O que acontece no seu corpo quando você toma paracetamol

Se a dor é uma das queixas mais comuns nos consultórios médicos, a maior preocupação destes profissionais é oferecer a melhor estratégia terapêutica para controlar o sintoma. Entre as medicações mais utilizadas em todo o mundo para esse fim, destaca-se o paracetamol.

Conhecido também como acetaminofeno, esse remédio garante ação analgésica, anti-inflamatória mínima e antipirética —ou seja, além de reduzir a dor, ele combate a febre e as inflamações.

Classificado como um Aine (Anti-Inflamatório Não Esteroidal), ele é útil no alívio de incômodos leves —como dor de cabeça, de dente ou muscular, artrite, cólica menstrual etc.— e é considerado seguro, mas, como todo medicamento, não está isento de efeitos indesejados.

O paracetamol é o MIP (Medicamento Isento de Prescrição) mais usado em todo o mundo.

Ele consta da lista da Rename (Relação de Medicamentos Essenciais) 2024 do Ministério da Saúde e pode ser obtido gratuitamente pelo SUS.

Dadas as suas características, e a depender do tipo de dor, pode ser indicado para uso isolado ou em combinação com outros analgésicos.

Os efeitos no seu corpo

Quando comparado a outros Aine, o paracetamol é hoje considerado a primeira linha de tratamento da dor que aparece de forma repentina (aguda). Isso se deve ao seu perfil de segurança, eficácia, além do baixo custo.

Apesar disso, é importante lembrar que esse medicamento não trata doenças, só alivia sintomas. Confira o que esperar após a sua administração:

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A dor e a febre dão uma trégua

Até o momento os cientistas não conseguiram esclarecer totalmente como o paracetamol age para bloquear a dor e reduzir a febre.

Uma das hipóteses é que ele atua no centro de dor do cérebro, bloqueando os processos orgânicos que a regulam, assim como a temperatura corporal.

Os efeitos analgésicos podem ser observados de 30 a 60 minutos a partir da administração por via oral.

O fígado pode ser o prejudicado

De modo geral, o paracetamol é uma medicação bem tolerada para a maioria das pessoas saudáveis, apresentando baixa probabilidade de toxicidade quando comparado a outros medicamentos de sua classe.

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Mas atenção: doses maiores que 4 g ao dia são consideradas potencialmente tóxicas para pessoas com o fígado sadio.

Pessoas que fazem uso contínuo de vários medicamentos ao mesmo tempo (polifarmácia) ou que tenham enfermidades no fígado precisam de ajustes de doses quando a única opção de tratamento é o paracetamol.

Já para os que fazem consumo crônico e excessivo de álcool há risco de hepatotoxicidade induzida pelo medicamento, com resultados fatais ou insuficiência hepática.

A explicação para esses efeitos é que o paracetamol pode acelerar o seu próprio metabolismo, aumentando a produção de substâncias potencialmente tóxicas para o órgão.

Efeitos indesejados

Quando o paracetamol é ingerido em doses corretas e por curto período de tempo, os riscos de ter reações adversas é mínimo.

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No entanto, como cada pessoa reage aos medicamentos a seu próprio modo, já foram observadas algumas manifestações, especialmente entre os idosos, crianças, pessoas com problemas nos rins, doenças cardíacas, diabetes, ou que usam outros medicamentos.

Saiba identificar alguns desses efeitos:

Tontura, vertigem, sonolência, ansiedade, inquietação, insônia, sudorese, palpitações, desconforto gástrico, hipertensão.

Reações na pele como vermelhidão (eritema) e urticária são raras, mas podem aparecer.

Caso identifique algum desses sintomas, suspenda o tratamento e procure por ajuda médica ou farmacêutica.

Use, mas não abuse

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), o uso racional de medicamentos pressupõe a utilização de remédios adequados à sua condição de saúde e às suas necessidades individuais.

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Além disso, essa administração deve acontecer por período adequado e com o menor custo possível para você e sua comunidade.

Ao utilizar o paracetamol, é importante estar atento às recomendações do fabricante quanto à sua indicação, dose e tempo de tratamento.

Além disso, é importante observar se os efeitos esperados aparecem. Caso os sintomas persistam ou piorem, certifique-se de que o medicamento foi usado corretamente. Em caso positivo, o melhor a fazer é buscar por ajuda médica.

Uso contínuo

Quando o paracetamol é utilizado apenas para aliviar um quadro de dor passageiro, ele deve ser ingerido pelo menor tempo e na menor dose possível.

Pode ocorrer, porém, que o médico que o acompanha tenha indicado o uso de paracetamol de forma contínua.

