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O que acontece no seu corpo quando você vive cansado

Imagem: Suellen Lima/Arte UOL

Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

17/12/2024 05h32

Sentir cansaço é uma queixa que só aumenta nos últimos tempos e em todas as faixas etárias. O que muita gente não sabe é que esse desconforto funciona como uma espécie de alarme que busca prevenir os efeitos colaterais do maior gasto de energia, mesmo entre pessoas consideradas saudáveis.

Assim, cansaço não é doença, mas um sintoma associado a variados fatores do estilo de vida, como a privação do sono, o estresse, a presença de enfermidades e até o luto.

Na maioria das vezes, a solução para esse mal-estar reside em mudanças que tragam maior equilíbrio às atividades diárias. No entanto, quando a exaustão persiste, apesar dessas medidas, é hora de investigar as possíveis causas.

O cansaço se situa entre as 5 queixas mais frequentes nos consultórios médicos.

Ele afeta 30% a 50% da população em geral.

2 em cada 10 pessoas que tiveram covid têm o sintoma na forma crônica.

Cerca de 50% das pessoas que reclamam de cansaço recebem algum diagnóstico no prazo de 1 ano. Dados publicados pelo Jornal da Associação Médica Canadense.

Saiba de onde ele vem

A sensação de estar exausto todo o tempo tem origens variadas, mas a fadiga também pode estar presente sem que se encontre uma causa determinada. Confira as razões mais frequentes por trás desse desconforto:

Viver "perigosamente"

Os especialistas consultados esclarecem que fatores relacionados ao estilo de vida estão no topo da lista das possíveis causas do cansaço extremo.

A falta do consumo de nutrientes essenciais, o sedentarismo, a perda da qualidade do sono e excessos no cotidiano (muito trabalho/muita farra) provocam uma interação que atrapalha o processo de descanso físico e mental.

Isso significa que a falta de exercícios físicos e dieta equilibrada, a contínua privação de sono e uma agenda sempre lotada estão presentes entre pessoas que se sentem exaustas todo o tempo.

Consumo excessivo de cafeína, álcool e outras substâncias também colaboram para o quadro.

Saúde mental no limite

Genética, experiências da vida, educação e fatores ambientais podem ter efeitos em nossa saúde mental e influenciam o modo como respondemos às situações.

A depender do estágio da vida e dos desafios enfrentados por cada pessoa, além da presença ou não de rede de suporte, o cansaço pode revelar o excesso de estresse e quadros como a depressão, ansiedade e até luto.

Observada a persistência do cansaço nessas circunstâncias, é importante adotar técnicas de gerenciamento do estresse ou relaxamento, buscar por uma avaliação de um profissional —que poderá oferecer estratégias capazes de ajudar a lidar melhor com as emoções no dia a dia.

No ambiente do trabalho, jornadas excessivas (especialmente em atividades que exijam muita concentração), críticas exageradas e pressão para atender metas e demandas, além de viagens contínuas, estão associadas à exaustão.

Pausas durante o horário do expediente, ambientes favoráveis ao diálogo e políticas de monitoramento da fadiga no trabalho podem minimizar ou prevenir o problema.

Presença de enfermidades

Infecções como gripes e covid têm o cansaço como possível sintoma. Veja outros quadros de saúde que também podem provocar tal manifestação:

Deficiência nutricional (ferro, vitamina B 12, etc.)

Distúrbios do sono (insônia e apneia obstrutiva do sono)

Diabetes descompensado

Hipotireoidismo

Câncer

Doenças renais (insuficiência renal)

Enfermidades autoimunes (lúpus, por exemplo)

Uso de determinados medicamentos

Algumas classes de medicações podem ter o cansaço como efeito colateral. São exemplos:

Anti-histamínicos (difeniramina, meclizina)

Antidepressivos - geralmente os tricíclicos (amitriptilina, doxepina e imipramina, etc.)

Antidepressivos da classe dos benzodiazepínicos em altas doses (alprazolan, clonazepam, diazepam, clonazepam, diazepam, etc.)

Relaxantes musculares (ciclobenzaprina, carisoprodol, etc.)

Entre pacientes oncológicos em tratamento quimioterápico ou radioterápico, o cansaço é um efeito esperado. A razão para isso é que os medicamentos utilizados nessas terapias agem no metabolismo energético muscular, predispondo à redução da capacidade de gerar força.

As muitas faces do cansaço

Imagem: iStock

Ele geralmente é descrito pelos pacientes como uma sensação de fraqueza, falta de energia —antes, durante e depois— das atividades do dia a dia, além de sonolência.

Mas mau humor, alterações na memória e na capacidade de tomar decisões, dificuldade de comunicação, problemas de coordenação, também são relatados.

