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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Sensibilidade a estímulos: como é o transtorno da filha de Maíra Cardi

Maíra Cardi comentou condição de Sophia em vídeo no TikTok Imagem: Reprodução/TikTok

De VivaBem, em São Paulo*

30/12/2024 11h37

Maíra Cardi, 41, contou em um vídeo publicado no TikTok que a filha Sophia, 6, tem TPS (transtorno do processamento sensorial). O transtorno ainda não consta nos manuais de medicina, mas já é reconhecido na prática como um componente de vários outros transtornos.

A médica disse que a pele dela deveria ser hidratada. E desde então a minha vida tem sido um caos porque ela não me deixa passar esse creme porque ela grita, ela chora, me dá agonia. E toda mãe acha que é birra, falo para ela parar. (...) E comecei a notar que tinha algo errado.
Maíra Cardi sobre filha Sophia

O que é TPS?

O transtorno de processamento sensorial é uma dificuldade de integrar e dar real significado para cada uma das informações sensoriais que o cérebro recebe. Então, a pessoa pode ficar percebendo um cheiro por muito tempo, e um cheiro que poderia ser prazeroso fica desagradável. Ou um ruído que normalmente as pessoas toleram, como o som do aspirador de pó, se torna extremamente irritante.
Anderson Nitsche, neuropediatra do Hospital Pequeno Príncipe (PR)

O problema é mais frequentemente encontrado em crianças com outros transtornos. Como TEA (transtorno do espectro autista), TDAH (transtorno do déficit de atenção com hiperatividade) ou dispraxia (transtorno neurológico de coordenação motora).

Em alguns casos, também pode aparecer isoladamente. Trata-se de uma inabilidade de o cérebro processar e integrar os sentidos que capta do ambiente. "É como se o cérebro dissesse 'olha, se você ficar sentindo esse cheiro o tempo todo, você pode ficar um pouco maluco' e a gente vai parando de perceber aquele cheiro, porque o próprio cérebro organiza essa informação", explica Nitsche. Nas pessoas com TPS, contudo, isso não acontece. Os receptores funcionam —no nariz, na boca, no ouvido—, mas o processamento e integração dos sentidos no cérebro é falho.

A criança pode perceber os estímulos com mais intensidade, a chamada hipersensibilidade. Os sintomas mais comuns são:

Ter a percepção de que as luzes e as cores são brilhantes demais e incomodam, ou que os sons ficam bem intensos;

Odores naturais também se tornam muito fortes e aversivos e as sensações táteis são interpretadas de modo extremamente profundo pela criança, causando incômodo para escovar os dentes ou cortar unhas, por exemplo.

Há também crianças que sentem com menos intensidade, os casos de hiposensibilidade. Nesse quadro, a criança precisa de esforço maior ou de maior intensidade para perceber e aproveitar o estímulo. Por isso, é comum que ela seja bastante agitada, leve objetos à boca, goste de muito barulho/sons altos e cheire tudo o que encontra pela frente.

Não existem exames laboratoriais ou de imagem para diagnosticar a síndrome sensorial. O diagnóstico é clínico, a partir de relatos dos pais, professores ou cuidadores da criança. Instrumentos específicos de avaliação, como escalas, também são aplicados por terapeutas ocupacionais para avaliar como a criança processa informações sensoriais. Além do terapeuta ocupacional, o diagnóstico também pode incluir neuropediatra, psiquiatra infantil, neuropsicólogo e fonoaudiólogo.

O que causa o problema?

Diversos fatores. Segundo os especialistas consultados por VivaBem, a síndrome é multifatorial. Entre os fatores estão genética, complicações pré-natais, no nascimento e nos primeiros anos de vida, além de fatores ambientais.

Crianças que são expostas a sensorialidades diversas com bastante precocidade e vários estímulos, especialmente nos dois primeiros anos, numa relação mais concreta com o ambiente, tocando, sentindo, cheirando, amassando, colocando na boca ou ouvindo estímulos diferentes, têm menos probabilidade de desenvolver esse transtorno do que crianças que ficam o dia inteiro no tablet ou num ambiente de pouca estimulação dentro de casa.
Anderson Nitsche, do Hospital Pequeno Príncipe (PR)

Em alguns quadros, é possível prevenir a condição. Enquanto fatores genéticos não podem ser alterados, se a TPS for desenvolvida por fatores ambientais é possível diminuir as chances de uma criança ter o transtorno. Entre os cuidados estão: levar a criança ao parque; pisar na grama, areia; brincar com brinquedos de texturas diferentes; ter relações com outras crianças e diminuir tempo de tela.

Quais são os sintomas?

Existem alguns sinais comuns aos pacientes. Segundo o pediatra Nivaldo Fracacio, os sinais são:

Reações exageradas ou incomuns a estímulos sensoriais, como barulhos, luzes, texturas, odores ou sabores;

Dificuldade em tolerar determinadas roupas ou texturas de alimentos;

Dificuldade em se concentrar ou se sentir desconfortável em ambientes barulhentos ou movimentados;

Problemas de coordenação motora, como escrever ou usar tesouras;

Dificuldade em se adaptar a mudanças no ambiente ou rotina;

Problemas de comportamento, como agitação ou comportamento agressivo, devido a estímulos sensoriais desagradáveis.

Existe tratamento?

Sim. O tratamento visa estimular o cérebro a desenvolver a capacidade de processar, organizar e interpretar as sensações, respondendo de maneira apropriada ao ambiente.

Uma das técnicas mais utilizadas nesses casos é o protocolo de integração sensorial de Ayres. Ele foi desenvolvida pela neurologista e terapeuta ocupacional pioneira Anna Jean Ayres em 1989. Ao longo do tratamento, a criança vai, aos poucos, recebendo estímulos sensoriais diversos. Pode ser uma piscina de bolinhas, onde ela irá mergulhar e sentir as bolinhas encostando em seu corpo. Ou uma sala com uma ponte pênsil, que vibra, para ajudá-la a aprender a andar sobre ela.

Também há momentos durante a terapia em que ela recebe, de uma forma carinhosa e respeitosa, alguns ruídos de que ela não gosta e acaba entendendo que está tudo bem e não é tão problemático. A gente vai ensinando aquele cérebro a sentir as coisas sem sofrer tanto.
Anderson Nitsche, do Hospital Pequeno Príncipe (PR)

Integrar terapias também é uma opção. Entre elas estão a terapia ocupacional, em que os terapeutas podem trabalhar com as crianças para ajudá-las a desenvolver habilidades sensoriais e motoras, bem como adaptar o ambiente para torná-lo mais seguro e confortável; a terapia da fala, para que a criança desenvolva habilidades de comunicação.

*Com informações de reportagens publicadas em 25/01/2023 e 01/02/2023

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