Estudo aponta 3 idades críticas em que o envelhecimento cerebral acelera
Colaboração para o UOL
16/12/2024 05h30
Nova pesquisa revela que mudanças proteicas no cérebro se intensificam em três estágios diferentes do envelhecimento humano, marcando períodos de risco elevado para doenças neurodegenerativas e declínios cognitivos.
O que aconteceu
Cientistas destacaram três idades específicas marcadas por mudanças significativas nas proteínas cerebrais: 57, 70 e 78 anos. Essa descoberta baseou-se na análise de ressonâncias magnéticas de quase 11 mil adultos entre 45 e 82 anos, realizada pelo Primeiro Hospital Afiliado da Universidade de Zhengzhou, na China. O trabalho foi publicado na revista Nature.
Essas idades foram associadas ao aumento dos níveis de 13 proteínas específicas, ligadas ao envelhecimento cerebral acelerado. "A concentração dessas proteínas pode ser um sinal de alerta para indicar momentos críticos de mudanças cerebrais", afirmou Wei-Shi Liu, pesquisador sênior do estudo.
Detalhes sobre cada idade
Aos 57 anos: Essa idade foi marcada como o primeiro pico de alterações, com início de elevações nos níveis de proteínas ligadas à demência e distúrbios motores. Isso reflete o começo de processos moleculares que indicam envelhecimento precoce do cérebro.
Aos 70 anos: É o segundo momento crítico identificado. A intensidade das mudanças proteicas aumenta, e essa fase é associada ao risco maior de doenças cerebrovasculares, como AVC, e declínios na cognição.
Aos 78 anos: Este é o terceiro e último pico de alterações observado no estudo. Nessa fase, as mudanças proteicas se tornam mais pronunciadas, frequentemente associadas a condições avançadas de neurodegeneração, como Alzheimer e Parkinson, e à diminuição geral das capacidades cerebrais.
Proteínas e envelhecimento
Entre as 13 proteínas identificadas, o BCAN (Brevican) e o GDF15 se destacaram por suas ligações a condições neurodegenerativas. O BCAN está associado a doenças como demência e acidente vascular cerebral, enquanto o GDF15 é conhecido por seus papéis no envelhecimento geral. "Esses achados reforçam a importância de compreender os mecanismos moleculares por trás dessas mudanças para desenvolver intervenções direcionadas", explicou Liu.
A lacuna entre a idade cerebral estimada e a idade real pode indicar envelhecimento cerebral acelerado. Essa "idade cerebral" foi calculada por meio de modelos de inteligência artificial que cruzaram dados de ressonância magnética com análises proteicas. Os resultados sugerem que o aumento nos níveis dessas proteínas pode ser usado como biomarcador para identificar o envelhecimento cerebral precocemente.
Com o aumento da população idosa, intervenções precoces para preservar a saúde cerebral se tornam cruciais. Em 2050, espera-se que mais de 1,5 bilhão de pessoas tenham mais de 65 anos.
Estudos como o conduzido por Liu podem ajudar a mitigar os efeitos do envelhecimento, fornecendo alvos terapêuticos e estratégias de prevenção. "Estamos apenas arranhando a superfície ao explorar como essas proteínas influenciam a saúde cerebral", comentou Nicholas Seyfried, especialista independente que analisou os resultados, à NewScientist.
Essas descobertas se somam a outros estudos que identificaram idades críticas para mudanças no corpo humano. Pesquisas anteriores da Universidade de Stanford, por exemplo, identificaram que o metabolismo, a função renal e a regulação imunológica sofrem alterações significativas aos 44 e 60 anos.
As descobertas sobre "ondas cerebrais" não são apenas "inesperadas", mas "vão contra praticamente tudo o que se sabe sobre o envelhecimento cerebral". A declaração é de Mark Mattson , professor adjunto de neurociência na Faculdade de Medicina Johns Hopkins, à Live Science.
A equipe reconheceu várias limitações do estudo em seu artigo. Por exemplo, eles usaram apenas dados de pessoas mais velhas que eram principalmente de ascendência europeia, porque seus dados foram extraídos do banco de dados UK Biobank. Mais pesquisas são necessárias para ver se as proteínas flutuam da mesma forma em indivíduos de diferentes raças e etnias.
Também ainda não se sabe de onde no cérebro essas 13 proteínas vêm, acrescentou Mattson. "Até que os níveis dessas proteínas no cérebro sejam estabelecidos, não ficará claro se elas realmente desempenham um papel no envelhecimento cerebral", disse ele.
Mudanças no estilo de vida podem ajudar a desacelerar os efeitos do envelhecimento cerebral. Dieta equilibrada, prática regular de exercícios e controle de peso são estratégias sugeridas pelos pesquisadores. Além disso, futuros tratamentos podem focar no direcionamento das proteínas identificadas para retardar ou reverter o envelhecimento cerebral. "Precisamos explorar se essas mudanças proteicas podem ser moduladas por fatores como dieta ou exercícios, o que abriria novas perspectivas terapêuticas", enfatizou Seyfried.