Outras manifestações menos óbvias são a dor de cabeça, letargia, tontura, visão turva ou mudanças na percepção visual e necessidade de mais horas de sono nos dias de folga.

Diferentes classificações

A depender do tempo de sua presença, o cansaço pode ser assim classificado:

Agudo - tem duração de cerca de 1 mês

Prolongado - de 1 a 6 meses

Crônico - mais de 6 meses

O quadro agudo tende a desaparecer com repouso adequado, alimentação saudável, gasto energético equilibrado, bem como o tratamento de eventuais doenças de base.

Quando a fadiga é prolongada ou crônica, as estratégias terapêuticas envolvidas podem incluir, além das já mencionadas, o uso de medicamentos, acupuntura, terapia cognitivo comportamental e exercícios regulares.

Será que é a síndrome da fadiga crônica?

Esta doença é caracterizada por uma exaustão persistente e extenuante que nunca passa, mesmo quando há períodos de descanso, exatamente o contrário do esperado no cansaço comum.

O quadro limita sensivelmente as atividades do dia a dia.

O desconforto piora após o esforço físico ou mental.

Podem também estar presentes alterações cognitivas (confusão e raciocínio lento), dores musculares e articulares, distúrbios do sono e do sistema imunológico.

Hipersensibilidade a estímulos.

Sintomas gripais.

Fraqueza ou tremores.

Quando procurar ajuda

Os especialistas sugerem que você observe a persistência do sintoma ao longo dos dias, e também o quanto ele tem impedido as atividades normais do seu cotidiano.

Caso a sensação não passe por mais de 2 a 3 semanas, procure um médico para uma avaliação. A medida é essencial quando também estão presentes outras manifestações, como por exemplo, a perda de peso.

Possíveis complicações

Quando o cansaço dura no tempo, pode haver limitação de atividades físicas e sociais.

No ambiente profissional, há o aumento da probabilidade de ter problemas na execução das tarefas, cometer erros e sofrer acidentes.

Dirigir, por exemplo, pode se tornar uma atividade pouco segura.

Dá para prevenir?

Como o cansaço é um sintoma relacionado a variadas doenças e condições de saúde, nem sempre é possível preveni-lo.

Em situações menos graves, porém, algumas medidas de autocuidado podem reduzir esse desconforto, tais como:

Aposte na boa hidratação

Invista na melhoria da qualidade do sono

Evite o consumo de itens estimulantes como álcool, tabaco e cafeína, que podem prejudicar seu sono

"Descasque mais e desembale menos" na hora das refeições, evitando alimentos ultraprocessados

Prefira alimentos que garantam energia para o dia todo como grãos integrais

Coloque mais movimento na sua rotina, não só dedicando-se à prática de exercícios regulares: caminhe mais ao longo do dia, levante mais vezes durante o período do trabalho

Pratique técnicas de relaxamento, como a meditação

Inclua atividades prazerosas no seu dia a dia: vale uma conversa com conhecidos, uma leitura ou mesmo escutar música

Organize seu tempo para fazer pausas ao longo da jornada de trabalho

Fontes: Hildene Melo, endocrinologista, chefe da Unidade de Urgência e Emergência do HU-Univasf (Hospital Universitário Doutor Washington Antônio de Barros da Universidade Federal do Vale do São Francisco), que integra a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares); Keith Sato Urbinati, doutora em tecnologia em saúde, professora da PUC-PR, coordenadora do Laboratório de Fisiologia do Exercício e Esporte da mesma instituição; Maiara Luiza Araújo, médica clínica geral, formada pelo Centro Universitário Unifacisa (Campina Grande-PB), atua no pronto-atendimento do Help (Hospital de Ensino e Laboratório de Pesquisa). É também pós-graduanda em dermatologia pelo Centro Unifacisa/Help. Revisão técnica: Hildene Melo.

Referências:

Latimer KM, Gunther A, Kopec M. Fatigue in Adults: Evaluation and Management. Am Fam Physician. 2023.
Yoon JH, Park NH et. al. The demographic features of fatigue in the general population worldwide: a systematic review and meta-analysis. Front Public Health. 2023. Disponível em https://doi.org/10.3389/fpubh.2023.1192121

Mariano, K.O.P. et al. Análise da fadiga relatada e das forças musculares respiratória e periférica em indivíduos com câncer em tratamento. Revista Brasileira de Cancerologia. 2020. Disponível em http://dx.doi.org/10.32635/2176-9745.RBC.2020v66n4.1051

Son CG. Differential diagnosis between "chronic fatigue" and "chronic fatigue syndrome". Integr Med Res. 2019. Disponível em https://doi.org/10.1016/j.imr.2019.04.005

Nijrolder I et. al. Diagnoses during follow-up of patients presenting with fatigue in primary care. CMAJ. 2009. Disponível em https://doi.org/10.1503/cmaj.090647

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