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'Não quero ser guerreira': jornalista da CNN descobre câncer de mama aos 36

Larissa Rodrigues é analista de política da CNN em Brasília Imagem: Arquivo pessoal

De VivaBem, em São Paulo

30/12/2024 05h30

A analista de política da CNN em Brasília Larissa Rodrigues, 36, foi diagnosticada com um câncer de mama agressivo em agosto deste ano. Ela voltou ao ar no início de dezembro, incentivada por uma missão: dar voz às mulheres que passam pelo mesmo.

"O que me move ao me colocar vulnerável careca é que tem um monte de mulher por aí na mesma situação sem o privilégio e o lugar de fala que eu tenho", disse a jornalista em entrevista a VivaBem.

Não é fácil, eu não estou aqui porque é fácil. Eu não me revi e não vou me rever [no ar] enquanto o meu cabelo não voltar, porque senão eu vou perder a coragem. Todo dia eu penso 'o que eu estou fazendo?'.
Larissa Rodrigues, jornalista da CNN

Câncer é agressivo

Larissa sentiu um caroço no seio direito em 5 de agosto. Ansiosa, foi ao mastologista da irmã —ela e a mãe investigam há anos nódulos que nunca evoluíram para câncer. Larissa nunca teve nada suspeito.

O diagnóstico veio em 14 dias. "Pelo jeito que o mastologista conversou comigo, eu falei: 'doutor, preciso me preocupar?'. E ele disse que tinha alguma coisa. A partir daquele momento, eu já sabia que tinha câncer. O que eu não sabia é que seria o pior tipo de todos."

Dois dias depois, em 21 de agosto, Larissa descobriu ter um câncer de mama triplo-negativo, considerado o mais agressivo e responsável por 10% a 15% dos casos da doença.

Esse tipo de câncer "se alimenta" dele mesmo. Por isso, cresce rápido e é instável, criando metástases mais facilmente, explica a mastologista Fernanda Leite, do Centro de Referência de Tumores da Mama do A.C.Camargo Cancer Center (SP).

"É um câncer que difere dos outros sorotipos porque não tem receptores, as 'boquinhas' abertas no tumor que pegam estrogênio, progesterona e HER-2, por exemplo. A maioria dos cânceres de mama tem essas 'boquinhas' abertas e, quando essas substâncias passam no sangue, é como se elas comessem para crescer", explica Leite.

O triplo-negativo não precisa de nenhum substrato adicional para crescer a não ser dele mesmo.
Fernanda Leite, mastologista

"Não é infrequente fazer diagnóstico de mulheres que já palparam nódulos na mama", diz a mastologista. A presença desses caroços, caso de Larissa, indica casos mais avançados da doença.

"Eu fico pensando que eu deveria ter sentido antes, mas que bom que eu senti. Às vezes, quando você descobre já está intratável. O meu já é avançado, mas que tem muita chance de cura pela descoberta e por começar o tratamento rapidamente", fala a jornalista, que não teve outros sintomas da doença.

Larissa tem um câncer em estágio dois, em uma escala de gravidade que vai até quatro. A notícia foi um baque. Ela se isolou e, nos primeiros dias, só conseguia falar com a mãe, a irmã e o marido.

"Na primeira semana, a minha psiquiatra disse que eu só precisava fazer o básico: tomar banho e escovar os dentes."

Larissa teve o diagnóstico rápido porque pagou pelos exames; seu plano de saúde ainda estava no período de carência Imagem: Reprodução/Instagram/@rodrigues_la

O tratamento

Dada a agressividade do câncer, o tratamento é igualmente forte: costuma seguir uma sequência de quimioterapia, cirurgia e radioterapia. É o programado para a jornalista, que começou as químios em 10 de setembro, um mês e cinco dias após notar o caroço em seu seio.

Para começar as sessões, porém, foi preciso uma ordem judicial contra o plano de saúde, contratado havia pouco tempo. "É por isso que estou tentando colocar a minha cara a tapa, porque eu só penso nas mulheres que não têm condição. Para mim já está muito difícil e ainda tive todo o suporte de pagar para fazer exames, judicializar para começar a químio."

Primeiro, vieram as quimioterapias vermelhas. "Começar foi bom, porque é a sensação de que você está fazendo alguma coisa para combater a doença." A jornalista teve fortes efeitos colaterais, como enjoo e vômitos. "Não tinha psicológico para nada."

Foi também quando seu cabelo caiu, uma questão para Larissa. "Eu falava que jamais sairia de casa careca, que não tinha a mínima chance. É um processo", diz ela. Passadas as quatro sessões, feitas a cada duas semanas, Larissa começou as quimioterapias brancas, que considerou mais leves.

Foi, está sendo e será muito difícil. Está só começando o tratamento. Mas é lidar com ele, ou eu vou morrer.

"São dias e dias, ficava esperando estar muito bem. Isso me lembra o luto da morte do meu pai, que eu achava que um dia ia passar e não passa. Tem dia que eu estou melhor, tem dia que estou pior."

'Não sou guerreira'

Larissa faz as sessões às quintas. Conta que se sente muito mal na sexta e no sábado, o desconforto baixa no domingo até sumir quase por completo às segundas. Então, aproveita os primeiros três dias úteis da semana para ir à redação da CNN em Brasília.

"Eu ainda estou muito debilitada, trabalho quando estou bem e as horas que posso."

Sua primeira ida à TV após o diagnóstico foi recente, há um mês. Ela temia ver os colegas na mesma rotina, enquanto a sua foi alterada num súbito. "Foi um momento muito difícil. A sensação que eu tenho é essa: a vida de todo mundo continua e a minha não", afirma.

Na volta ao trabalho, a jornalista apurava informações nos bastidores, sem vontade de aparecer em frente às câmeras por estar careca. "Eu falava que ia ficar todo o tempo da químio presa em casa", lembra.

"Foi um processo. Comecei a me sentir melhor, depois me abri, conversei com as pessoas, todo mundo foi se acostumando e me mostraram que não tinha por que me esconder."

Jornalista quer dar visibilidade às mulheres que não conseguem acessar o tratamento de câncer de mama Imagem: Reprodução/X/@rodrigues_la

Ao chegar à redação certo dia, no início do mês, Larissa se sentiu pronta. Quis voltar ao ar. "A janela de me sentir bem é muito curta, quis aproveitar."

Comunicou o chefe, apurou uma história e falou com os colegas que apresentavam o telejornal que não desejava comentar muito sobre o câncer ao vivo, para não chorar. "Ao mesmo tempo, sentia que precisava dar uma explicação por estar careca."

Larissa aparece no vídeo emocionada. Ela conta que, depois, recebeu mensagens de muitas mulheres que também tratam câncer.

"A mensagem que eu gostaria de passar é que a gente precisa dar visibilidade a essas mulheres e falar sobre isso. Inclusive, me preocupa o discurso de guerreira, de enfrentar [o câncer] com facilidade. Não quero ser guerreira. O tratamento não é fácil e tem gente que vende a imagem de que é."

No meio do meu caos, que é muito difícil, eu tenho o privilégio do acesso ao melhor tratamento. Dou a minha cara a tapa na tentativa de, no alto do meu privilégio, dar visibilidade às mulheres que eu não via antes do meu diagnóstico. Já fui muito pobre, sempre lutei muito para estar onde estou. Em outro momento da minha vida, eu não teria condição de pagar exames, ter ajuda para ir à Justiça, pagar coisas que o convênio não cobre.
Larissa Rodrigues

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