Não consegue guardar segredo? O que leva alguém a ser fofoqueiro
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Há uma frase, atribuída ao psicanalista Sigmund Freud, que determina: "Quando Pedro me fala de Paulo, sei mais de Pedro que de Paulo". Embora sua autoria seja discutida, é certo que a declaração atinge em cheio quem tem mania de fofocar.
É válido ressaltar que fazer fofoca consiste em um hábito socialmente arraigado em praticamente todas as culturas — afinal somos curiosos por natureza e, consequentemente, interessados na vida alheia. Porém, os motivos pelos quais falamos dos outros ou passamos o "disse me disse" adiante revelam muito a respeito de nosso caráter, nossa personalidade e até como anda a nossa vida.
O que há por trás da fofoca
Maledicência, intuito de causar intrigas, especulações, confabulações sem fundamento e até a divulgação da intimidade das outras pessoas costumam permear essas conversas.
Para Blenda de Oliveira, psicóloga e psicanalista, a maioria das fofocas é tóxica e desrespeitosa porque simplesmente não há autorização de quem é envolvido para passar a informação adiante. "Além disso, essa informação às vezes sequer corresponde à realidade. Sabe aquele ditado 'quem conta um conto aumenta um ponto'? Pois é, o que se espalha, em diversos casos, sofre alterações e chega aos ouvidos alheios de forma deturpada", diz.
Os fofoqueiros, geralmente, sofrem de baixa autoestima e apresentam uma necessidade enorme de chamar a atenção dos demais. "Ao propagar os 'mexericos', acabam tornando-se pessoas 'importantes', pois são eles que detêm aquela informação e que têm poder sobre ela", fala Joselene L. Alvim, psicóloga clínica especialista em neuropsicologia.
Inveja também explica

À medida que o fofoqueiro desvaloriza o outro e suas qualidades, subliminarmente está emitindo a mensagem de que é melhor do que aquela pessoa, deixando subentendido que jamais faria algo semelhante. Não se trata de um mecanismo consciente. Aliás, uma análise mais apurada indica que a intenção da mensagem não tem nada a ver com a realidade.
Segundo a psicanalista Gisele Gomes, quando falamos sobre alguém ou sobre uma característica sua que nos incomoda, estamos falando sobre nós mesmos. "Isso acontece porque a fofoca tem, em sua essência, o mecanismo de defesa da projeção, que em psicanálise é uma forma do indivíduo defender-se dos próprios desejos imputando-os a outro sujeito", diz.
Segundo Gomes, a fofoca também traduz os valores e preconceitos que o fofoqueiro carrega dentro de si e é uma forma de reproduzi-los ou fortalecê-los em seu círculo de convivência.
Há algo de positivo nos 'mexericos'?
Para Gomes, a fofoca pode partir de uma estrutura psíquica perversa que prejudica a sociedade. "O uso indiscriminado das redes sociais e as fake news estão aí para chancelar esta premissa", diz. Até mesmo os laços sociais supostamente construídos ou reforçados em torno de futricas são frágeis —dá para confiar em quem passa adiante uma fofoca?
Mas a fofoca pode trazer algo de positivo quando ligada à necessidade de contar histórias. "Se não há a intenção de prejudicar alguém, por exemplo, não há problema. É o que ocorre entre amigos num happy hour falando do chefe ou dos colegas. Tem a ver com o dia a dia e não existe a vontade ferir ou fazer alguém passar vergonha ou ver sua imagem destruída", diz Oliveira.
Outro benefício é usar o hábito como um exercício honesto de autoconhecimento. "Refletir sobre tais aspectos não é um trabalho agradável, pois de certa forma causa sofrimento", diz Alvim. Segundo ela, a fofoca pode ser um escape. "Em vez de buscar melhorar, ela fala mal do outro. É uma saída que traz alívio momentâneo, pois a dificuldade da pessoa ainda permanece dentro dela. Por isso ela sempre criará fofocas como estratégia", declara.
Assim, a compreensão dessa atitude e desse mecanismo pode ajudar a pessoa a refletir melhor sobre si mesma — em alguns casos, uma psicoterapia pode ser indicada para reforço da autoestima.
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