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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Estudo que popularizou a cloroquina contra covid-19 é 'despublicado'

Didier Raoult ficou conhecido como 'Dr. Cloroquina' por defender tratamentos sem boas evidências científicas Imagem: Christophe Simon/Getty Images

De VivaBem, em São Paulo

18/12/2024 15h23

Um estudo publicado em 2020 que pautou o uso da hidroxicloroquina e azitromicina contra a covid-19 foi retirado do ar nesta terça-feira (17) devido a falhas científicas e questões éticas do artigo. Três dos próprios autores da pesquisa levantaram preocupações quanto à metodologia e às conclusões do material.

O que aconteceu

A empresa Elsevier, especializada em conteúdo científico, fez uma retratação. "Preocupações foram levantadas em relação a este artigo, principalmente relacionadas à adesão dos artigos às políticas de ética de publicação da Elsevier e à conduta apropriada de pesquisas envolvendo participantes humanos", informou o aviso. O artigo havia sido publicado no International Journal of Antimicrobial Agents.

Tamanho da amostra e tempo de revisão geraram dúvidas. Apenas 36 pacientes participaram do estudo, sendo que ensaios clínicos bem conduzidos têm de centenas a milhares de voluntários na fase 3, que avalia a ação terapêutica, segurança, eficácia, riscos e benefícios do medicamento. Já a revisão do artigo por pares ocorreu em um tempo "anormalmente" curto. O estudo foi submetido em 16 de março de 2020 e publicado quatro dias depois.

Equipe que investigou o caso teve dúvidas sobre o recrutamento dos voluntários. O time não conseguiu confirmar se os pesquisadores obtiveram aprovação ética para o estudo antes de recrutar os pacientes. Também não pode estabelecer se os pacientes deram consentimento informado para serem tratados com o antibiótico azitromicina. "O periódico concluiu que há causa razoável para concluir que a azitromicina não era considerada tratamento padrão no momento do estudo", disse o aviso de retratação.

Problemas com pacientes podem ter distorcido os resultados a favor do medicamento. Seis voluntários tratados com hidroxicloroquina foram retirados do estudo (um deles morreu e três foram transferidos para tratamento intensivo), o que potencialmente alterou os resultados. Ensaios clínicos maiores e mais rigorosos realizados naquele ano mostraram que o medicamento não havia beneficiado as pessoas com covid-19.

Autores do estudo quiseram retirar seus nomes do artigo. Três dos autores da pesquisa entraram em contato com a revista científica para dizer que tinham preocupações sobre a apresentação e interpretação dos resultados. Também falaram que não desejam mais ver seus nomes associados à publicação.

Autor principal foi acionado, mas não respondeu ao pedido. Os investigadores solicitaram explicações ao pesquisador Didier Raoult, conhecido como "Dr. Cloroquina", mas não tiveram resposta dentro do prazo estabelecido. Com isso, a decisão foi pela retirada do artigo.

No Brasil, cloroquina foi promovida

O então presidente Jair Bolsonaro defendia o medicamento. O Ministério da Saúde chegou a divulgar um protocolo que sugeria a combinação de cloroquina e hidroxicloroquina com azitromicina para tratar pessoas com covid-19, inclusive em casos leves, na rede pública de saúde.

Exército gastou R$ 1,14 milhão na produção de 3,2 milhões de comprimidos de cloroquina em 2020. Em março daquele ano, o ex-presidente decidiu ampliar a produção da cloroquina pelo Laboratório Químico e Farmacêutico do Exército. Na época, a medicação ainda estava em teste, mas a Anvisa já havia informado que não recomendava sua utilização em pacientes infectados ou como forma de prevenção.

Conselho Federal de Medicina liberou o uso de cloroquina. Em um documento de abril de 2020, o presidente do CFM Mauro Luiz de Britto Ribeiro pediu a liberação do uso de cloroquina e hidroxicloroquina, "em condições excepcionais", para tratamento de pacientes com covid-19. Em outubro de 2021, a Defensoria Pública da União processou a entidade por sua responsabilidade na autorização do uso dos medicamentos. Ribeiro também foi um dos investigados da CPI da Covid, que investigou ações e omissões do governo Bolsonaro na pandemia.

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