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Mulher engravida com sêmen coletado após morte de marido; entenda

De VivaBem*, em São Paulo

23/03/2025 05h30Atualizada em 24/03/2025 12h20

Mais de um ano depois da morte do marido, a australiana Ellidy Pullin não esperava passar por uma experiência que mudaria de vez sua vida: o nascimento da filha, fruto de uma fertilização in vitro com o esperma coletado após a morte do marido. O casal já estava tentando engravidar havia meses, sempre com resultados negativos.

Coleta de esperma após a morte do marido

Alex "Chumpy" Pullin, marido de Ellidy, morreu em julho de 2020, aos 32 anos, enquanto realizava uma pesca submarina na costa leste da Austrália. Porta-bandeira da Austrália nos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi-2014, ele era duas vezes campeão do mundo de "snowboard cross".

Ellidy foi informada por uma amiga que a coleta do esperma poderia ser realizada. Mesmo em meio à comoção pela morte do marido, a amiga sabia das tentativas de gravidez do casal e comentou sobre a possibilidade de o procedimento ser feito com Pullin.

Ellidy e a família tiveram pouco tempo para encontrar um médico e um advogado. A extração de uma amostra viva do esperma do marido ocorreu 36 horas após a morte de Alex Pullin e foi feita por um médico. Ellidy falou sobre o caso em entrevista ao programa de rádio Outlook, da BBC internacional.

Ellidy ao lado de Alex Pullin, que morreu em 2020 Imagem: Reprodução/Instagram @ellidy_

Para ser sincera, quando soubemos que o esperma estava na geladeira, não pensamos mais no assunto por muito tempo. Mal conseguíamos superar o fato de que estávamos sentados, e que Chumpy não estava conosco. Ellidy Pullin à rádio Outlook, da BBC

Como é o procedimento e qual a regra no Brasil?

O procedimento feito pela australiana é chamado de coleta de esperma post-mortem. A coleta tem de ser realizada poucas horas após a morte. Segundo os Institutos Nacionais de Saúde (NIH, na sigla em inglês) dos EUA, quanto mais tempo passar, menores serão as chances de conseguir uma gravidez, e não há casos registrados de sucesso após 36 horas.

Vários métodos podem ser usados pelos médicos para a coleta. A técnica exige que uma instalação de criopreservação esteja disponível e próxima para garantir o acondicionamento do gameta, segundo um estudo de caso publicado sobre o tema na revista Clinical Practice and Cases in Emergency Medicine. Após congelado, o gameta pode ser usado em uma fertilização in vitro.

A coleta de sêmen após a morte, como feita pela australiana, não é permitida no Brasil. De acordo com a especialista em reprodução humana Maria do Carmo Borges de Souza, diretora do centro de reprodução humana Fertipraxis, o país não tem uma legislação específica para essa situação.

Em situações emergenciais de morte (como o exemplo da australiana), ou quando há uma pressão familiar para fazer essa coleta do sêmen (após morte), isso não está contemplado dentro da norma do Conselho Federal de Medicina. Não há uma lei no país que o diga, mas seria uma situação em que o médico profissional estaria fazendo alguma coisa que não necessariamente aquele homem teria concordado ou permitido.
Maria do Carmo Borges de Souza, médica especialista em reprodução humana

O que é feito aqui, com regras, é a reprodução assistida post mortem, um procedimento que envolve o uso, após a morte de um dos cônjuges, de óvulos, espermatozoides ou embriões que tenham sido previamente congelados. Na resolução nº 2.320/2022 do CFM, há um tópico envolvendo a técnica após a morte: "É permitida a reprodução assistida post mortem, desde que haja autorização específica para o uso do material biológico criopreservado em vida, de acordo com a legislação vigente."

Ellidy Pullin com a filha recém-nascida Imagem: Reprodução/Instagram @ellidy_

O casal deve preencher e assinar um documento. Caso não exista essa autorização prévia, os conselhos médicos regionais podem negar o pedido. Maria do Carmo Borges de Souza reforça que só é possível usar o sêmen congelado com autorização prévia. A técnica é mais comum quando uma das pessoas tem uma doença grave e permite que o material seja utilizado mesmo em uma possível morte.

Gravidez da australiana deu certo

Quinze meses depois da morte do marido, a australiana anunciou a gravidez. No Instagram, ela escreveu: "Seu pai e eu sonhamos com você há anos, pequena. Com uma reviravolta de cortar o coração, estou honrada em finalmente dar as boas-vindas a um pedaço do fenômeno que é Chumpy de volta a este mundo."

Quando meu amor sofreu seu acidente, todos nós mantivemos a esperança de que eu estaria grávida naquele mês. Estávamos tentando ter um bebê. A fertilização in vitro estava em nossos planos, mas não era algo que eu imaginava que enfrentaria sozinha. Ellidy Pullin, no Instagram

Em 25 de outubro de 2021, nasceu Minnie Alex Pullin. Em entrevista à rádio, Ellidy disse que sente a falta de Chumpy o "tempo todo". "Mas a vida se desenvolve e cresce em torno da dor. Estou muito ocupada com a Minnie, com o trabalho. Penso nele todos os dias."

* Com informações de reportagem publicada em 03/01/2021.


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