Ele tinha diabetes e perdeu 43 kg com treino e dieta para ver filha crescer
Bárbara Therrie
Colaboração para VivaBem
26/12/2024 05h31
O advogado Sérgio Mendes Finelli Júnior foi diagnosticado com diabetes tipo 2 quando sua esposa estava grávida de três meses. Com 130 kg aos 37 anos, ele teve medo de morrer sem conhecer a filha e decidiu mudar hábitos. A seguir, o paulista conta como deixou a obesidade para trás e reverteu o diabetes:
"Aos 20 anos, eu me mudei de Bragança Paulista para São Paulo para fazer faculdade. O estilo de vida da capital e a falta de tempo para me exercitar e cozinhar logo me fizeram ganhar peso.
Não tinha horário certo para fazer as refeições e algumas vezes almoçava às 17h. Comia muitos alimentos ultraprocessados, fast-food, pizza, salgados e frituras, além de beber álcool em excesso. Assim, meu peso chegou a 110 kg —tenho 1,85 de altura.
Segui engordando gradativamente e na pandemia as coisas pioraram. Durante o isolamento fiquei na chácara dos meus pais e fazia churrasco pelo menos quatro vezes por semana, ingeria muita bebida alcoólica e não fazia nenhum tipo de exercício físico.
Só me dei conta do quanto ganhei de peso quando voltei a trabalhar presencialmente: tentei colocar meus ternos e nenhum me servia mais.
Ao passar em uma consulta com uma nutróloga, descobri que estava com 130 kg, IMC 38 e obesidade grau 2. Segundo ela, eu já era até elegível para fazer a cirurgia bariátrica, mas não quis operar.
Ao longo da minha vida, tentei emagrecer por diversas vezes e nunca consegui. Seguir dietas era um sofrimento para mim. Ficava estressado e exagerava na comida quando abandonava o regime alimentar. Também tomei remédio para emagrecer, mas parei porque sofri com os efeitos colaterais.
Em 2022, fui diagnosticado com gordura no fígado grau 3. Lembro que o médico me mostrou o ultrassom e disse: 'Está vendo essa mancha branca enorme? Aqui era para estar o seu fígado, mas nem consigo vê-lo, essa coisa branca é gordura.'
O especialista disse que eu precisava perder peso e fazer atividade física para tratar a doença. Mas, como eu não tinha sintomas, achei que estava tudo bem e ignorei a orientação.
Diabetes tipo 2 foi um choque
Eu já estava conformado que seria obeso pelo resto da vida, não imaginava conseguir emagrecer e atingir um peso saudável. Mas isso mudou em 2023, quando comecei a sentir algumas palpitações na cabeça e nos olhos.
Achei que poderia ser estresse. Meu cardiologista solicitou um exame de sangue e o resultado apontou que a minha hemoglobina glicada estava em 8,5% e a glicose média estimada em 197.
Fui diagnosticado com diabetes tipo 2 e o exame também constatou que eu estava com os níveis altos de colesterol e triglicérides. Paralelamente, fiz uma polissonografia porque roncava muito e minha esposa precisava dormir com tampões de ouvido.
Então, mais uma doença foi somada ao 'pacote' de problemas de saúde trazido pela obesidade: eu tinha apneia obstrutiva do sono severa.
Mas, de todas as complicações causadas pelo excesso de gordura, a que mais me impactou foi o diabetes.
Fiquei em choque ao saber que tinha diabetes. Minha esposa estava grávida de três meses, chorei com medo da possibilidade de não conseguir controlar a doença, de ter complicações, como amputações, problemas cardíacos, e de não conhecer a minha filha, ou de encurtar o tempo que teria com ela
Fiz uma promessa para a minha filha, ainda na barriga da minha esposa, de que quando ela nascesse eu seria um novo homem. Se eu morresse no meio do caminho, morreria como um bom exemplo de alguém que encarou seu problema de frente.
