Corpo 'empanado' e maior gasto calórico: como é fazer academia na areia
Ler resumo da notícia
Demorou seis anos, mas hoje posso dizer que sou uma pessoa que gosta de fazer exercícios físicos. Depois de aderir à musculação, já fiz natação, pratico corrida e pilates, experimentei beach tennis e spinning. Então foi com animação e curiosidade que testei um treino de musculação com funcional na areia, mas sem praia.
Numa academia no bairro Tatuapé, zona leste de São Paulo, os aparelhos convencionais onde se fortalecem pernas e braços estão sobre uma camada de areia fina. Eu, que não estou acostumada, já estranhei a instabilidade para andar, mas logo entendi o propósito.
A areia exige mais energia do corpo para se mexer, então junto com a aula proposta, o gasto calórico é maior e cansa bem mais. Como foi minha primeira aula, tive de tomar cuidado, pois meus pés foram afundando e tive de fincá-los bem no chão para não escorregar em alguns momentos —problema que os veteranos parecem não ter, pelo que notei.
Como foi o treino
Era dia de treinar superiores, e a aula de 45 minutos foi dividida em quatro etapas. As etapas eram um aquecimento com mobilidade articular, exercícios só com peso corporal, musculação com treino funcional e relaxamento para finalizar.
Gostei da dinâmica rápida. Foi um circuito de dez exercícios por 40 segundos cada, em duas rodadas. Tinha elevações lateral e frontal, supino, crucifixo, flexão, abdominal e puxada alta.
Entre uma rodada e outra, vinham os exercícios com o peso do corpo feitos na segunda etapa. Entre eles, polichinelo, corrida estacionária e prancha, ou seja, você faz fortalecimento e cardio no mesmo treino.
Em alguns momentos, me desequilibrei na areia. O colchonete escorregava na hora de fazer burpee e também ficava cheio de areia e pingos de suor. Com as passadas dos alunos, buracos vão se formando no chão, o que gera um desnível embaixo do colchonete.
Quem tem prática na modalidade parece lidar melhor com essas dificuldades de iniciante. Acredito que é só questão de tempo e prática para se acostumar e pegar as manhas. Além disso, há panos e álcool sempre por perto para limpar os aparelhos.
Areia pode ser desconfortável. Um relato muito pessoal: fiquei com braços e pernas cobertos de areia e esse sensorial é um pouco desconfortável para mim. Nada crítico, mas fico querendo me limpar por completo sempre, o que é inviável. Também fiquei um pouco aflita por não poder passar a mão no rosto para tirar o excesso de suor, porque ela estava com areia e eu não queria encostar perto dos olhos.
Destaques do treino na areia
Aula coletiva com pequeno grupo: tinha mais seis pessoas comigo, então senti que o professor dava a devida atenção a todos, observando cada desempenho. Para quem vê o ambiente como um local para conexão, é uma boa opção.
Maior gasto calórico: meu relógio calculou que gastei 360 calorias, mais do que perco em treinos convencionais no mesmo tempo.
Quebra de barreiras: como os exercícios são calculados por tempo, não por repetições, em muitos deles eu superei a barreira das 12 ou 15 execuções ao longo dos 40 segundos. Ao fim de cada um, tive aquela sensação de "caramba, eu consigo fazer mais!".
Consciência corporal: concentrei-me em como meu corpo se mexia naquele terreno novo, prestei atenção em quais músculos estavam sendo demandados e acredito que, com o tempo, o equilíbrio e a força melhoram.
Mas de onde veio essa ideia?
A academia 4BeachGym foi idealizada pelo profissional de educação física Rogério Sthanke, que anos atrás deu aulas de treinamento funcional na areia na arena do Jockey Club de São Paulo. Como personal trainer, diz que sempre gostou de práticas que também fossem uma experiência única.
De olho na modalidade e no crescimento do setor fitness com propostas variadas, decidiu investir em uma academia pé na areia, hoje no modelo de franquias com unidades em Alphaville e Brooklin, além do Tatuapé. "É uma academia que envolve paixão, movimento, lado sensorial e a sensação de liberdade de pisar na areia", diz.
A ideia, segundo ele, é ir na contramão das grandes redes que "ganham mais dinheiro com quem não vai" e onde as pessoas geralmente não se sentem acolhidas.
Nessa selva de pedra que a gente vive em São Paulo, o paulistano merece uma academia que simule praia, no começo ou final do expediente. Rogério Sthanke, personal trainer e fundador da 4BeachGym
A academia que visitei é equipada com cadeira extensora e flexora, uma estação crossover, máquina de leg press inclinado, banco, barra, anilhas, halteres, pesos kettlebell e colchonetes.

Os aparelhos são chumbados no chão para segurança dos alunos, e Sthanke diz que foram adaptados para resistir na areia. "Não vai graxa e não enferruja."
A areia não é a mesma da praia, mas ele não revela o material. "É específica para a prática de atividade física, tem higienização e tratamento contra bactérias." A quantidade de areia também é calculada de acordo com a área para não causar lesões.
O personal diz que o impacto do corpo na areia é menor, mas o esforço físico é maior devido ao solo instável. Isso ajuda a fortalecer os músculos estabilizadores e, com o tempo, melhorar o equilíbrio e a coordenação motora.
Ele conta que, no começo, as pessoas iam à academia por curiosidade, para experimentar a novidade. Mas após quatro meses da primeira unidade, viu a adesão se concretizar.
"Deixou de ser o público que vem uma vez ou duas por semana, e agora tem o público que vem todos os dias", afirma. "A gente não só entrega experiência como substitui a academia convencional."
3 comentários
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.
Tatiane Fuzita Hockmuller
Eu sou uma dessas aulas "diárias" da academia e posso afirmar que a experiência de entrar na areia e o acolhimento que recebemos na 4Beach mudou a minha vida. Nunca gostei de musculação, mas você sente prazer em treinar nesse clima praiano, com pessoas fantásticas e professores acolhedores.
Geraldo Dias Netto
Isso é normal. Cada hora inventam uma modinha. Pelo jeito, agora é essa. No final das contas, quem malha pesado não estará nem aí, seja homem ou mulher. E continuarão tendo ótimos resultados, enquanto os modinhas apenas se lesionam e saem todos sujos.
Sandra Regina Zarpelon
Para que fazer exercícios no conforto, né? É necessário arrumar uma utilidade para as centenas de quadras inúteis de areia depois da moda do beach tenis passar. Antes, os ortopedistas especialistas em ombro estavam sobrecarregados. Agora serão os especialistas em tornozelos. "Quantidade de areia calculada para não causar lesões" é a parte mais engraçada da coisa toda