Exercícios físicos fortalecem o cérebro por até duas semanas, aponta estudo
Colaboração para VivaBem*
27/12/2024 05h30
Cientistas da Universidade de Aalto (Finlândia) constataram que os exercícios físicos têm um impacto positivo no cérebro que pode durar pelo menos duas semanas após a atividade.
A prática regular de atividades físicas está ligada ao progresso da conectividade das sinapses cerebrais, o que significa que as redes neurais se fortalecem com a formação de novas células. Essa conectividade é fundamental para nossas habilidades de raciocínio, memória e atenção.
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Em resumo, a pesquisa revelou que a atividade cerebral é afetada por fatores ambientais, mudanças no estilo de vida e variações na saúde de curto prazo, como doenças temporárias ou noites mal dormidas.
"Esses resultados refletem uma relação prolongada e sustentada entre fatores externos e processos neurais", dizem os pesquisadores no artigo científico publicado em 8 de outubro, na revista científica Plos Biology.
Impacto dos exercícios no cérebro
A pesquisa foi conduzida com uma mulher de 33 anos, saudável, sem histórico de doenças crônicas, transtornos psiquiátricos graves ou problemas neurológicos. A voluntária, que preferiu manter sua identidade em sigilo, relatou ser fisicamente ativa, praticando ciclismo regularmente e se exercitando cinco vezes por semana.
Durante 133 dias, ou seja, 19 semanas, foram coletados dados da participante. Nas duas primeiras semanas, a coleta focou em informações comportamentais, utilizando um aplicativo de celular e dispositivos de monitoramento, como um anel inteligente e um monitor de frequência cardíaca.
Após essas duas semanas iniciais, foram iniciados os exames de ressonância magnética funcional. Esses exames avaliaram aspectos como atenção, memória e o estado de repouso do cérebro, além de investigar os efeitos dos estímulos gerados pela prática de atividades físicas ao ar livre.
Integrando dados pessoais e imagens
O estudo se diferencia de pesquisas anteriores ao integrar informações de dispositivos pessoais com imagens da ressonância magnética funcional. Essa abordagem permitiu aos pesquisadores realizar uma análise mais aprofundada da relação entre o cérebro e o comportamento da voluntária.
Os resultados indicam que fatores comportamentais, fisiológicos e de estilo de vida estão interligados com a conectividade cerebral em diferentes períodos: tanto a curto prazo (menos de sete dias) quanto a longo prazo (duas semanas).
"A integração da atividade cerebral, dados fisiológicos e sinais ambientais apoiará cuidados de saúde de precisão e futuras pesquisas em neurociência ambiental", explicou Ana Triana, pesquisadora e principal autora do estudo.
Associação com aumento cerebral
No começo deste ano, outra pesquisa, da Universidade de Washington (Estados Unidos), revelou que a prática regular de atividade física pode estar associada a um maior volume cerebral, o que se somaria a evidências do efeito benéfico dos exercícios para prevenção do declínio mental.
No entanto, os autores reconhecem que o estudo apenas apontou essa associação, ou seja, falta concluir se os exercícios de fato foram os responsáveis por esse aumento. Além disso, segundo especialistas, ainda não há estudos conclusivos demonstrando claramente que um hipocampo maior levaria mais capacidade de memória ou aprendizagem, já que há outras estruturas relacionadas à função cognitiva.
"O estudo teve um número importante de participantes e os achados também têm significância científica forte, porém, são necessárias mais pesquisas para confirmar esses resultados e se eles teriam alguma correlação com proteção para doenças neurodegenerativas", ressalta o neurologista Marco Túlio Pedatella, do Hospital Israelita Albert Einstein, em Goiânia.
Mas o neurologista afirma que a atividade física é fundamental para controlar fatores de risco que podem contribuir para as alterações cerebrais.
"Hábitos de vida mais saudáveis, incluindo alimentação e controle do peso, são extremamente importantes para proteger o cérebro de boa parte das doenças neurodegenerativas, principalmente o Alzheimer. Além disso, a atividade física também traz benefícios em outras áreas, como a saúde cardiovascular", diz o especialista.
O neurologista ressalta que a prevenção da degeneração do cérebro envolve estímulos intelectuais, controle de fatores de risco —como hipertensão, diabetes e tabagismo— além de atividade física regular e relacionamentos sociais, entre outros. "Quanto maior a reserva cognitiva que cultivamos ao longo dos anos, maior a proteção no futuro", conclui o médico do Einstein.
*Com informações de reportagem publicada em 16/02/2024