Olhos vermelhos depois de nadar não é só culpa do cloro - xixi também causa
Em tempos de mudanças climáticas, com o calor dando as caras em boa parte do ano, um banho de piscina fica praticamente irresistível. Quem frequenta ou já frequentou este ambiente percebe que é comum sair de lá com os olhos irritados. Mas se você acha que eles ficam vermelhos depois de nadar na piscina por causa do cloro, saiba que a urina e o suor são os verdadeiros culpados.
Daniel Wagner Santos, médico infectologista da Rede D'Or Maranhão, explica que quando o cloro, utilizado para desinfetar a água, entra em contato com substâncias orgânicas como a ureia presente na urina e componentes do suor, ocorrem reações químicas complexas. Essas reações geram os chamados subprodutos de desinfecção, ou SPD, como tricloreto. Essa substância tem um odor característico e é um forte irritante para olhos, nariz e garganta.
Além do tricloreto, outros SPD podem se formar, e todos eles têm potencial para causar irritação e até mesmo problemas de saúde mais sérios, dependendo da concentração e do tempo de exposição.
A formação dos SPD é um processo complexo e depende de diversos fatores, como concentração de cloro, quantidade de matéria orgânica (como urina, suor etc.), pH e temperatura da água (quanto mais quente, mais rápida as reações químicas e a produção de SPD).
Essas substâncias podem gerar vários efeitos no corpo:
Olhos: podem causar vermelhidão, coceira e lacrimejamento nos olhos. Em casos mais graves, podem levar à conjuntivite.
Vias respiratórias: a inalação dos vapores provenientes dessas reações químicas pode irritar as vias respiratórias, causando tosse, dificuldade para respirar e até mesmo asma em pessoas mais sensíveis. Se estiver em piscinas internas, o efeito pode ser maior.
Pele: aparecem irritações e dermatites.
"Em resumo, a combinação de urina, suor e cloro na água da piscina pode gerar substâncias irritantes que prejudicam a saúde dos banhistas. A manutenção adequada da piscina e a conscientização sobre a importância da higiene são essenciais para evitar esses problemas", reforça Santos.
O perigo vai além
A água, mesmo tratada, pode ser um veículo para diversos microrganismos que causam doenças. A presença de urina, suor e outros materiais orgânicos, como fezes, em piscinas e lagos, contribui para a proliferação desses microrganismos.
"Se a piscina não recebe os cuidados de limpeza, manutenção do pH da água e filtragem, é muito comum ela ser uma fonte de doenças", alerta Martim Medeiros Junior, médico da Família da APS (Atenção Primária à Saúde) do Hospital Santa Marcelina Saúde.
As doenças mais comuns transmitidas por água contaminada incluem:
Doenças gastrointestinais: como diarreia, causada por vírus (como norovírus e rotavírus), bactérias (como E. coli e Salmonella) e parasitas (como Giardia), além de gastroenterite, responsável por gerar inflamação do estômago e intestinos, com sintomas como náuseas, vômitos e diarreia. As doenças gastrointestinais são as mais comuns de serem adquiridas em piscinas, parques aquáticos e lagos.
Infecções oculares: como conjuntivite, que é uma inflamação da conjuntiva, membrana transparente que reveste a parte branca do olho e a parte interna das pálpebras.
Infecções de ouvido: como otite externa. Trata-se de uma infecção do canal auditivo externo, conhecida como "ouvido de nadador".
Infecções urinárias: como cistite, que é uma infecção da bexiga.
Doenças de pele: as mais comuns são as micoses, infecções causadas por fungos, como pé de atleta e pitiríase versicolor, também conhecida como pano branco.
Doenças transmitidas por parasitas: como a esquistossomose, causada por um verme parasita que penetra na pele através de lesões causadas por larvas presentes na água.
