Fogos podem assustar: como ajudar crianças com autismo durante o Réveillon
De VivaBem*, em São Paulo
31/12/2024 12h00
É comum encontrar crianças e adultos com TEA (transtorno do espectro autista) que sofrem crises devido ao barulho excessivo dos rojões e foguetes utilizados para celebrar a chegada do novo ano.
Por que isso acontece?
Muitas pessoas com TEA apresentam hipersensibilidade sensorial aos estímulos do ambiente. O fator é, inclusive, um dos critérios levados em conta na hora de fechar o diagnóstico. Um latido de cachorro ou uma buzina de caminhão, por exemplo, podem ser suficientes para causar pânico em crianças dentro desse espectro.
A audição fica sobrecarregada. É como se eles escutassem todos os sons do ambiente de uma só vez sem focar a atenção em nenhum deles, de forma involuntária.
A hipersensibilidade sensorial pode ainda acometer outros sentidos. Tato: a criança pode ter medo de texturas e evitar andar descalço na grama ou usar meias, por exemplo. Paladar: pode fazer com que o indivíduo coma apenas alimentos pastosos, ou só secos. Visão: luzes intensas também podem provocar essa sobrecarga sensorial, que acaba causando desconforto e até comportamentos agressivos nos autistas.
Estímulos em excesso podem levar a crises de irritabilidade, medo e desregulação emocional. Isso ocorre porque as pessoas com TEA têm dificuldade de entender o contexto das situações, impedindo que ela consiga modular seu comportamento. Sem previsão do que vai acontecer, o indivíduo se assusta, se frustra e se desorganiza.
Pessoas com TEA nível 1 de suporte podem se adaptar melhor à hipersensibilidade. Elas acabam tendo uma cognição social mais desenvolvida, compreendendo melhor o entorno. Mas quando o nível é 2 ou 3, a contextualização das situações pode ser mais difícil.
Como ajudar?
Dê uma noção de previsibilidade para a pessoa. Com crianças, os pais podem ajudar na contextualização, explicando o que são os fogos, que aquele som é esperado nessa época do ano e que irá acabar depois de alguns minutos. Permita que elas entendam o cronograma da noite, como a reunião de pessoas, a contagem regressiva e os abraços após a virada. É uma forma de reduzir a ansiedade e o desconforto diante do inesperado.
Tente minimizar os estímulos sensoriais. Fones de ouvido concha podem ajudar a reduzir o impacto sonoro, mas precisam ser colocados antes do evento, já que algumas crianças podem não aceitá-los de imediato. Oferecer algo que a criança goste muito, como um brinquedo, uma música ou um vídeo preferido, pode ser uma opção para distraí-la e tranquilizá-la.
Mantenha a criança segura. Pais ou cuidadores podem fazer um trabalho de contenção da criança para evitar que ela se machuque ou machuque outras pessoas. Se ela não se sentir confortável para participar da celebração, respeite sua vontade. Se possível, escolha um local mais afastado do barulho, mas se não tiver essa opção, busque criar um espaço seguro dentro de casa, onde ela possa se sentir mais à vontade.
Observe e acolha as reações. Veja como a criança reagiu, valide seus sentimentos e a ajude a processar o que aconteceu. Explique também às pessoas em volta como colaborar e respeitar as necessidades do indivíduo com TEA.
Tenha ajuda profissional. Uma das formas de amenizar o problema é trabalhar com terapeutas ocupacionais para que a pessoa seja dessensibilizada dos estímulos que a deixam desorganizada antes de eventos como esse. As terapias podem ajudar, mas não resolvem a questão por completo, porque não há um treino sobre como lidar com a situação, e estamos falando de uma característica da pessoas. É mais fácil as outras pessoas se adaptarem à realidade dela.
*Com informações de reportagem de 30/12/2019