Como desenvolver inteligência emocional em crianças?
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Colaboração para VivaBem*
30/01/2025 12h31
Se é comum ouvir um adulto dizendo que está se sentindo triste ou feliz, o mesmo não se pode afirmar categoricamente sobre as crianças. Embora alegria, tristeza, medo, raiva e nojo sejam emoções consideradas universais, nem sempre os mais novos conseguem identificar o que estão sentindo ou chamar os sentimentos pelo nome.
Felizmente, isso está mudando. "Ao contrário das gerações passadas, que cresceram ouvindo 'engole o choro', estamos diante de uma leva de crianças que, quando quebram um prato, por exemplo, dizem 'prato quebra mesmo, não tem problema, né, mãe?', justamente porque estão crescendo acostumadas a ter as emoções acolhidas, e não reprimidas, pelos pais", avalia a psicóloga Márcia Tosin, especialista em comportamento infantil.
A estratégia é conhecida como educação ou alfabetização emocional. "Uma criança pode ser considerada alfabetizada emocionalmente quando seus sentimentos são acolhidos pelos pais e ela consegue identificar tanto as emoções dela quanto a de seus pares", resume Tosin.
O termo educação emocional foi popularizado no final da década de 1990 pelo psicólogo e jornalista científico Daniel Goleman. O norte-americano, considerado "pai da inteligência emocional", reforçou a ideia de que, se forem repetidos várias vezes durante a infância e na adolescência, hábitos de regulação das emoções podem ajudar a moldar circuitos cerebrais e, por isso, a infância é um momento decisivo para que sejam traçadas as tendências emocionais que irão marcar a vida adulta.
O que significa educação emocional na prática
Algumas estratégias de alfabetização emocional podem variar de acordo com a faixa etária. Recursos lúdicos, como filmes e livros, ajudam a estimular crianças menores a identificar os próprios sentimentos.
Conforme a criança for crescendo, outro passo é ajudá-la a identificar o que cada emoção provoca no corpo humano, e brincadeiras de mímica podem ajudar no processo. "Os pais podem imitar um tubarão que está nervoso e mostrar que, por causa dessa emoção, o animal treme ou se esconde debaixo d'água. E, então, ir incentivando a criança a pensar em como ela mesma fica quando está brava, por exemplo", sugere a psicóloga Márcia Tosin.
Com o tempo, espera-se que a própria criança se torne capaz de diferenciar quando estiver sob a ação de uma emoção que está lhe fazendo mal e, eventualmente, compartilhe o que está sentindo com um adulto.
"Não tem uma fórmula. O segredo é ter uma postura curiosa e acolhedora em relação às crianças e à manifestação do que eles estão sentindo", afirma a educadora parental Lua Barros.
Educação emocional x transtornos mentais
Segundo Roberto Santoro, psiquiatra e especialista em saúde mental infantil, uma pessoa que não teve suas emoções acolhidas pelos responsáveis quando era criança tem risco maior de desenvolver transtornos mentais na adolescência ou vida adulta.
Ele explica que, assim como o bebê nasce dependente dos cuidados dos adultos para se desenvolver fisicamente, também vem ao mundo em uma situação de absoluta dependência emocional e mental em relação aos pais e, por isso, precisa receber não só cuidados físicos, mas também emocionais. O cenário se estende até a adolescência.
No futuro, diz o médico, a expectativa é de que uma criança que recebeu cuidados emocionais se torne um adolescente e, depois, adulto capaz de fazer isso por si próprio, como se internalizasse a função, antes exercida por seus responsáveis, de acolher e organizar as emoções. "Isso é um fator de proteção em relação a transtornos mentais, porque a pessoa aprende a gerenciar os próprios estados emocionais", avalia o psiquiatra.
Espera-se que quem cresceu sendo estimulado a prestar atenção nas próprias emoções também esteja mais atento aos sentimentos das outras pessoas e aberto a respeitar o que seus colegas pensam ou sentem —outro ponto considerado central na alfabetização emocional.
Acolhimento não é sinônimo de 'permissividade'
Nem mesmo aqueles sentimentos popularmente tidos como "ruins", como a raiva, devem ser menosprezados, pois fazem parte da vida. Acolher, no entanto, não pode ser confundido com permissividade. Pelo contrário: em algumas situações, será necessário mostrar à criança que a forma como ela expressou seus estados emocionais pode ter sido inadequada, porque acabou desrespeitando alguém, por exemplo.
"Como pais, às vezes achamos que tudo é sobre nós: 'meus filhos estão com raiva de mim, eles estão fazendo isso para me deixar chateada'. Mas é preciso entender que as emoções dizem respeito às crianças e não a nós. Nosso papel é apoiar esse sentir e margear para que ele não se manifeste de forma desrespeitosa ou de forma que prejudique a criança", diz Barros.
A educadora considera importante incentivar os filhos a encontrarem o caminho mais adequado para canalizar o estresse, respeitando a personalidade de cada um, o que pode incluir ouvir música, dançar ou brincar, por exemplo.
*Com informações de reportagem publicada em 18/10/2022