Cientistas criam produto a partir do sangue para reparar ossos quebrados

Um grupo de cientistas da Universidade Queen Mary e Universidade de Nottingham, ambas no Reino Unido, conseguiu criar um novo material a partir do sangue do paciente que consegue reparar ossos quebrados. Os resultados foram divulgados em um artigo publicado no periódico Advanced Materials em 14 de novembro.

Como estudo foi feito

Os pesquisadores usaram peptídeos (compostos formados por aminoácidos) extraídos do sangue dos pacientes para criar os "remendos" ósseos. A ideia se baseou no processo que nosso próprio corpo usa para curar pequenas fraturas e rompimentos de tecidos de maneira eficiente.

Naturalmente, esse tipo de processo complexo começa quando o sangue, ainda em estágio líquido, torna-se sólido, formando um hematoma regenerativo. Essencialmente, trata-se de um coágulo com sangue rico em céulas-chave, macromoléculas e outros fatores que estimulam e trabalham para recompor o osso.

Os estudiosos combinaram peptídeos anfifílicos sintéticos — capazes de se agregarem e serem absorvidos como na membrana celular por tecidos orgânicos — com o sangue retirado de um paciente para criar um "remendo" sob medida. Como o material mistura justamente as moléculas e células essenciais do processo natural de regeneração do osso, especialmente os coagulantes, com o material sintético, ele se torna capaz de reproduzir de maneira mais eficiente e em maior escala o que aconteceria no corpo quando uma microfratura se fecha, por exemplo.

Material "biocooperativo" é um gel que pode ser montado, manipulado e até impresso por uma impressora 3D sem perder as funções naturais, dizem cientistas. Entre elas estão o comportamento normal de plaquetas para a coagulação do sangue, a fabricação de fatores de crescimento, além de componentes que promovem o crescimento de células estromais mesenquimais (subtipo de células-tronco), endoteliais e fibroblastos, essenciais para a formação de estruturas e tecidos como o osso.

Experimento teve sucesso em regenerar ossos de animais com o sangue deles. Grupo de 24 ratos foi observado para verificar o sucesso da técnica. Aqueles que receberam o implante do "gel" cirurgicamente tiveram, após seis semanas, uma ligeira maior formação de novos ossos na área da fratura (entre 56% e 62%) do que aqueles que receberam Bio-Oss, um substituto ósseo comercialmente disponível (cerca de 50%). Aqueles que não receberam intervenções tiveram apenas 30% de recuperação da massa óssea. Não foi verificada rejeição do material.

Cientistas acreditam que o gel poderá fazer parte de um kit acessível clinicamente no futuro. Apesar de reconhecerem que ainda é preciso avançar para pesquisas em humanos, os pesquisadores celebraram o sucesso do procedimento especialmente pelo seu alto potencial de biocompatibilidade, isto é, de ser customizado às necessidades do paciente, com baixos riscos de rejeição e maior eficácia na reversão das lesões.

A possibilidade de transformar de maneira fácil e segura o sangue das pessoas em implantes altamente regenerativos é realmente animadora. O sangue é praticamente gratuito e pode ser facilmente obtido dos pacientes em grandes volumes, relativamente. Nosso objetivo é estabelecer um kit de ferramentas que possa ser facilmente acessado e usado em ambiente clínico. Cosimo Ligorio, pesquisador da Universidade de Nottingham, em comunicado à imprensa

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