'Doenças de pele são um pesadelo na vida diária', diz chefe da L'Oréal
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A desigualdade no acesso à saúde da pele é um problema crítico no mundo todo. Estima-se que 2,1 bilhões de pessoas vivam com algum tipo de condição dermatológica, o que equivale a uma em cada quatro pessoas.
Além dos impactos físicos, muitas dessas doenças geram estigma e isolamento social: um terço das pessoas com doenças cutâneas faciais relatam se sentir rejeitadas, e um terço dos adultos com eczema afirmam enfrentar dificuldades no contato físico e na intimidade. O cenário tende a piorar com fatores como mudanças climáticas, envelhecimento da população e aumento do estresse.
A saúde é um direito humano fundamental, e a saúde da pele é a base para o bem-estar completo. Myriam Cohen-Welgryn, presidente de L'Oréal Beleza Dermatológica do Grupo L'Oréal
Um dos principais desafios no combate às doenças de pele é a escassez de especialistas. De acordo com dados do Global Access to Skin Health Observatory, estudo conduzido pela Liga Internacional de Sociedades Dermatológicas e pela L'Oréal, há disparidades alarmantes na distribuição de dermatologistas pelo mundo. Dos países analisados até o momento, poucos possuem mais de 3 dermatologistas por 100 mil pessoas e mais de um terço reportam 1 ou menos profissionais para cada 100 mil habitantes. Em alguns países, há 0 dermatologistas por 100 mil habitantes, enquanto o número máximo identificado é 13 por 100 mil habitantes.

O Brasil, mesmo com uma média de 11,1 dermatologistas por 100 mil habitantes, ainda enfrenta desigualdades regionais, e o cuidado não é igualitário. Segundo dados levantados pela We Cancer, em parceria com a La Roche-Posay, por aqui, 71,6% dos pacientes oncológicos percebem sintomas dermatológicos durante o tratamento, porém apenas 22,6% conseguem evoluir para o atendimento com um especialista em dermatologia. Além disso, só 31,5% das pessoas encaminhadas para o serviço de dermatologia realizam o tratamento pelo SUS.
Com o objetivo de tornar a saúde da pele um direito humano, a Divisão de Beleza Dermatológica do Grupo L'Oréal, em uma parceria inédita com a Fundação da OMS [uma organização independente que arrecada doações para apoiar a Organização Mundial da Saúde], lança hoje o L'Oréal Act for Dermatology, iniciativa que busca democratizar o acesso a serviços dermatológicos em todo o mundo, além de elevar a saúde da pele ao status de prioridade global. Com estratégias definidas para os próximos cinco anos, o investimento inicial é de 20 milhões de euros.
Ao trabalharmos em colaboração com dermatologistas, profissionais de saúde, instituições científicas e organizações globais como a OMS, damos um passo fundamental para tornar a saúde da pele um direito humano universal, sem deixar para trás nenhum país, cidade ou comunidade rural. Myriam Cohen-Welgryn, presidente de L'Oréal Beleza Dermatológica do Grupo L'Oréal
A ação se baseia em quatro pilares:
Produção de conhecimento: Pesquisa sobre barreiras no acesso à saúde da pele, impacto das mudanças climáticas e estigmatização de doenças dermatológicas.
Conscientização: Engajamento do setor público e privado para colocar a saúde da pele na agenda global.
Educação: Capacitação de profissionais de saúde para melhorar diagnóstico e tratamento, incluindo um fundo de 2 milhões de euros para acesso aberto a publicações científicas.
Expansão de soluções: Criação de programas para ampliar o acesso ao diagnóstico e tratamento de doenças de pele.
O lançamento da parceria acontece em um momento estratégico, quando a saúde da pele começa a ganhar mais espaço na agenda da saúde global. A expectativa é que a 78ª Assembleia Mundial da Saúde, em maio de 2025, discuta uma resolução para incluir as doenças dermatológicas como prioridade de saúde pública.
Com essas ações, a L'Oréal e a Fundação da OMS buscam transformar o acesso à saúde da pele, garantindo que ele deixe de ser um privilégio para se tornar um direito de todos. Em conversa com VivaBem, a diretora da L'Oréal explicou mais sobre a iniciativa e os impactos que ela pode trazer para a saúde global.
VivaBem: O que inspirou a criação de um projeto global como esse?
Myriam Cohen-Welgryn: Hoje, há uma grande desigualdade no acesso à saúde da pele. Isso é um problema crítico, pois, no mundo, mais de dois bilhões de pessoas vivem com doenças cutâneas. A expectativa é que esse quadro piore devido às mudanças climáticas, à rotina agitada, ao estresse e à exposição à poluição. As patologias só tendem a aumentar. Além disso, pessoas com problemas de pele são estigmatizadas. Estudos indicam que 30% delas se sentem rejeitadas quando têm lesões no rosto, e 50% das que têm eczema relatam dificuldades em ter contato íntimo.
O que torna essa situação tão alarmante? Não há tratamento ou médicos suficientes?
Não há dermatologistas suficientes no mundo. A média é de quatro médicos para cada 100 mil habitantes, mas muitos países têm bem menos do que três. O Brasil tem 11, mas a Índia, por exemplo, tem apenas 0,5. Nos Estados Unidos, a média é de seis para cada 100 mil habitantes, mas há grandes "desertos dermatológicos" no país. Os estados de Montana e Wyoming, por exemplo, têm menos de 0,5 dermatologistas por 100 mil habitantes.
Os médicos estão escolhendo menos essa especialidade?
Não necessariamente. Nos Estados Unidos, por exemplo, os profissionais dessa área estão mais focados na dermatologia estética do que no tratamento de patologias.

Por isso, queremos contribuir para o acesso à educação e à informação sobre patologias cutâneas e fortalecer esse ecossistema. Nosso objetivo é aumentar a conscientização sobre a crise dermatológica e chamar a atenção de instituições de saúde para mudanças em suas políticas, garantindo maior acesso a todos.
Além do câncer, quais outras doenças de pele são mais frequentes?
Falamos muito sobre o câncer de pele porque ele pode ser fatal se não for detectado a tempo, mas 25% da população mundial sofre com outros tipos de problemas dermatológicos. A dermatite atópica, por exemplo, é uma doença comum e incapacitante, pois causa estresse e insônia devido à coceira intensa. Além disso, gera estigmatização.
Outra condição muito comum é a xerodermia, caracterizada por pele excessivamente seca. Cerca de 50% das pessoas com mais de 65 anos sofrem com esse problema, pois, nessa idade, a pele perde parte de sua barreira protetora. Em seguida, vêm os problemas capilares: 22% da população reclama de queda de cabelo e 18% sofre com caspa. A acne também é uma grande preocupação, afetando cerca de 8% da população mundial. Por último, há os problemas de pigmentação, como o melasma.
Você já mencionou que a saúde da pele é um direito humano fundamental. Por que acredita nisso?
Deveria ser reconhecida como um direito, sim. Os números falam por si: 25% da população sofre com alguma doença de pele, e essa taxa sobe para 50% entre pessoas com mais de 60 anos.
Essas condições são um verdadeiro pesadelo na vida diária. Além disso, a pele desempenha um papel essencial como barreira protetora do organismo. Quando essa barreira está comprometida, ficamos mais vulneráveis a doenças. A saúde é um direito humano fundamental, e a saúde da pele é a base para o bem-estar completo.
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