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Quando isso acontece, o médico já conhece suas condições de saúde, incluindo o eventual uso de outros medicamentos.

Mesmo nessas condições, devem ser respeitadas duas regras: o limite da dose diária (4 g) e o acompanhamento profissional durante o tratamento.

Cuidado com outros remédios

O paracetamol não combina com alguns medicamentos e com eles pode interagir, seja reduzindo seu efeito, seja acarretando reações indesejadas.

Antes de usar esse medicamento, certifique-se que você não esteja utilizando ou faça uso contínuo das seguintes medicações:

Diuréticos: aumentam o volume da urina produzida, como a furosemida;

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Anticonvulsivantes: utilizados como estabilizante de humor ou antiepilético. São exemplos os barbitúricos, a carbamazepina, hidantoína, rifampicina e sulfimpirazona;

Anticoagulantes: evitam a formação de coágulos no sangue, como a Varfarina.

Outros Aine: analgésico, antipirético e anti-inflamatório.

Antibióticos: como o clorafenicol.

Eu posso ser alérgico ao paracetamol?

Reações alérgicas são definidas como respostas inadequadas do sistema de defesa do seu corpo a uma determinada substância. Esse sistema, também chamado de imunológico, reage de forma exagerada quando exposto a alimentos ou fármacos que, para a maioria das pessoas, não causariam reações.

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Alguns indivíduos são alérgicos a uma só substância; outros a várias delas. E pode ser que, na sua família, alguém já tenha tido esse tipo de reação. Por isso, é importante conhecer o histórico de saúde de seus familiares.

Alguns testes laboratoriais poderão ser feitos para descobrir se uma pessoa tem determinada alergia, mas muitas vezes a reação alérgica é o primeiro sinal que se tem dessa sensibilidade.

Nessas situações você poderá observar os seguintes sinais e sintomas:

Coceira;

Falta de ar;

Erupções na pele;

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Dificuldade para respirar.

A orientação dos especialistas é que você procure pelo serviço de emergência tão logo seja possível.

Saiba usar o paracetamol com segurança

De acordo com os especialistas, o mais importante é entender o conceito do uso racional dos medicamentos para obter o máximo dos benefícios oferecidos por eles.

Além disso, considere que as medicações que são vendidas sem a apresentação de receita médica não estão livres de efeitos colaterais. Para preveni-los, coloque em prática as seguintes medidas:

Evite o uso de paracetamol se o sintoma persiste. Nesses casos, é melhor investigar a razão dessa persistência por meio da consulta com um médico.

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Fique longe de doses superiores a 2 g se você tem alguma doença hepática.

Abstenha-se de usar o paracetamol se você faz uso contínuo de álcool (etilismo).

Esteja atento à dosagem. Ela não deve ultrapassar a 4 g ao dia.

Observe se outros medicamentos que você usa diariamente possuem paracetamol em sua fórmula para evitar dosagens excessivas.

Informe-se com seu médico ou farmacêutico sobre a possível interação de remédios que você usa todo dia com o paracetamol.

Compre paracetamol apenas quando houver necessidade, evitando estocá-lo em casa. Isso reduz o risco de vencimento do remédio e abuso de doses.

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Fontes: Danyelle Cristine Marini, farmacêutica e diretora do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia de São Paulo), professora do curso de Medicina na Unifae (Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino/São João da Boa Vista) e nas Faculdades Integradas Maria Imaculada (Mogi Guaçu/SP); Diogo Kallas Barcellos, médico geriatra com área de atuação em dor crônica, titulado pela SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia) pela SBED (Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor), presidente da SBGG/MG, e integrante da Comissão de Dor na Pessoa Idosa da SBED; Karina Barros, cientista com mestrado e doutorado pela Unifesp e University of Southampton, diretora associada da área médica da Kenvue Latam; Vinícius Nunes, médico gastroenterologista e hepatologista com doutorado (UFBA) e coordenador do Ambulatório de Hepatoxidade do Hupes-UFBA-Ebserh (Hospital Universitário Prof. Edgard Santos da Universidade Federal da Bahia, que integra a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares). Revisão Técnica: Vinícius Nunes.

Referências: Ministério da Saúde.

Gerriets V, Anderson J, Patel P, et al. Acetaminophen. [Atualizado em 2024 Jan 11]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK482369/

Ayoub SS. Paracetamol (acetaminophen): A familiar drug with an unexplained mechanism of action. Temperature (Austin). 2021. Disponível em https://doi.org/10.1080/23328940.2021.1886392

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