Infarto, impotência sexual, paranoia: veja os riscos do uso de anabolizante

O fisiculturista e promotor de eventos Marcos Antônio Moraes Paz, 32, morreu no sábado em Goiânia após ter uma crise convulsiva devido ao uso de anabolizantes, segundo a família. A esposa dele contou que havia alertado sobre os efeitos negativos das substâncias na saúde, mas ele disse que estava ciente do "preço para subir em um campeonato".

Danos causados por anabolizantes podem ser irreversíveis

Uso de anabolizantes para fins estéticos pode causar efeitos colaterais e danos permanentes. Infarto, impotência sexual, ansiedade, acne e hepatite estão entre os problemas. Diversos estudos científicos já comprovaram os prejuízos e outros ainda estão sendo estudados. Há consequências também na queda do cabelo, distúrbios da função do fígado e aumento da pressão arterial, além de outros problemas ligados à circulação, como trombose e arritmias.

Além do corpo, saúde mental também é afetada. Os esteroides anabolizantes podem levar a comportamento agressivo, ansiedade, paranoia e até alucinações. Usuários comumente sentem impulsividade, intolerância, veem mudança de humor súbita e ciúme patológico. Pessoas com tendência ou transtorno prévio podem sentir piora do quadro.

Nas mulheres, o uso pode levar ao surgimento de características sexuais secundárias masculinas. Por exemplo, crescimento de pelos no rosto, engrossamento da voz, pele mais grossa e oleosa, diminuição dos seios e aumento de apetite. Além disso, podem ocorrer ainda aumento do tamanho do clitóris e irregularidade nos ciclos menstruais.

Os efeitos ocorrem durante o uso e podem se prolongar após interrupção. Os danos são cumulativos e, nos homens, o uso de hormônio artificial bloqueia a produção própria de testosterona. "A função do testículo fica muito reduzida [com o uso de anabolizantes] até que, depois de meses ou anos [após a interrupção], ela vai retornando. Mas, em alguns casos, a produção de testosterona pode ficar comprometida para sempre", disse à Agência Einstein Henrique Cardoso Cecotti, endocrinologista do Hospital Israelita Albert Einstein.

Os esteroides anabolizantes e androgênicos são hormônios sintéticos. Foram criados para tratar uma deficiência na quantidade de testosterona ou de outros hormônios andrógenos produzidos nos testículos. Entre as condições que podem ser tratadas estão puberdade tardia, hipogonadismo (produção insuficiente de hormônio sexual), micropênis neonatal (condição rara na qual o tamanho do pênis é menor do que o padrão) e caquexia (perda extrema de tecido adiposo, osso e músculo, comum em pacientes oncológicos). Para tratar doenças, existe consenso científico para o uso.

O uso para fins estéticos é vetado. Em 2023, o CFM (Conselho Federal de Medicina) proibiu a prescrição médica de terapias hormonais "com finalidade estética, para ganho de massa muscular e/ou melhora do desempenho esportivo". A justificativa da medida é a inexistência de comprovação científica que sustente o benefício e segurança do paciente ao utilizar essas terapias.

Remédios passados para o fisiculturista foram prescritos por nutricionista que não estava habilitado para exercer a profissão, conforme a família. Em consulta no Conselho Federal de Nutrição feita pelo UOL, a habilitação do homem aparece cancelada por inscrição provisória vencida. Marcos teria recebido dele uma lista de medicações que deveria tomar, entre elas estão a trembolona e clenbuterol —de uso veterinário. A Polícia Civil investiga o caso. Em nota, a corporação informou que já solicitou uma perícia cadavérica.

*Com informações de reportagens publicadas em 18/06/2023 e 22/04/2024

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