Topo

O que acontece no seu corpo quando você toma remédio para ansiedade

Suellen Gomes/Arte UOL Suellen Gomes/Arte UOL
Imagem: Suellen Gomes/Arte UOL

Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

25/02/2025 05h31

Agora que você já sabe que a agitação, o medo e o estado de alerta constantes são consequência de uma condição definida como ansiedade, a preocupação pode ser saber o que esperar do tratamento.

A ansiedade é considerada uma resposta normal a situações de estresse, mas quando ela requer atenção médica as formas de tratá-la dependerão do tamanho do impacto dos sintomas no seu dia a dia. Por vezes, praticar exercícios físicos regularmente e fazer terapia dão conta do problema.

Na presença de manifestações intensas, no entanto, além dessas medidas, o médico pode sugerir o uso de medicamentos popularmente conhecidos como ansiolíticos.

Os mais eficazes e tolerados e, por isso, mais utilizados, são os antidepressivos.

As principais classes utilizadas são os ISRS (inibidores seletivos da recaptação da serotonina), e os ISRN (inibidores seletivos da recaptação da serotonina e noradrenalina).

Benzodiazepinas também podem ser úteis em condições específicas, além de outros remédios, como os gabapentinoides.

Os efeitos no seu corpo

Como todo medicamento, os ansiolíticos não são isentos de efeitos indesejados. Essa é a razão pela qual cabe ao médico avaliar cuidadosamente os benefícios por eles oferecidos e os eventuais riscos, especialmente considerando que algumas medicações poderão ser usadas por longos períodos.

Confira alguns dos resultados esperados com os medicamentosos mais utilizados:

  • Melhora da qualidade de vida

Uma mudança positiva nos sintomas cognitivos, físicos, comportamentais e afetivos é esperada entre a 2ª e a 4ª semanas de tratamento.

Os remédios mais indicados pelos médicos são os ISRS, como a fluoxetina, sertralina, paroxetina, escitalopram; além da venlafaxina e a duloxetina, da classe dos ISRN.

O nervosismo, a tensão, o medo, a impaciência, bem como a confusão mental e a evitação de situações, além do aumento do batimento cardíaco e a dificuldade para respirar, entre outros sintomas, tendem a reduzir.

Isso acontece porque esses medicamentos atuam sobre neurotransmissores relacionados ao humor, regulando regiões e neurocircuitos cerebrais que não estão funcionando de forma adequada. O uso dessas medicações pode se dar pelo período de 6 a 12 meses, ou mais. A ideia é reduzir o risco de uma recaída, embora isso possa ocorrer para um pequeno grupo de pacientes.

Os benzodiazepínicos (alprazolam, clonazepam, diazepam) são reservados para situações de crise, quando se deseja um efeito sedativo imediato. Ao produzirem um efeito calmante na química do cérebro e do SNC (sistema nervoso central), eles facilitam o sono e reduzem a ansiedade. Dado o perfil de seus efeitos colaterais, a dose deve ser a menor possível e o seu uso deve ocorrer por brevíssimo tempo.

Já a pregabalina, um dos gabapentinoides, é uma alternativa no tratamento da ansiedade generalizada. Como eles também agem no SNC, inibindo a ação de substâncias químicas cerebrais, espera-se que seu efeito reduza as manifestações da ansiedade. Como os benzodiazepínicos, ela precisa de monitoramento constante, dados os diversos efeitos colaterais e riscos decorrentes de sua retirada abrupta.

  • O corpo reclama

Algumas pessoas observam o aparecimento de alguns sintomas após o início do tratamento com os antidepressivos. Eles podem variar a depender da classe escolhida, mas em geral são transitórios e tendem a desaparecer após 1 ou 2 semanas.

Antes de parar o tratamento por conta própria, fale com o seu médico para que ele possa orientá-lo.

A estratégia de começar a terapia com uma dose menor para, depois, aumentá-la, busca prevenir tais manifestações. Por vezes, é possível aliviar o mal-estar, mas pode ser necessário mudar a medicação.

As queixas mais frequentes dos pacientes

Antidepressivos

  • Náusea
  • Dor de estomago
  • Dor de cabeça
  • Tontura
  • Mais agitação e ansiedade
  • Sudorese (suor excessivo)
  • Boca seca

Entre as maiores preocupações de quem faz uso desse tipo de medicação é a possibilidade de ter alterações na libido e ganho de peso.

De acordo com os especialistas consultados, alguns medicamentos podem mesmo facilitar tais quadros. E a solução pode ser trocar a medicação. Apesar disso, para algumas pessoas, o uso de ansiolíticos melhora a atuação sexual.

Na prática clínica, os médicos observam ainda que, se há ganho de peso, ele não é significativo, mas como o tratamento da ansiedade não se limita ao remédio, o estilo de vida saudável e a prática de exercícios ajuda a controlar esse efeito.

Benzodiazepínicos

Apesar de ser útil em momentos de crise, a maior preocupação dos médicos com essa classe é o risco de dependência, além de efeito rebote e dos sintomas de abstinência quando o tratamento é descontinuado.

Isso significa que quanto maior for o tempo de uso dessa substância, maior será a tolerância a ela, ou seja, as doses teriam de ser cada vez mais altas para se obter o resultado desejado.

