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Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Dá para saber se alguém está mentindo? Por que todos nós contamos mentiras?

Imagem: Reprodução

De VivaBem

24/12/2024 05h30

Somos mentirosos. Todos nós. Mentimos para impressionar, para facilitar a adequação a um grupo, para proteger alguém, para evitar as consequências negativas de um erro, para esconder más ações, para evitar conflitos e constrangimentos.

A maioria das mentiras tem um motivo primário por trás: a percepção do mentiroso de que falar a verdade seria desvantajoso. Por exemplo: uma criança mente que terminou o dever de casa pelas vantagens de não receber uma bronca e sair para brincar mais cedo, da mesma forma que um vigarista mente que seu investimento precário é seguro para adquirir o capital dos investidores.

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É importante notar que essas vantagens nem sempre são físicas, muito menos sempre em detrimento da pessoa a ser enganada: mentir que gostou de um presente indesejado tem tanto o benefício de evitar uma situação social desagradável quanto de evitar ferir os sentimentos de alguém.

Muitas das chamadas "mentiras sociais", as mentiras leves do dia a dia, agem como um "lubrificante social", como descrito por Aldert Vrij em seu livro "Detectando Mentiras e Dissimulações: Armadilhas e Oportunidades". São mentiras voltadas para poupar estresse nas relações diárias sem prejudicar diretamente o alvo da dissimulação, como mentir que está cansado para evitar almoçar com colegas de trabalho num dia em que está aborrecido, por exemplo.

Socialmente, essas mentiras "aceitáveis" são importantes para prevenir conflitos sociais desnecessários e manter a coesão dos grupos, seja em âmbito profissional ou interpessoal. Nesse sentido, a mentira evoluiu como uma ferramenta social para facilitar a vivência em sociedade. Já o uso da falsidade para prejudicar o alvo da dissimulação seria enquadrado como um tipo de comportamento antissocial, ou seja, um comportamento egoísta que é nocivo para as relações sociais no longo prazo.

Dá para saber quando alguém está mentindo?

Até dá para identificar quando alguém está mentindo, mas não é tão preciso quanto a ficção pode fazer parecer. A literatura científica não conseguiu identificar sinais comportamentais ou fisiológicos específicos e exclusivos de dissimulação, ou seja, não há sinais infalíveis para identificar mentiras: sempre se corre o risco de um falso positivo ou falso negativo.

Além disso, o comportamento do mentiroso pode ser afetado por muitos fatores, como a complexidade da mentira, o tempo de preparação prévia e o quão severas são as consequências de ser pego, e a interpretação do detector também pode ser afetada por vieses pessoais. Esses elementos deixam mais difícil diferenciar o comportamento mentiroso do comportamento honesto, porém ansioso, por exemplo.

Algumas pistas mais generalistas que podemos levar em consideração como sinais de dissimulação, dependendo do contexto, incluem:

Traços de ansiedade: suor frio, agitação, mãos geladas, entre outros, indicam que o mentiroso está psiquicamente e fisiologicamente em estado de alerta, com receio de ser descoberto. É importante considerar se há outra razão plausível para o nervosismo exacerbado do indivíduo, como a pressão social de falar em um momento importante, ou um transtorno de ansiedade.

Comportamento distinto do padrão individual: como uma pessoa expansiva que se mostra mais fechada, ou uma pessoa introvertida que se força a ser amigável, pode ser sinal do indivíduo tentando mascarar qualquer indício de nervosismo ou culpa.

Excesso de sinalizações e gestos de ênfase no discurso: isso, ou a total ausência deles quando comparado ao padrão do indivíduo. Novamente, o objetivo seria evitar dar pistas da dissimulação e fingir naturalidade.

Discurso inconsistente, contraditório, falho ou travado: manter a dissimulação envolve a constante atividade cerebral e criativa do mentiroso, especialmente quando é necessário detalhar a narrativa ou responder questões. A possibilidade de treinar a mentira antes de contá-la pode diminuir bastante esse esforço e a tensão resultante, enquanto questionamentos ou contradições não planejados podem quebrar o fluxo de pensamento do mentiroso e expor a dissimulação.

Vale considerar também que esses indícios podem variar consideravelmente entre indivíduos. Portanto, é difícil fazer julgamento na veracidade ou dissimulação de um indivíduo sem uma base prévia do comportamento "honesto" dessa pessoa.

Quando a mentira se torna um problema

Qual o limite das mentiras saudáveis do cotidiano?

Quando mentir se torna um hábito, sobretudo quando passa a trazer prejuízo funcional, emocional e social para a pessoa que conta a mentira ou para aquelas que são afetadas por ela, isso se transforma em um problema de saúde que precisa de intervenção.A mitomania, também conhecida como mentira patológica, é um quadro caracterizado pela tendência crônica e compulsiva em contar mentiras. Muitas vezes, a motivação nem sempre é obter benefícios ou manipular os outros, mas sim construir uma realidade alternativa que traz um ganho secundário, seja para aumentar a autoestima ou para esconder uma verdade que lhe seja muito dolorosa.

Nesse caso, trata-se de um adoecimento psíquico, e a pessoa que sofre vive alimentando mentiras que geralmente elevam a importância dela, as realizações e todo um quadro de poder que ela cria em função de fatos que não correspondem exatamente a sua realidade. Um dos exemplos mais famosos de mitomaníaco é Marcelo Nascimento da Rocha, que se passou por filho do dono da companhia aérea Gol.

A psicoterapia é um dos tratamentos mais indicados para a mitomania. No processo terapêutico, o indivíduo entra em contato com o desejo que não corresponde à realidade dele. Então, devagar, vai tomando consciência e analisando a quais experiências a compulsão pela mentira está relacionada.

Fontes: Nathalya Lima, psicóloga pela UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte); Kayo Barboza, psiquiatra; e Hélio Deliberador, professor de psicologia social.

*Com reportagem de agosto de 2023

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