'Sentia pontadas, achei que estava com gases, mas descobri que era câncer'

Três semanas após se mudar do Rio para São Paulo, a mentora de marketing digital Beatriz Gabriely de Godoy Felix, 26, começou a sentir fortes dores no peito.

"Senti pontadas do lado direito do peito, muito parecidas com dor de gases. Tomei um remédio desses populares, por conta mesmo, mas a dor não passava", lembra Beatriz.

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"Também comecei a tossir, a ter falta de ar e me sentir muito cansada. Era junho de 2024 e estava muito frio. Como eu sou do Rio, não estava acostumada com esse frio que faz aqui em São Paulo. Achei que estava gripada."

Ela decidiu procurar atendimento médico e então veio o diagnóstico: linfoma não Hodgkin no mediastino, um tipo de câncer que afeta o sistema linfático do corpo humano.

Fui internada sem fazer ideia do que eu tinha. Não conseguia respirar, e os médicos identificaram uma massa no meu pulmão, que estava comprimindo os órgãos. Fiz a biópsia e, semanas depois, veio o diagnóstico de linfoma. Imagina você achar que estava com gases ou gripe e descobrir que era câncer. Eu não sabia o que pensar, nem consegui chorar na hora. Só depois, falando com a minha mãe, que desabei.
Beatriz Gabriely de Godoy Felix

Beatriz teve de fazer cirurgia antes de iniciar a quimioterapia
Beatriz teve de fazer cirurgia antes de iniciar a quimioterapia Imagem: Arquivo pessoal

Antes de iniciar o tratamento do câncer, Beatriz precisou fazer uma cirurgia para retirar o líquido que estava acumulado próximo ao coração.

"Enquanto eu fiquei internada, fiquei bem inchada. Por causa do tumor, o sangue não estava circulando direito para a parte superior da minha cabeça. Fiquei com trombose na jugular e no braço esquerdo. Eu mal conseguia abrir os olhos."

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'Me forçava a comer'

Beatriz ficou quase um mês internada e passou por sessões de quimioterapia e radioterapia para tratar um linfoma não Hodgkin no mediastino
Beatriz ficou quase um mês internada e passou por sessões de quimioterapia e radioterapia para tratar um linfoma não Hodgkin no mediastino Imagem: Arquivo pessoal

Beatriz ficou quase um mês internada para o primeiro ciclo de quimioterapia.

Só passava pela minha cabeça que eu iria perder o cabelo. Eu tinha o cabelão lindo, sempre fui muito vaidosa. Cerca de 15 dias depois do início do tratamento, acordei e tinha um monte de fios caídos no travesseiro. Doeu demais, porque ali também caiu a ficha: eu iria viver um processo que mudaria completamente minha vida, minha rotina, minha alimentação.
Beatriz Gabriely de Godoy Felix

Durante o tratamento, Beatriz fez seis ciclos de quimioterapia e também sessões de radioterapia. Ela conta que passou a ter uma alimentação mais saudável, cortou o açúcar, os alimentos embutidos e incluiu mais frutas e legumes na dieta.

Eu recebia a medicação na veia e começava a vomitar. A quimioterapia te deixa muito fraco. Mas, desde o início, coloquei na minha cabeça que não ia ficar magra, com cara de doente. Então, eu vomitava e me forçava a comer porque sabia que precisava ficar forte. Beatriz Gabriely de Godoy Felix

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Exposição nas redes sociais

A jovem diz que sempre foi muito comunicativa e ativa nas redes sociais, mas, quando recebeu o diagnóstico de câncer, ficou mais reclusa e não contou para seus amigos e seguidores sobre a doença.

Beatriz teve de raspar a cabeça em meio ao tratamento e decidiu compartilhar sua jornada nas redes sociais
Beatriz teve de raspar a cabeça em meio ao tratamento e decidiu compartilhar sua jornada nas redes sociais Imagem: Arquivo pessoal

"Até que um dia meu marido me disse que eu deveria voltar, que era uma coisa de que eu gostava. Foi na mesma época em que eu raspei o cabelo devido à quimioterapia. Gravei o vídeo e postei. Só aí que todo mundo ficou sabendo", conta ela.

Desde então, Beatriz passou a compartilhar quase diariamente a rotina convivendo com a doença.

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"Recebo muito carinho e isso me fortalece demais. Também recebo mensagem de pessoas que têm a doença e que encontraram esperança e acolhimento nas minhas postagens. O câncer é muito injusto, né? Ele mexe com o seu corpo, com o seu emocional e a sua autoestima. Você se sente muito sozinho", diz.

Ainda não tive alta. Mas, graças a Deus, o câncer está em remissão e não está mais ativo no meu corpo. Os meus exames de imagem estão todos limpos e a massa diminuiu quase toda. Não foi a pior coisa do mundo ter um câncer. A pior coisa do mundo seria ter um câncer e não tirar nenhuma lição disso.
Beatriz Gabriely de Godoy Felix

Entenda o que é linfoma não Hodgkin

O linfoma é um tipo de câncer que se desenvolve nas células do sistema linfático. O sistema linfático faz parte do sistema imunológico e ajuda o corpo humano a combater as doenças.

São vários os tipos de linfomas não Hodgkin e, entre eles, está o que ocorre no mediastino. "O mediastino é o espaço que nós temos entre a região do coração e os pulmões. E, no caso do linfoma não Hodgkin no mediastino, é ali que o tumor se desenvolve. É um tipo raro de câncer, que ocorre em cerca de 3% dos casos", explica Daniela Dias, hematologista do Instituto Paulista de Cancerologia.

Esse tipo de linfoma acontece, principalmente, em mulheres entre 20 e 30 anos. Entre os principais sintomas da doença estão tosse prolongada, dores no peito, dificuldade para respirar, febre e transpiração excessiva.

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São sintomas que, geralmente, a gente relaciona ao cansaço do dia a dia ou a doenças como gripes e resfriados. Quando, na verdade, pode ser consequência do tumor que está comprimindo os órgãos e vasos naquela região. Por isso, é importante procurar um pronto-atendimento se a pessoa apresentar esse conjunto de sintomas que persiste por algum tempo.
Daniela Dias, hematologista

Alguns fatores de risco estão associados à doença. Entre eles, se destacam a genética, infecções prévias por alguns tipos de vírus, como a mononucleose, doenças autoimunes que utilizam imunossupressores e exposição prolongada a alguns produtos químicos, como pesticidas e solventes.

O diagnóstico inicial é feito por um exame de imagem, como raio-x e tomografia. Depois, é necessária uma biópsia para a constatação final. "É realizada uma pequena cirurgia, onde se retira uma amostra da lesão tumoral no local", diz a médica.

Uma vez diagnosticada a doença, o paciente dá início ao tratamento, que geralmente começa com quimioterapia. "Normalmente, se inicia com quimioterapia infusional, que é realizada com o paciente internado. O tratamento também pode incluir radioterapia para reduzir o tumor. A gente considera que esse tipo de linfoma tem ótimas chances de resposta, com grandes possibilidades de cura, quando descoberto no início", diz a hematologista.

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