As pessoas mais suscetíveis a esse fenômeno são as que fazem ou fizeram uso de álcool ou drogas, além da população geriátrica.

Para prevenir o problema, nos casos em que a terapia é mais longa, as doses devem ser reduzidas pouco a pouco. Daí a necessidade de monitoramento médico constante.

Pregabalina

Mesmo com doses adequadas, a sedação excessiva e o ganho de peso podem incomodar durante o tratamento, por isso requerem acompanhamento do especialista.

De olho nas contraindicações

Imagem: iStock

Esses medicamentos não podem ser usados por pessoas que sejam alérgicas (ou tenham conhecimento de que alguém da família tenham tido reação semelhante) aos seus princípios ativos ou a qualquer outro componente de sua fórmula.

Fique também atento a algumas condições, que deverão ser noticiadas ao médico ou farmacêutico antes do início do tratamento:

Gravidez e amamentação (benzodiazepínicos e gabapentinoides)

Problemas respiratórios e hepáticos graves e histórico de abuso de substâncias

Uso concomitante com outros remédios depressores do sistema nervoso central, como o álcool

Psicose não tratada

Entre pacientes idosos, a contraindicação dos benzodiazepínicos não é absoluta, mas é preciso maior atenção porque há aumento do risco de quedas, sedação excessiva, comprometimento cognitivo e delírio.

Por que eu tenho ansiedade?

As causas desse transtorno ainda não foram totalmente esclarecidas. O que sabemos até o momento é que ela decorre de uma interação de variados fatores. Veja alguns exemplos:

Genética (pessoas com ansiedade geralmente têm parentes com o transtorno);

Uso de substâncias estimulantes do sistema nervoso central (efedrina, teofilina, ritalina, cafeína, cocaína);

Retirada de determinadas substâncias depressoras do sistema nervoso central (álcool).

Alguns teóricos do campo da psicologia sugerem ainda que pessoas com ansiedade percebem situações de baixo risco como uma ameaça. Outra explicação biológica é que esses indivíduos respondem às circunstâncias com uma superestimulação de circuitos cerebrais.

Há ainda a hipótese de que fatores ambientais contam: indivíduos que enfrentam ou enfrentaram grande adversidade (abuso ou negligência na infância, rompimento de relacionamentos, etc.) podem ter ansiedade.

Quero parar, o que devo fazer?

Caso entenda que é hora de descontinuar o uso desses medicamentos, a melhor coisa a fazer é falar com seu médico. Uma parada abrupta pode trazer efeitos indesejados que poderiam ser evitados ou minimizados por meio de um planejamento que inclua a redução gradativa das doses.

Essa estratégia busca adaptar o seu corpo à retirada do medicamento.

Principais sintomas da parada abrupta dos antidepressivos: ansiedade, mal-estar gastrointestinal, entre outros.

Já no caso dos benzodiazepínicos, os sintomas de abstinência podem aparecer: irritabilidade, ansiedade e dificuldade para dormir, formigamento, além de um efeito rebote são esperados.

Como colaborar com o tratamento

Fazer exercício físico colabora com o tratamento Imagem: iStock

O uso racional do remédio, isto é, usar o medicamento prescrito na forma e pelo tempo indicado pelo seu médico —evitando aumentar ou reduzir as doses— é só parte do tratamento.

Para obter os melhores resultados, os especialistas sugerem que você adote as seguintes medidas:

Eduque-se sobre a ansiedade para ser capaz de observar em si os sintomas relacionados. O Ministério da Saúde e a ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), além de VivaBem. disponibilizam conteúdos informativos atualizados.

Converse com um farmacêutico de sua confiança, caso tenha restado alguma dúvida sobre o uso e os efeitos do medicamento.

Invista em uma dieta equilibrada, rica em alimentos naturais, e evite, ao máximo, o consumo de itens ultraprocessados.

Evite a ingestão de bebidas estimulantes, como as que contêm cafeína.

Aposte nos exercícios, que reduzem significativamente os sintomas da ansiedade, e também em técnicas de relaxamento ou meditação, como o mindfulness. Experimente algumas das variadas possibilidades dessas práticas, até encontrar a melhor para você.

Considere fazer psicoterapia. Algumas clínicas escola de psicologia, como a da Universidade Presbiteriana Mackenzie, na região central de São Paulo, oferecem atendimento gratuito.

Procure organizar a semana de forma a incluir algum tipo de lazer ou atividade que lhe agrade para compensar a pressão do dia a dia. O importante é exercitar a possibilidade de melhor equilibrar as obrigações e momentos de relaxamento.

Fontes: Amouni Mourad, farmacêutica, assessora técnica do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo) e coordenadora do curso de farmácia da Universidade Presbiteriana Mackenzie; Danyelle Cristine Marini, farmacêutica e diretora do CRF-SP, professora do curso de medicina na Unifae (Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino/São João da Boa Vista) e nas Faculdades Integradas Maria Imaculada (Mogi Guaçu/SP); e Rodrigo Silva, psiquiatra, psicogeriatra e preceptor da residência médica em psiquiatria do HC-UFPE (Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco), que integra a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares). Revisão técnica: Rodrigo Silva.

Referência:

Chand SP, Marwaha R. Anxiety. [Updated 2023 Apr 24]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK470361/


O que acontece no seu corpo