foto publicada pela primeira-dama Janja
É possível ver o machucado da cirurgia no lado esquerdo da cabeça de Lula em foto publicada pela primeira-dama Janja Imagem: Reprodução/Instagram

Por que isso acontece?

É preciso entender que o cérebro não fica colado ao crânio. "É como se o cérebro estivesse em um copo com água, quase boiando", exemplifica Wuilker Knoner Campos, presidente da SBN (Sociedade Brasileira de Neurocirurgia). O copo é a caixa craniana, e a água é o líquor (um líquido transparente entre a dura-máter e a pia-máter, que faz o cérebro "flutuar" e, inclusive, reduz os impactos de batidas).

"Vai e vem" do cérebro causa o sangramento. Esse movimento de aceleração e desaceleração do órgão durante o impacto ajuda a romper veias das meninges, que são bastante vascularizadas. De forma simples, o que determina a formação dos coágulos é o impacto do movimento do cérebro.

Quando você bate a cabeça, o cérebro chacoalha, vai para frente e para trás. Esse 'vai e vem' súbito rompe veias pequenas que emendam o cérebro com a dura-máter. Wuilker Knoner Campos, presidente da SBN

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Arte ilustra local do hematoma de Lula, no lobo frontal
Arte ilustra local do hematoma de Lula, no lobo frontal Imagem: Arte UOL | Revisão: Mauricio Panicio, neurocirurgião

Atrofia cerebral em idosos favorece sangramentos. "Conforme atrofia, o cérebro vai desgrudando da parede [meninges], que é como uma capa com pequenas veias, que esticam", explica Knoner Campos. Por isso, nessa faixa etária há mais risco de formação dos coágulos. Jovens que usam anticoagulantes também estão mais suscetíveis.

Não é raro o sangramento demorar para surgir. As hemorragias são agudas (no momento do impacto), ou crônicas (tardias), como a do presidente Lula, que levou quase dois meses para surgir após a queda dele no banheiro do Palácio da Alvorada. "Há um sangramento ao longo do tempo com efeito osmótico, puxando cada vez mais líquido, por isso cresce", explica o neurocirurgião.

Coágulo pressiona o cérebro, e os sintomas surgem. Os mais comuns são dor de cabeça e sonolência, relatados por Lula. Também são alertas: náuseas, vômitos e alterações no corpo, como perder os movimentos de um dos lados.

A cronologia da internação de Lula

Lula foi internado na segunda-feira (9). O presidente passou mal na noite de segunda-feira e exames indicaram a hemorragia intracraniana. Ele foi transferido de Brasília para o Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.

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Presidente passou por cirurgia na madrugada de terça-feira. Foi feita uma trepanação, um pequeno furo no crânio (de 3 a 4 centímetros), com um aparelho que lembra uma "furadeira", para retirar o sangue acumulado. Depois, o paciente fica com um dreno para "sugar" o sangue residual, até que a secreção saia limpa.

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Imagem: Arte UOL | Revisão: Mauricio Panicio, neurocirurgião

Lula fez um procedimento complementar para reduzir o risco de novos sangramentos na quinta. Chamada de embolização das artérias meníngeas, a técnica é não invasiva e funciona como um "cateterismo do cérebro" para interromper o fluxo de sangue.

O dreno foi retirado na quinta, e Lula deixou a UTI na sexta. A alta do presidente é prevista para a próxima semana. Nas redes sociais, ele disse estar "firme e forte".

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Imagem: Arte UOL | Revisão: Mauricio Panicio, neurocirurgião

Peço que fiquem tranquilos. Estou firme e forte! Andando pelos corredores com Marcos Stavale, o neurocirurgião responsável pelo meu procedimento, conversando bastante, me alimentando bem e, em breve, pronto para voltar para casa e seguir trabalhando e cuidando de cada família brasileira.
Lula, em postagem nas redes sociais

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