No dia 19 de outubro de 2023, iniciei minha mudança de hábitos. Eu estava com 37 anos, 130 kg e tomava dois remédios para diabetes, um para o colesterol e uma vitamina para a gordura no fígado. Meu processo de emagrecimento teve quatro pilares:
O primeiro pilar foi buscar conhecimento. Procurei entender como me tornei obeso e como lidar com as restrições alimentares impostas pelo diabetes. Li conteúdos e assisti a vídeos na internet sobre nutrição, alimentação saudável e musculação. Também busquei me informar com médicos especializados em diabetes e criei o costume de ler a tabela nutricional antes de comprar um produto que não conheço.
O segundo pilar foi acabar com o sedentarismo. Fazia uma hora de musculação e 45 minutos de caminhada na esteira, de 5 a 6 vezes por semana.
Na minha opinião, a academia é um ambiente hostil para obesos. Eu pensava que todo mundo que frequentava o local estava em uma situação melhor que a minha e me julgava por ser gordo.
Tentei desistir por diversas vezes, mas dizia uma frase para mim: 'Não é mais por você'. Todas as vezes que tentei emagrecer por mim, fracassei, mas agora era pela minha filha
No começo foi difícil, mas, depois de três meses, a musculação se tornou um hábito e uma terapia para mim. Hoje em dia não vivo mais sem e quando vejo uma pessoa acima do peso começando na academia torço mentalmente para ela não desistir.
O terceiro pilar foi aprender a fazer dieta. Sempre pensei que dieta significava ficar sem se alimentar, passar fome, ou seja, sofrer. Mas não se trata disso e sim de ensinar ao corpo que existem horários e alimentos melhores para comer.
Adaptei o cardápio saudável à minha rotina e consegui emagrecer sem passar fome um dia sequer.
Inicialmente, fiz uma reeducação alimentar com a ajuda de uma nutricionista. Comecei a comer mais frutas e verduras, a preparar a comida na air fryer, cortei os ultraprocessados, troquei o refrigerante comum pelo zero e reduzi a bebida alcoólica.
O quarto pilar foi encontrar uma motivação. O diabetes e a gravidez da minha esposa foram a motivação que eu precisava para lutar contra a obesidade, cuidar da minha saúde e mudar completamente os meus hábitos.
Bom para o corpo e a mente
Em nove meses, fui de 130 kg para 87 kg —superei minha meta, que era chegar a 90 kg. Reverti o diabetes e não preciso mais de medicação. Segundo o meu cardiologista, a perda de peso foi fundamental para controlar a doença.
Também eliminei completamente a gordura no fígado, baixei o colesterol e os triglicerídeos, os roncos diminuíram, meu condicionamento físico melhorou e sinto mais disposição. Na parte psicológica, ganhei autoestima.
Mudar hábitos foi difícil, mas gratificante. Hoje, aos 38 anos, me sinto uma nova pessoa e feliz por ter cumprido a promessa que fiz à minha filha, que atualmente está com oito meses."
Como é possível controlar o diabetes só perdendo peso?
O diabetes tipo 2 está fortemente associado ao excesso de peso e ao estilo de vida ruim, especialmente má alimentação e sedentarismo.
Estima-se que cerca de 90% das pessoas com diabetes também apresentam obesidade.
"O excesso de gordura abdominal libera substâncias inflamatórias que interferem na ação da insulina, dificultando a captação de glicose pelas células e resultando no aumento dos níveis de açúcar no sangue", explica Lívia Porto, endocrinologista que atua no Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Quando o diagnóstico é realizado precocemente e o tratamento feito da forma adequada, com a combinação de mudança do estilo de vida, controle da obesidade e uso de medicamentos específicos, é possível alcançar o controle glicêmico e, então, suspender o uso de remédios.
"Em alguns casos, a perda de peso pode levar à remissão do diabetes tipo 2, termo que utilizamos para descrever a normalização dos níveis de glicose no sangue sem a necessidade de medicamentos. Isso é possível justamente porque o principal mecanismo do diabetes tipo 2 está relacionado à resistência à insulina, e não, predominantemente, à falta de produção desse hormônio, como acontece no diabetes tipo 1", comenta.