O tempo para manifestação dos sintomas é bem variável e pode levar algumas horas ou dias, até mesmo mais de uma semana. O E. coli, por exemplo, pode se manifestar de uma hora a dez dias depois da exposição. A Giadia pode levar de uma a duas semanas para apresentar sintomas. Já a Salmonella, de algumas horas a dias. Então fique atento e, em caso de suspeita, procure um médico.
Por que isso ocorre?
Comportamentos dos próprios banhistas são responsáveis por grande parte da contaminação, ocorrida por diversos fatores:
Contaminação fecal: a presença de fezes na água, mesmo em pequenas quantidades, pode contaminá-la com diversos microrganismos como vírus, bactérias e parasitas, que causam principalmente diarreia. Essa contaminação pode ocorrer, por exemplo, por meio de alguém que fez cocô durante o uso da piscina, não se limpou adequadamente e voltou para usá-la.
Falta de higiene: pessoas que entram na água sem tomar banho ou que trocam a fralda de bebês na água podem contaminar a piscina ou o lago.
Desinfecção inadequada: níveis insuficientes de cloro ou outros desinfetantes podem permitir a proliferação de microrganismos.
Filtração inadequada: no caso de piscinas, uma filtração inadequada não remove todos os microrganismos da água.
Ingestão da água: ao engolir água contaminada, a pessoa pode ingerir microrganismos que causam doenças gastrointestinais.
"Os fungos podem se manter vivos por muito tempo em bordas de piscinas, vestiários e podem causar problemas principalmente em pessoas que não se higienizam e não se secam após o uso dessas piscinas, ou permanecem por muito tempo com a roupa molhada", pontua Silvia Helena Nobre Freire Chan, dermatologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Como se proteger
Evite ingerir a água: é fundamental evitar engolir a água da piscina, parque aquático ou lago.
Priorize a higiene: tome banho de chuveiro antes de entrar na água e depois que sair dela, troque fraldas fora da água, não urine, defeque ou cuspa na água, evite nadar quando estiver com diarreia ou outras doenças infectocontagiosas.
Tenha cuidado com ferimentos: evite nadar com ferimentos abertos e cubra curativos com bandagens impermeáveis.
Evite nadar em águas contaminadas: não nade em lagos ou rios que possam estar contaminados com esgoto ou outros poluentes.
Faça manutenção da piscina: mantenha os níveis de cloro e pH da água adequados, realize a filtração regularmente e limpe a piscina periodicamente.
Quem está mais suscetível
O infectologista Daniel Wagner Santos conta que existem alguns perfis mais suscetíveis a contrair doenças ou ter reações alérgicas em piscinas, parques aquáticos e lagos recreativos, como:
Crianças: devido ao sistema imunológico ainda em desenvolvimento e à maior probabilidade de engolir água, crianças são mais vulneráveis a infecções.
Idosos: com o sistema imunológico enfraquecido, eles podem ser mais suscetíveis a infecções e ter reações mais intensas aos produtos químicos utilizados na água.
Pessoas com sistema imunológico comprometido: pessoas com doenças como Aids, câncer ou que fazem uso de imunossupressores estão mais propensas a desenvolver infecções.
Pessoas com alergias: indivíduos com alergias a cloro ou outros produtos químicos utilizados na água, ou com alergias a microrganismos presentes na água, podem ter reações alérgicas.
Pessoas com feridas abertas: feridas abertas são portas de entrada para bactérias e outros microrganismos, aumentando o risco de infecção.
"A integridade da epiderme e das unhas formam uma barreira natural aos microrganismos, de modo que lesões preexistentes são favoráveis ao aparecimento de micoses, viroses e bactérias", esclarece a dermatologista Silvia Helena Nobre Freire Chan.
Não há necessidade de evitar lagos, piscinas ou parques aquáticos por medo de contrair doenças, mas é importante tomar precauções para aproveitar esses ambientes com segurança e desfrutar do benefício de se refrescar, divertir-se ou nadar.
UOL no Verão
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