Como a inteligência artificial é capaz de identificar o risco de suicídio
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O avanço da inteligência artificial, a IA, na medicina tem tornado os exames mais precisos, assim como diagnósticos, tornando ágil o início de tratamentos e até antecipando doenças. Estudo publicado no dia 3 de janeiro na revista científica Jama Network Open demonstra que a tecnologia é capaz também de evitar o suicídio.
Os cientistas criaram um modelo de triagem que reconhece comportamentos e emite avisos durante o atendimento. Os resultados mostram que alertas pop-up automáticos, que interrompem o fluxo de trabalho do médico, são mais eficazes do que um sistema mais passivo, que exibe informações no prontuário eletrônico do paciente.
A ferramenta é vista como benéfica por especialistas. "A IA pode atuar como um coletor de dados, avaliando fatores de risco que muitas vezes não são considerados na prática clínica, particularmente por médicos não especialistas", avalia Tânia Corrêa de Toledo Ferraz Alves, psiquiatra e diretora de enfermarias do IPq (Instituto de Psiquiatria) do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
Segundo a médica, a tecnologia permite um rastreamento em relação a informações presentes no próprio prontuário, realizando uma investigação aprofundada, usando escalas como PHQ9 —um questionário de saúde do paciente que auxilia o diagnóstico de depressão, quantificar os sintomas e monitorar a gravidade—, ou a C-SSRS, que avalia a probabilidade de suicídio. "Assim, aparecendo em forma de pop-up para o clínico, a partir do levantamento da IA, é possível definir a melhor conduta conforme o nível de risco, se baixo, médio ou alto."
A psicóloga Milane Correia, coordenadora do Caps II (Centro de Atenção Psicossocial) do município de Jequié (BA), e coordenadora do NAP (Núcleo de apoio Psicopedagogo) do curso de medicina da Unex (Universidade de Excelência) de Jequié, também vê na aplicação de IA para identificar sinais de suicídio um avanço promissor na área da saúde mental. "Tem potencial de salvar vidas ao permitir intervenções mais precoces e personalizadas."
Papel da IA na prevenção
Um estudo feito por pesquisadores da Escola de Medicina de Harvard (EUA) e do Cidacs/Fiocruz Bahia (Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde da Fundação Oswaldo Cruz) mostrou que o suicídio cresceu no Brasil entre 2011 e 2022.
Dessa maneira, a IA assume papel essencial na identificação de potencial suicídio, para haver intervenção e acompanhamento adequados. Veja os possíveis benefícios:
Identificação de risco a partir da análise dos dados do prontuário do paciente. A IA pode avaliar características, como idade, diagnóstico de depressão, comorbidades, doenças clínicas, uso de entorpecentes, e emitir um alerta ao médico. Segundo a psiquiatra do IPq, muitas vezes o paciente não comenta sobre a ideia de suicídio direto ao médico, mas quando perguntado, acaba falando.
Estabelecimento de fatores protetores em caso de tentativa recente. Para Alves, a abordagem para o paciente que já apresenta alto risco devido a uma tentativa de suicídio recente seria invertida, focando nos indicadores de proteção, como apoio social, familiar, espiritualidade, acesso a cuidados de saúde.
Definição de tratamentos mais eficazes. Além de reduzir os erros de diagnóstico, para Jefferson Meira Pires, psiquiatra e professor do curso de medicina da UESB (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia), a IA desempenhará papel importante no tratamento de doenças psiquiátricas, como a depressão, ao fornecer análises mais precisas e objetivas, baseadas em características individuais dos pacientes. "A IA poderá colaborar na escolha de tratamentos mais eficazes, combinando dados clínicos com informações genéticas e banco de dados de forma mais precisa."
Além da tecnologia
Por meio de comportamentos, mudanças emocionais e sinais verbais ou não verbais, que indicam sofrimento intenso ou risco iminente, é possível identificar um potencial suicida. No entanto, segundo Correia, reconhecer esses sinais requer atenção, empatia e compreensão. "Muitas vezes, as pessoas verbalizam seus sentimentos ou intenções de forma direta ou indireta."
Assim, alterações repentinas ou gradativas no comportamento podem ser um aviso, como:
Isolamento social, como afastar-se de amigos e familiares;
Deixar de ter prazer em atividades que antes traziam bem-estar;
Mudança na rotina;
Alterações no sono;
Desesperança e falta de perspectiva de futuro;
Distribuição de objetos significativos para pessoas com as quais têm relações afetivas;
Alívio súbito da angústia;
Histórico familiar de suicídio;
Aposentadoria ou desemprego;
Conflitos familiares;
Pesquisas na internet sobre meios letais, remédios;
Fenômeno de contaminação, quando um caso é capaz de levar a outras tentativas, especialmente em grupos próximos como escolas ou locais de trabalho.
Procure ajuda
Caso você tenha pensamentos suicidas, procure ajuda especializada como o CVV (www.cvv.org.br) e os Caps (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade. O CVV funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.
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