'Dente da Shopee' vendido a R$ 20: por que não é uma boa ideia usar?

Kits de resina moldável e bolinhas fixadoras, vendidos em plataformas de e-commerce, estão sendo usados para fazer próteses dentárias falsas. No TikTok, a prática viralizou com o nome de "dente da Shopee".

Nos anúncios, os produtos são descritos como massa termoplástica (plástico que se molda de acordo com a temperatura), com a finalidade de ser uma "solução temporária" e "tapa buraco" para quem precisa de alguma correção dentária. Eles custam entre R$ 20 e R$ 30.

No entanto, cirurgiões dentistas destacam que o procedimento é de risco, ainda que não seja permanente, e que o material comercializado pela internet não é feito para ser colocado na boca de pessoas ou animais —mas para fazer reparos em objetos.

Quais os riscos?

Ferimentos na boca. Depois de moldado na boca, o "dente" é colocado em água fria para endurecer. Especialistas alertam que o plástico duro pode lesionar a gengiva, e possíveis arestas na peça podem trazer ferimentos para a mucosa oral. "Ferimentos contínuos podem gerar uma lesão cancerizável [alterações do tecido onde o câncer tem maior probabilidade de ocorrer]", diz Camillo Anauate Netto, do CRO-SP (Conselho Regional de Odontologia de São Paulo).

Peça é fácil de ser engolida. "Essas imitações de dente não são fixas na boca, então podem ser deglutidas ou aspiradas, o que pode causar problemas e até sufocamento", diz o dentista. Ele alerta que o material não tem nenhum tipo de controle de fiscalização ou sanitário.

Higienização é comprometida. Segundo Netto, o "dente" de plástico ficaria apoiado entre dentes naturais e a gengiva. Qualquer falha na higienização, restos de placa bacteriana ou resíduos alimentares ficariam no espaço. "Isso pode afetar a flora bucal e promover problemas de inflamação e irritação", completa Claudio Miyake, presidente do CFO.

Se até uma prótese feita por profissional precisa de ajustes mínimos, imagina o problema que pode causar um material feito em casa, sem qualquer tipo de cuidado. Claudio Miyake, presidente do CFO (Conselho Federal de Odontologia)

Lojas em ecommerce vendem resina em 'bolinhas'
Lojas em ecommerce vendem resina em 'bolinhas' Imagem: Reprodução/Shopee
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Como é o procedimento correto?

Implante ou prótese. Segundo os profissionais consultados, alternativas para corrigir as falhas dentárias vão de próteses, que podem ser fixas ou removíveis, até implantes. O cirurgião dentista avalia cada caso: vê a relação de espaço que existe na boca do paciente, o contorno anatômico e onde ele pode ser fixado, se for o caso.

A prótese tem que conviver em harmonia com a gengiva e outros tecidos da boca. A relação da prótese com o dente antagonista tem que ser um contato funcional, que não cause trauma na mordida, dor ou prejudique a articulação. Camillo Netto, do CRO-SP

Solução vai além da estética. Os dentistas ainda destacam que o procedimento, sendo fixo ou provisório, tem funções para além de deixar o sorriso bonito: auxiliar na mastigação e na fonação (produção da voz). "Uma solução caseira pode se tornar um grande problema", afirma Miyake.

SUS oferece solução gratuita

Brasil tem Política Nacional de Saúde Bucal. O programa, conhecido como Brasil Sorridente, tem como objetivo oferecer atendimento gratuito e integral de saúde bucal para a população brasileira, por meio do SUS (Sistema Único de Saúde). O Brasil Sorridente também conta com laboratórios regionais de prótese dentária.

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Como solicitar atendimento? Segundo o Ministério da Saúde, a porta de entrada do SUS é a UBS (Unidade Básica de Saúde) ou Unidades de Saúde da Família. "A Atenção Primária é responsável pelo primeiro atendimento ao usuário e pelo encaminhamento aos CEO (Centros de Especialidades Odontológicas) e/ou hospitais, em casos em que necessita de um tratamento mais complexo", afirma a pasta.

Conselho Federal de Odontologia vê prática com preocupação

CFO vai oficiar plataformas. Segundo Claudio Miyake, o CFO enxerga a utilização desses e outros materiais "que são oferecidos livremente pelas plataformas de internet" como preocupante. Ele afirma que o CFO vai oficiar as plataformas sobre o comércio, e providenciar a retirada desses materiais de circulação.

Reportagem procurou plataformas de e-commerce. O Mercado Livre esclarece que "é permitida a venda de produtos médicos que sejam de venda livre e que cumpram com todas as exigências da legislação vigente". A plataforma diz que não realiza a venda de equipamento médico e produtos relacionados que demandam prescrição médica ou que sejam de uso exclusivo para profissionais de saúde. "Caso identificado um anúncio irregular, tal anúncio é excluído e o vendedor é penalizado. (...) Os usuários podem denunciar anúncios que entendem que ferem os termos por meio do botão 'denunciar', e também contam com o benefício da 'Compra Garantida', em que a plataforma devolve qualquer valor pago no marketplace caso a compra do consumidor não saia como esperado." A Shopee foi procurada pela reportagem, mas até o momento não retornou. O espaço de segue aberto.

7 comentários

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Roseana Maria D Liberali Bruno

Num país onde os preços são absurdamente altos, dente da shopee é solução! 

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Luiz Fernando Pizzo

Brasil sorridente rsrsrs.  Meus amigos, aqui temos inseminação caseira, e tantas outras barbaridades que um dente da shopee acaba sendo um indiferente no cotidiano. 

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Antonio Eugenio Nesi

Brasil sorridente ? Isso não funciona e o desgoverno Nine nem está ligando pra isso . 

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