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'Vazava pus e dormia chorando': ela conta saga para tratar acnes terríveis

Leticia Pelegrino teve problema com acnes, mas melhorou após tratamento adequado - Arquivo pessoal Leticia Pelegrino teve problema com acnes, mas melhorou após tratamento adequado - Arquivo pessoal
Leticia Pelegrino teve problema com acnes, mas melhorou após tratamento adequado Imagem: Arquivo pessoal

de VivaBem, em São Paulo*

21/03/2025 05h30

Quando apareceram algumas acnes em seu rosto, Leticia Pelegrino, 21, fez o que muitas jovens fariam: buscou uma limpeza de pele.

Mas as inflamações pioraram: em três meses, o quadro que era de apenas pequenas bolinhas no rosto evoluiu para uma situação incômoda, e a jovem, então com 15 anos, passou a usar a dose máxima de isotretinoína, um medicamento para casos graves de acne, conhecido pelo nome comercial de Roacutan.

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Em nove meses, o rosto de Letícia estava cheio de caroços com pus, causando dor até para dormir. A VivaBem, Letícia contou sua jornada com a acne e como voltou a ter a pele sem marcas.

O rosto da Letícia estava assim quando ela procurou a limpeza de pele Imagem: Acervo pessoal

'Em vez de melhorar, o quadro agravou'

"Eu estava com algumas acnes me incomodando, mas nada anormal para uma adolescente. Então, resolvi fazer uma limpeza de pele.

Procurei uma clínica em que a esteticista também era farmacêutica e comecei um protocolo. Ela usava alguns ácidos que faziam minha pele arder bastante e, em vez de a acne melhorar, o cenário foi se agravando.

Não foi barato. Além do valor das limpezas, ela também me indicou alguns produtos (três tipos de sérum, um ácido, sabonete, protetor solar e hidratante) para cuidados com a pele que, no total, custaram R$ 2.500, comprando diretamente com ela.

Como o rosto da Letícia estava após as limpezas de pele Imagem: Acervo pessoal

Fiz limpeza de pele com ela por uns três meses até a própria esteticista me dizer que o ideal seria eu procurar um dermatologista. Nada melhorava, tudo piorava.

'Não conseguia mais comer à mesa'

Encontrei um médico do convênio e, na primeira consulta, ele me receitou isotretinoína e mais nada.

Comecei a tomar dois comprimidos por dias. Quando voltei, depois de 30 dias, ele disse que era melhor continuarmos nosso tratamento sem ser pelo convênio. No particular, segundo ele, seria mais fácil marcar consultas. Eu e minha mãe aceitamos.

Toda vez que eu voltava, meu caso estava pior e ele me dizia que ia melhorar. Eu sabia que primeiro aconteceria uma piora, mas o tempo passava e a situação só se agravava.

Ele via que meu rosto estava cada vez mais inchado, apertava minhas bochechas e via que estavam febris e não me passava mais nada para aliviar a dor que eu estava sentindo.

Meu rosto começou a ter caroços altos, inflamados, sempre muito vermelhos e inchados. Não conseguia mais comer à mesa com meus pais. O movimento de mastigar poderia derrubar alguma casquinha do meu rosto e vazava pus.

Rosto da Letícia com o uso de isotretinoína Imagem: Acervo pessoal

Era pandemia, então eu não via ninguém além da minha família. Parei de me olhar no espelho, porque minha autoestima estava muito abalada. Dormia chorando de dor: as inflamações eram muito incômodas.

Fiquei seis meses me consultando com esse médico, pagando R$ 500 por consulta e sempre tinha aquela pontinha de esperança. Na minha última consulta com ele, o médico apertou meu rosto e me lembro de sentir muita dor.

Ouvi que ele suspenderia o uso da isotretinoína para ver o que aconteceria. Fiquei desesperada. Me senti parte de um experimento, como se ele não soubesse o que estava fazendo. Na hora, comecei a chorar.

Letícia viu problemas se agravarem após aplicação de ácidos Imagem: Arquivo pessoal

'Foram 10 meses de tratamento'

Fui embora com a minha mãe aos prantos até a casa do meu avô. Lá, minha madrinha me viu muito abalada e indicou outra dermatologista. Essa médica me atendeu no dia seguinte e mudou completamente meu tratamento.

