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Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Uso excessivo da internet pode levar ao 'apodrecimento' mental?

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Imagem: Getty Images

Colaboração para VivaBem*

20/03/2025 12h43

A baixa qualidade de diversos conteúdos online pode afetar o cérebro daqueles que passam tempo demais os consumindo. É o chamado "brain rot", ou "podridão cerebral".

Apesar de ter surgido em 2007, o termo em inglês ganhou popularidade o ano passado, depois que foi eleito como a palavra do ano de 2024 pelo Dicionário Oxford. O "brain rot" descreve o que acontece quando você passa tanto tempo online, transferindo sua consciência para esse ambiente, e não mais para a vida real, causando uma obsessão pelo que foi postado ou pelo que pode ser postado.

Efeitos no cérebro do uso excessivo de conteúdo ruim

O abuso de jogos, videogames, internet e, especialmente, das redes sociais, afeta as pessoas de várias formas.

"Primeiro tem a questão do culto da beleza, da vida perfeita, então há um mecanismo comparativo em que parece que a vida do outro é melhor, que ele está melhor financeiramente, fisicamente, e isso gera uma pressão tanto interna quanto social em busca da perfeição", analisa o psiquiatra Gabriel Okuda, do Hospital Israelita Albert Einstein (SP).

Segundo o especialista, isso tem impactos diretos na saúde. "Essa busca por aprovação constante, de alcançar mais likes e seguidores, pode provocar ansiedade e sintomas depressivos."

Além disso, o grande volume de informações também tem seu impacto. "Não conseguimos lidar com tanta informação ao mesmo tempo e prestar atenção em tudo. As pessoas consomem cada vez mais conteúdo em menos tempo, são coisas que não prendem tanto a atenção, vídeos curtos, pouco texto, bordões para aprender rápido", diz o especialista. Não à toa, há uma explosão de queixas de falta de atenção e memória, observa o psiquiatra.

Em muitos casos, a "podridão cerebral" causada pelo uso sem controle da internet é resultado de outros distúrbios presentes e até mesmo escondidos. Esses usuários se sentem entorpecidos ao rolar feeds sem esforço ou em longas sessões de jogos online. A dependência das telas é um problema que pode afetar vários campos da vida, como relacionamentos e trabalho.

Estudos reforçam o perigo do excesso

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Uma revisão publicada no periódico PLOS Global Public Health coloca o uso de redes sociais ao lado do tabaco, do álcool e do hábito de jogar como fator de risco para sintomas depressivos, ideação suicida e autolesões.

Já uma meta-análise de 27 estudos de neuroimagem revelou que o uso excessivo de internet está associado a uma redução no volume de massa cinzenta em regiões críticas do cérebro responsáveis pelo processamento de recompensas, controle de impulsos e tomada de decisões. De acordo com Michoel Moshel, pesquisador da Universidade Macquarie, da Austrália, essas alterações são semelhantes às observadas em casos de dependência de substâncias como metanfetaminas e álcool.

O que fazer?

Buscar tratamento é necessário. Quem tem dependência de telas e vício digital deve considerar ajuda psicológica.

Especialistas recomendam ainda uma abordagem em duas frentes: qualidade e quantidade. É fundamental estabelecer limites claros para o tempo de tela e fazer um esforço consciente para se desligar. Atividades que exigem presença física, como esportes ou reuniões com amigos, são essenciais para neutralizar os efeitos negativos do uso prolongado da tela.

Também é importante dar prioridade a conteúdos educativos que evitem características viciantes e estabelecer intervalos regulares. Porque, como sugere a pesquisa, o "cérebro podre" pode ser mais do que uma metáfora, mas um processo real de deterioração cognitiva causada por nossos hábitos digitais.

*Com informações de reportagens publicadas em 27/06/2024, 19/10/2024 e 18/01/2025


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