'Diabetes quase me cegou, mas tratamento fez sumir nuvem dos meus olhos'

Diagnosticada com edema macular diabético, a analista de telecomunicação, Patrícia Alves Nascimento, 41, desenvolveu a doença possivelmente por dois fatores: complicação do diabetes e os vários procedimentos que realizou no olho. Ao receber o diagnóstico, ela tinha medo de ficar cega e achou que sua vida tinha acabado. A seguir, ela compartilha sua história:

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"Meus problemas com a visão começaram quando tive um rompimento na córnea e fui diagnosticada com ceratocone aos 18 anos durante a gestação do meu filho. Perdi cerca de 60% da visão, passei a ter dificuldades para enxergar, ler e posteriormente para cuidar dele, como dar banho e cortar as unhas.

No início, fiz algumas adaptações, minha mãe me ajudava bastante, mas ao longo dos anos minha visão só piorou. Em 2001 e 2016, fui submetida a dois transplantes de córnea do olho direito. Em 2022, fiz uma cirurgia de catarata, também no olho direito, porque desenvolvi uma catarata medicamentosa devido ao uso prolongado de colírios corticoides.

Apesar de ter feito vários procedimentos e mudado as lentes de contato, minha visão não se estabilizava. Sentia dores, desconforto, enxergava embaçado e passei a ver uma mancha, um ponto preto na visão central. Deixava o notebook e o celular na posição diagonal na tentativa de enxergar melhor, mas não adiantava muito.

"Só fui entender a gravidade do diabetes quando minha glicemia ficou muito alta e fui internada"

Relatei minha queixa à oftalmologista que me acompanhava, ela disse que o problema não era mais relacionado ao ceratocone e me encaminhou para um especialista em retina. Ela suspeitava que poderia ser um quadro alérgico ou uma complicação do diabetes.

Paralelamente aos problemas na visão, em 2019 fui diagnosticada com diabetes tipo 2, tomava remédio, mas não fazia o tratamento da forma adequada mesmo sabendo que isso poderia prejudicar a minha saúde.

Era sedentária, me alimentava mal, pesava 112 kg e não controlava a glicemia. Cheguei a fazer algumas dietas mirabolantes, mas só fui entender a gravidade do diabetes quando minha glicemia ficou muito alta e fui internada.

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Percebi que se não mudasse meu estilo de vida, ia acelerar as complicações da doença. Às vezes, achamos que só a medicina pode nos curar, mas muitas vezes a mudança começa em nós. Procurei uma nutricionista, fiz uma reeducação alimentar, comecei a fazer musculação, mudei os meus hábitos e emagreci 22 kg.

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Imagem: Arquivo pessoal

Ao seguir a orientação da minha médica, passei com um especialista em retina. Durante a consulta, ele fez três exames, o de fundo de olho, uma retinografia e uma tomografia de coerência óptica.

Os resultados saíram na hora e fui diagnosticada com EMD (edema macular diabético) no olho direito, aos 38 anos, em 2021.

Segundo o médico, a doença pode ter se desenvolvido devido à uma complicação do diabetes, mas também pelo fato de ter recebido várias intervenções no olho direito, o que pode ter gerado alguns traumas na região.

Ao receber o diagnóstico, me senti péssima, morria de medo de ficar cega e achava que minha vida tinha prazo de validade. Sonhava em tirar habilitação e dirigir, mas o edema macular diabético e a baixa visão impediram esse objetivo.

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"Hoje, tenho muito mais qualidade de vida, sou independente, moro sozinha"

Atualmente, meu tratamento consiste em tomar injeções no olho direito a cada dois meses. O procedimento é feito no centro cirúrgico e com anestesia local. Na hora não sinto nada, só a aflição de saber que vão colocar uma injeção no meu olho —geralmente sinto dores algumas horas depois. Em 2024, o edema macular diabético também atingiu o olho esquerdo, mas o problema já foi controlado.

Não tenho previsão de quando meu tratamento vai acabar, ainda tenho um pouco de dificuldade com a visão direita, mas já sinto evolução. As dores e a visão embaçada diminuíram consideravelmente e quase não vejo mais a mancha na visão central. Hoje em dia tenho muito mais qualidade de vida, sou independente, moro sozinha e consigo fazer tudo.

É prazeroso poder limpar minha casa e enxergar cada cantinho que antes nem via, ou colocar uma linha na agulha. Para algumas pessoas pode parecer bobo, mas para quem sofre com baixa visão desde os 18 anos é incrível sentir os efeitos do tratamento.

