Proximidade com parentes impacta o psicológico; como lidar?
A família, biológica ou não, é a primeira referência de relacionamento para qualquer ser humano. É por isso que quando a convivência não é tranquila, há um mix de emoções e sentimentos em jogo.
Em casos muito extremos, em que há divergência de opiniões sobre religião e política, por exemplo, ou em que os parentes não aceitem a orientação sexual da pessoa, é preciso refletir sobre a convivência.
"Quando as interações não acontecem, torna-se complicado conviver, e esse é um momento delicado. Mas cabe a cada família encontrar maneiras de lidar com elas positivamente, algo que pode ser alcançado em meio a tentativas, erros, acertos, e, claro, com a colaboração de todos os envolvidos", diz Elaine Di Sarno, psicóloga especializada em avaliação psicológica e neuropsicológica e em terapia cognitivo-comportamental.
Como nossos parentes nos afetam
Quando saudável, a convivência com pais, avós, irmãos, tios, primos cria um ambiente de afeto, solidariedade e confiança, essencial para o desenvolvimento da autoestima e da saúde mental. Além disso, parentes próximos podem proporcionar conselhos valiosos, ajudar na resolução de problemas e oferecer um modelo de comportamentos saudáveis.
No entanto, relacionamentos familiares tóxicos costumam causar sentimentos de isolamento ou solidão, baixa autoestima, culpa, vergonha, ansiedade e depressão. Em vez de se sentir pertencente a um grupo, a pessoa acumula mágoa e ressentimento.
"Obviamente, não somos capazes de admirar pessoas que nos geram desconforto. Dessa forma, tenderemos a buscar a convivência mais próxima com aqueles com quem temos mais afinidade, ou seja, que têm gostos e condutas semelhantes aos nossos", diz a psicóloga Elaine Di Sarno.
Segundo o psicólogo Marcelo Lábaki Agostinho, quanto mais alguém tiver consciência de como a família funciona e de que, na convivência, será cobrado por algumas coisas que fez ou que deixou de fazer, mais preparado estará para lidar com isso.
"Não acho que exista um padrão para estabelecer os moldes dessa convivência, mas, se a pessoa tem consciência de como é a própria família, poderá dosar o quanto aguenta e o quanto precisa de distanciamento entre um encontro e outro para se 'desintoxicar da toxicidade'", explica Agostinho.
Como saber se vale romper laços
É importante frisar que romper laços, por mais libertador que seja, é sempre doloroso e muitas vezes a última opção quando a convivência é hostil ou difícil. Porém, pode ser o preço necessário para se libertar de uma relação que seja desconfortável, desgastante e que causa um sofrimento emocional significativo.
Cortar o contato também não precisa ser uma decisão permanente, mas pode durar o tempo necessário para que haja um fortalecimento emocional e uma maior resiliência para lidar com possíveis enfrentamentos. Alguns conflitos são inevitáveis, mas muitos podem ser solucionados com um bom diálogo e respeito mútuo.
"Esperar que o parente tóxico mude para você mudar dificilmente vai acontecer. O caminho mais seguro é exercer sua tolerância e pensar na forma como reage e se expressa diante de críticas ou provocações. A partir dessa transformação, podem surgir novos resultados", comenta o psicólogo Yuri Busin, emendando que, em muitos casos, os familiares não desejam machucar alguém, mas nem sempre se expressam direito.
*Com informações de reportagem publicada em 19/11/2020
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