Depressão: 11 sintomas comportamentais para ficar atento
Faz cerca de 300 anos que transtornos mentais como a depressão passaram a ser considerados doenças, e não manifestações com caráter sobrenatural. Apesar disso, ainda há quem resista à ideia de que sintomas como tristeza profunda ou apatia persistente possam ser comparados a condições como diabetes ou hipertensão.
Assim como elas, a depressão pode gerar incapacidade e até matar nos casos mais graves, por isso é importante buscar ajuda.
Sintomas comportamentais da depressão
Não existe um exame capaz de confirmar que alguém está deprimido. Por isso, o diagnóstico é clínico, ou seja, feito a partir da análise das queixas do paciente e do histórico individual e familiar dele.
Os sintomas da depressão podem variar de acordo com fatores como a gravidade do transtorno e a presença de condições associadas, como ansiedade, sintomas obsessivos ou psicóticos. Veja algumas manifestações comportamentais possíveis:
- falta de energia;
- fadiga;
- inquietação;
- agitação psicomotora;
- lentidão nos movimentos e/ou na fala;
- mobilidade reduzida;
- isolamento;
- perda de libido;
- dificuldade de receber ou transmitir afeto;
- aumento ou perda de apetite;
- uso de álcool e drogas (para tentar obter alívio).
Sintomas vão além dos comportamentais
A manifestação da depressão vai além dos sinais comportamentais. O transtorno afeta várias outras áreas, como:
Humor: tristeza prolongada; perda de interesse ou prazer em atividades que antes eram apreciadas; choro fácil ou apatia; irritação; mau humor.
Autoimagem: sentimentos de culpa, vazio ou inutilidade; solidão; baixa autoestima; sensibilidade à rejeição; desamparo; desesperança.
Funções cerebrais: dificuldade para executar as tarefas do dia a dia, tomar decisões; problemas de memória e concentração.
Pensamentos: visão distorcida da realidade; ideias frequentes de morte e/ou de suicídio; pessimismo; pensamentos negativos persistentes (ruminações como "eu não vou conseguir", "eu sou um fracasso", "as pessoas estariam melhor sem mim" etc).
Sono: dificuldade para dormir, acordar muito antes do despertador ou dormir demais.
Resto do corpo: aumento ou perda de peso; sensação de peso nos braços ou nas pernas; dores ou problemas digestivos sem causa aparente e/ou que não melhoram com tratamento; baixa imunidade.
Como tratar
Após avaliação do paciente pelo psiquiatra, o tratamento é indicado de acordo com a gravidade dos sintomas, e da presença, ou não, de outros transtornos mentais.
Medicamentos: os mais indicados são os antidepressivos, que agem sobre alguns tipos de neurotransmissores (substâncias químicas que levam informação de um neurônio a outro). Existem diversas classes, com diferentes mecanismos de ação: os tricíclicos (ou ADTs, como amitriptilina, imipramina e clomipramina) e os inibidores da monoaminoxidase (ou IMAOs, como tranilcipromina) são os mais antigos.
Em seguida, vieram os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ou ISRSs, como fluoxetina, sertralina, paroxetina e escitalopram), os inibidores duais, que envolvem também a noradrenalina (como venlafaxina e duloxetina), a dopamina (bupropiona) ou a melatonina (agomelatina). Ainda há outras drogas, que envolvem mecanismos diferentes (como a mirtazapina) ou agem em vários receptores (como a vortioxetina e a vilazodona, mais novos e ainda pouco usados no Brasil).
Cada pessoa reage de uma forma, por isso não dá para dizer que um medicamento é melhor que o outro. Em geral, os antidepressivos levam de uma a quatro semanas para funcionar, e cerca de um terço dos pacientes não responde ao tratamento inicial. Por isso é importante que a pessoa seja acompanhada de perto nessa fase inicial.
Os efeitos colaterais dos antidepressivos podem incluir constipação, boca seca, problemas sexuais, ganho de peso, sonolência ou insônia, entre outros, que podem ser administrados com ajustes na dose, trocas ou associações. Dependendo dos sintomas ou do tipo de depressão, o psiquiatra ainda pode (ou deve) receitar outros medicamentos, como ansiolíticos (contra ansiedade), indutores do sono, antipsicóticos ou estabilizadores de humor.
Psicoterapia: pode ser realizada por psicólogo ou psiquiatra. Existem diversas modalidades disponíveis, como individuais, em grupo, familiar ou de casal, breves ou mais longas, dependendo das necessidades do paciente. E existem linhas diferentes de trabalho.
As terapias interpessoais ou psicodinâmicas tiveram origem na psicanálise e têm como objetivo estimular o indivíduo a tomar consciência e aprender a lidar com seus conflitos de forma mais adaptativa (ou saudável, digamos assim). A terapia cognitivo-comportamental é outra vertente e tem um aspecto mais prático, com exercícios que ajudam a reconhecer e mudar crenças distorcidas e comportamentos que alimentam o sofrimento.
A combinação da psicoterapia e de medicamentos é a que traz melhores resultados na depressão. Assim como os medicamentos podem ajudar a pessoa a obter avanços importantes na psicoterapia, esta também pode resultar em uma melhora no caráter químico da depressão, já que pensamentos e emoções são mediados por neurotransmissores, em última instância.
Em casos mais leves de depressão, só a psicoterapia pode ser suficiente, especialmente se associada a mudanças na rotina, como um estilo de vida mais saudável.
É preciso entender conflitos, rever situações e, eventualmente, mudar crenças ou comportamentos para superar a doença como um todo, e não apenas aliviar os sintomas.
Eletroconvulsoterapia (ECT): o procedimento é indicado em casos graves em que não há resposta aos medicamentos. Apesar da reação que desperta nas pessoas que não tem familiaridade com o tema, é um procedimento seguro e eficaz. É realizado com sedação e presença de anestesiologista, além de enfermeiros e do próprio médico psiquiatra, com autorização do paciente. Os efeitos colaterais mais comuns são problemas de memória transitórios.
Neuromodulação: técnicas não invasivas, como a estimulação magnética transcraniana (EMT), podem auxiliar alguns indivíduos que não respondem ou não toleram os medicamentos. Outros métodos, como a estimulação por corrente contínua (ETCC) e a estimulação profunda (invasiva, que funciona como um "marcapasso" no cérebro), têm sido empregados em caráter experimental.
Existe cura?
Como em qualquer doença, quanto antes a intervenção, maiores as chances de restabelecimento. Os remédios, em geral, devem ser administrados por no mínimo um ano após o desaparecimento dos sintomas, para evitar recaídas. Não se deve, em hipótese alguma, suspender os remédios por conta própria. Alguns fármacos podem causar mal-estar ou sintomas de rebote quando o tratamento é interrompido muito rápido, assim como acontece em outras doenças.
*Com informações de reportagem publicada em 31/08/2024
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