A nuvem que tinha nos olhos está se dissipando e estou tendo acesso a um mundo mais claro e colorido."

O que é o EMD (edema macular diabético)?

EMD é uma doença ocular causada pelo diabetes que afeta a mácula, a parte central da retina responsável pela visão nítida e detalhada.

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Ocorre quando vasos sanguíneos danificados na retina vazam fluidos, causando inchaço na mácula. Esse inchaço pode borrar ou distorcer a visão central, dificultando atividades diárias como ler, dirigir e reconhecer rostos.

A perda de visão devido ao EMD pode ser severa e até levar à cegueira, se não tratada.

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Imagem: Reprodução/Eyer

A principal causa do EMD é a retinopatia diabética, uma complicação do diabetes que afeta os pequenos vasos sanguíneos da retina.

Níveis altos de glicose no sangue danificam esses vasos, tornando-os fracos e propensos a vazamentos.

Fatores de risco incluem:

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  • Duração do diabetes
  • Controle inadequado da glicemia
  • Pressão alta
  • Colesterol alto
  • Doença renal
  • Tabagismo

No momento do diagnóstico do diabetes, o que os pacientes mais temem são as complicações visuais associadas à doença. Katia Pacheco, oftalmologista especialista em retina e vítreo, do H.Olhos e do Hospital Sírio-Libanês em Brasília

A melhor forma de prevenir o EMD é controlar o diabetes de maneira eficaz, incluindo:

  • Manter níveis saudáveis de glicemia
  • Controlar a pressão arterial
  • Gerenciar os níveis de colesterol
  • Parar de fumar

Realizar exames oftalmológicos regulares também é crucial para detectar o EMD precocemente, antes do aparecimento de sintomas.

Quanto mais tempo o paciente é diabético, mais risco ele tem de ter a retinopatia diabética [que pode evoluir para EMD]. Mayra Leite, oftalmologista do H.Olhos em São Paulo

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Qual é o tratamento do EMD?

Medicamentos anti-VEGF são o padrão ouro no tratamento do EMD. Esses remédios bloqueiam uma proteína chamada VEGF (fator de crescimento endotelial vascular), que promove o crescimento de vasos sanguíneos anormais e vazamentos.

Os anti-VEGF são injetados no olho com uma injeção, ajudando a reduzir o inchaço na mácula, melhorando a visão e prevenindo perda de visão adicional.

Quando o paciente já chega com um caso mais grave, por mais que a gente tenha a mão os anti-VEGF, o laser, se já afetou as células da retina, para reverter é muito mais difícil, ainda mais se for no campo de visão central, aí o paciente tem muito mais comprometimento visual. Mayra Leite, oftalmologista do H.Olhos em São Paulo

Como os anti-VEGF funcionam no EMD?

Eles se ligam às moléculas de VEGF no olho, impedindo o estímulo ao crescimento de vasos sanguíneos com vazamentos e reduzindo o acúmulo de fluido na mácula.

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Ao estabilizar e melhorar a saúde dos vasos sanguíneos da retina, ajudam a preservar a visão e prevenir mais danos.

Formulações mais recentes e de ação prolongada (podendo durar até 16 semanas), como o aflibercepte 8 mg, foram desenvolvidas e já estão disponíveis no mercado, reduzindo a necessidade de injeções frequentes (que podem ser mensais), o que pode melhorar a adesão ao tratamento e os resultados a longo prazo.

A parte da conscientização é a parte da sabedoria dos pacientes. Se o paciente souber toda a repercussão que as doenças podem dar, que é uma doença silenciosa, que nem sempre no começo vai ter sintomas, se sabem o risco de cegueira, e o médico se preocupa em mostrar para os pacientes como eles podem enxergar ou não enxergar, como ficaria a visão deles se eles não tratarem, isso mostra a importância de visitar o oftalmologista. Mayra Leite, oftalmologista do H.Olhos em São Paulo

Importante: sempre consulte um oftalmologista para o diagnóstico e tratamento de EMD.

Fonte adicional consultada: Tereza Kanadani, oftalmologista especialista em retina e chefe do Retina Instituto.

*A jornalista Bárbara Paludeti viajou a convite da Bayer.

2 comentários

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Edson Luiz Joia da Mota

Maravilha, parabéns e obrigado pela matéria

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Paulo Sergio Fiorin Athanasio

Muito interessante a matéria eu também passei por tudo isso , Ceratocone e depois problemas na retina por conta da diabetes e hoje também faço o mesmo tipo de tratamento, mas o mais importante é cuidar da alimentação para não ter problemas posteriores 

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