Ela foi muito empática, entendeu a minha dor, conversou comigo. Na hora, retirou a isotretinoína imediatamente para tentar outro tratamento. Ela receitou antibiótico e anti-inflamatório e, em um mês, meu rosto já estava melhor. As bolhas de pus murcharam, não parecia mais que iam explodir. Passei a tomar isotretinoína só duas vezes na semana.

Rosto da Letícia após o terceiro tratamento contra acne Imagem: Acervo pessoal

Passei a ter esperança de que ia conseguir superar essa fase. Foram 10 meses de tratamento para dar tudo certo. Até probiótico tomei e minha pele voltou a clarear. Depois que meu rosto desinflamou, eu consegui usar skincare focada nas manchas.

Hoje sinto que estou curada, não tenho mais acne."

Entenda o quadro e tratamentos

Acne é uma doença de pele. Ela ocorre quando há um processo inflamatório nas glândulas sebáceas e nos folículos pilosos. Ou seja: é resultado de uma mistura de células mortas e da substância oleosa natural da pele —além de bactérias que já vivem nos poros. Esse bloqueio causa a inflamação e formação de pus no rosto.

A reação de Letícia pode ter sido consequência de um caso de acne fulminante. "Nesses casos, o rosto pode ter eclosão de nódulos e cistos, com febre e mal-estar", explica o dermatologista Orlando Farias, membro titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia e professor da Afya Educação Médica Belém (PA).

A acne fulminante é um tipo grave e raro que acontece com mais frequência em pacientes jovens e do sexo masculino. "O paciente pode até desenvolver um quadro de febre, dor no corpo, além de alterações nos leucócitos [células de defesa] e função hepática", explica Alessandra Romiti, dermatologista e assessora do Departamento de Cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). O quadro pode ser desencadeado por predisposição genética, uso de hormônios ou de isotretinoína em doses altas.

A limpeza de pele é um procedimento básico de retirada dos cravos e não deve ser utilizada durante um quadro de inflamação grave. Não é indicado manipular essas lesões.
Alessandra Romiti, dermatologista

O importante é sempre procurar um médico antes de usar qualquer produto ou se render a procedimentos. "Medicamentos e cosméticos errados podem piorar o caso. Há uma grande explosão de profissionais não especializados e influencers que indicam produtos que não são ideais para todo tipo de pele, que podem causar a obstrução dos folículos", diz Farias.

Cada tipo de remédio funciona de maneira diferente, e o médico vai indicá-lo conforme a gravidade da acne e a partir de outras particularidades do paciente. Ainda assim, existem os que são mais comuns, seja de uso tópico (peróxido de benzoíla, retinoides e ácido salicílico) ou oral (isotretinoína); já os antibióticos estão disponíveis das duas formas.

Como age a isotretinoína?

A isotretinoína é um tratamento seguro e eficaz contra acne. "Esse remédio tem alto índice de sucesso terapêutico quando usado da maneira correta e receitado por um profissional experiente, que vai conseguir orientar a paciente de forma segura", diz Farias.

É comum que, nas primeiras oito semanas do uso da isotretinoína, a pessoa apresente ainda mais acnes, antes de começar a melhora da pele. "Normalmente, com o tempo a acne reduz e o médico, se preciso, pode atrelar ao uso de outros medicamentos, como o corticoide por um curto período", explica a dermatologista Cibele Hasmann, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

Alimentação influencia?

Alimentos pró-inflamatórios (como açúcar e cereais refinados, gorduras trans e saturadas, carnes vermelhas e processadas e alimentos alergênicos) favorecem o aparecimento da acne. A ingestão de lácteos e de opções com alto índice glicêmico (doces em geral) também causa o aumento da produção de hormônios andrógenos e de sebo associados à acne. Estresse e ansiedade também podem afetar os hormônios do corpo e, consequentemente, a produção de óleo na pele, o que aumenta a probabilidade de espinhas.

*Com informações de reportagem publicada em 07/07/2023


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