Ambientes obesogênicos: o que são e como eles fazem você engordar?

A obesidade é uma doença que tende a crescer muito nos próximos anos: estimativas apresentadas durante o Congresso Internacional sobre Obesidade em 2024 sugerem que, se não houver mudanças, quase metade dos adultos brasileiros (48%) terá a doença até 2044.

Uma das razões para isso é que a condição, que aumenta o risco de morte precoce por problemas como infarto, AVC, diabetes e câncer, ainda é muito ligada à falta de força de vontade (para fazer dieta ou exercícios), fazendo com que as pessoas ignoram que o problema é muito mais complexo, tem causas diversas e exige acompanhamento de profissionais de saúde de diversas áreas.

Para ter uma ideia, genética, alimentação, questões emocionais, rotina, qualidade do sono e até o ambiente em que vivemos são fatores que podem estar associados ao ganho de peso.

"O ambiente nos influencia o tempo todo. Por exemplo, se a pessoa gasta quatro horas do seu dia em deslocamento para ir e voltar do trabalho, terá menos tempo e disposição para cozinhar, preferindo consumir alimentos que estejam prontos ou semi-prontos, ou seja, processados", explica Denis Pajecki, cirurgião bariátrico do Centro de Referência em Emagrecimento do Hospital Nove de Julho, em São Paulo.

É aqui que entra o conceito de ambiente obesogênico.

O que são ambientes obesogênicos?

São ambientes que contribuem para a obesidade e podem ser entendidos de duas formas:

  • Como a ausência de espaços que permitam a construção de hábitos saudáveis;
  • Como espaços que promovem ou facilitam escolhas e hábitos não saudáveis.

Quando falamos desse conceito, fica fácil entender por que a obesidade não é uma questão individual e depende, muitas vezes, do coletivo para ser solucionada: no Brasil e no mundo, por exemplo, há bairros em que não há parques ou locais seguros em que as pessoas possam andar e praticar exercícios, contribuindo para o sedentarismo. E basta sair de casa para ser bombardeado com opções de alimentos ultraprocessados e altamente palatáveis (ou seja, enriquecidos com aditivos que deixam tudo mais saboroso), como as barraquinhas vendendo cachorro-quente, batata frita e salgadinhos que encontramos nas imediações de estações de trem e metrô.

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"Estudos indicam que comemos mais quando a comida está à nossa disposição em maior quantidade. Ou seja, as porções grandes ou embalagens 'gigantes' e o fácil acesso a alimentos ultraprocesados e fast-food estimulam o consumo excessivo, mesmo quando não estamos com fome", afirma Sabrina Theil, nutricionista e CEO da Doutora Fit, rede especializada em emagrecimento saudável.

No trabalho, a falta de um espaço de copa em que os funcionários possam levar a própria comida também é considerado um fator obesogênico, já que estimula a alimentação feita na rua (que geralmente tem porções maiores ou maior oferta de pratos calóricos). E, nas escolas, a exposição de alimentos salgados fritos, doces e lanches também é um fator que contribui para a obesidade de crianças e adolescentes.

Um ambiente emocionalmente tóxico e/ou abusivo também pode ser considerado obesogênico na medida em que aumenta o risco para comportamentos compulsivos relacionados à comida. "Condições emocionais e sociais que incentivam a alimentação em excesso, como estresse constante ou relacionamentos abusivos, podem levar à fome emocional, aumentando a ingestão de alimentos de forma descontrolada", explica Renata Varkulja, nutricionista do Hospital Santa Paula, de São Paulo.

Por fim, a especialista lembra ainda que falta de informação sobre como combater a obesidade e manter uma vida mais saudável e a dificuldade de acesso aos serviços de saúde também são considerados hoje fatores que podem influenciar no aumento de peso.

Reconhecer para poder mudar

Quando falamos em obesidade, a solução nunca é única, afinal, existem diversos fatores que contribuem para o seu surgimento. Mas algumas medidas podem ajudar —e uma delas é justamente se atentar para a rotina e o ambiente em que a pessoa está inserida.

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Entender o impacto do ambiente sobre os hábitos alimentares e o próprio peso pode ajudar na prevenção e no enfrentamento da obesidade Renata Varkulja, nutricionista

Para mudar esse cenário, é preciso priorizar uma alimentação mais natural e menos industrializada em todas as refeições, além de iniciar uma atividade física de forma regular e adotar medidas para controlar o estresse e ter mais bem-estar.

Algumas medidas práticas e que podem melhorar favorecer um ambiente para perder peso incluem:

  • Diminuir o consumo de fast-food e alimentos ultraprocessados com alto índice de açúcar e gordura;
  • Buscar alimentos frescos e naturais, preferencialmente os alimentos da estação, que geralmente estão mais frescos e com melhor preço;
  • Buscar praticar uma atividade física de forma regular. Isso pode ser feito na academia ou no clube, mas, quando não for possível, tentar manter o ritmo em casa mesmo, ou em praças e parques;
  • Fazer as refeições em família, com todos sentados à mesa;
  • Comer com atenção, sem distrações como televisão ou o celular ligados;
  • Sempre que possível, envolver a família na preparação das refeições e incentivar hábitos saudáveis em conjunto;
  • Preparar refeições e lanches em casa para levar à escola ou ao trabalho, evitando comer opções mais calóricas em lanchonetes e padarias;
  • Ter alimentos naturais à disposição e evitar a exposição constante a alimentos industrializados;
  • Dormir bem;
  • Realizar atividades que trazem bem-estar e ajudam a aliviar o estresse, como meditação, ler um livro, ver filmes;
  • Adotar hobbies como jardinagem, marcenaria, tocar um instrumento, pintura;
  • Buscar ajuda psicológica para melhorar a saúde mental.

Vale ressaltar, no entanto, que nem só de mudanças radicais é feita a vida. "Equilibrar o ambiente não significa proibir tudo, mas sim torná-lo um aliado na sua jornada de emagrecimento e qualidade de vida", lembra Sabrina Theil. "Se o seu ambiente estimula escolhas saudáveis, certamente você vai perceber que fica mais fácil manter o foco", acredita.

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