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Psicólogas brasileiras em Paris se reúnem para fazer escuta solidária

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Imagem: Getty Images

21/03/2020 12h39

"Somos profissionais de saúde mental e, dada a situação sanitária no momento atual, decidimos nos reunir para criar um tempo de escuta e acolhimento gratuito às pessoas que se deparam com sentimentos e sensações desagradáveis, como ansiedade, tristeza e desesperança, durante este período de confinamento que se inicia". Com esta apresentação, foi criado há dois dias, em Paris, o grupo Tempo de Acolhimento, formado por dez profissionais, para "amenizar os efeitos psíquicos negativos" da quarentena. Os atendimentos são em português e francês.

"Somos profissionais de saúde mental e, dada a situação sanitária no momento atual, decidimos nos reunir para criar um tempo de escuta e acolhimento gratuito às pessoas que se deparam com sentimentos e sensações desagradáveis, como ansiedade, tristeza e desesperança, durante este período de confinamento que se inicia". Com esta apresentação, foi criado há dois dias, em Paris, o grupo Tempo de Acolhimento, formado por dez profissionais, para "amenizar os efeitos psíquicos negativos" da quarentena. Os atendimentos são em português e francês.

A enfermeira e coach Ligia Paraíso tem mestrado em Saúde pela Fundação Getúlio Vargas e faz parte do grupo parisiense, que reúne também psicólogos, psicanalistas e terapeutas holísticos. "O grupo de escuta solidária surgiu de uma força-tarefa convocada pela psicóloga Paula Eskinazi, reunimos as pessoas, criamos o site com agenda de atendimentos em apenas quatro dias. Nossa preocupação é com a saúde mental durante a quarentena", explica Ligia, que foi quem divulgou a iniciativa no grupo de brasileiras na França de uma rede social.

Há um psicólogo francês no grupo e as outras nove são brasileiras radicadas na França. Ligia explica que, nestes novos tempos, "somos obrigados a sair da nossa zona de conforto, mesmo estando em casa".

Perder a rotina de se arrumar para sair e não poder ter vida social afeta o psicológico das pessoas. "Nosso espaço de escuta online é voltado principalmente para quem não tem dinheiro para pagar por um atendimento psicológico. Atendemos por Whatsapp, Skype, Hang out, sobretudo por vídeo, para a pessoa ter um olhar, uma pessoa diante dela", conta Ligia, para quem o olhar do outro "preenche o vazio".

As principais queixas que Ligia ouviu, desde que começou a atender a consultas dedicadas ao confinamento, foram: solidão, falta de experiência de se estar consigo mesmo, medo do novo, do desconhecido, incertezas. Ela mesma teve de adaptar a sua rotina com suas filhas devido à obrigatoriedade do confinamento. "Muita coisa está sendo adaptada, estamos todos nos ajustando", relata.

Impacto psicológico

Radicada em Madri, a psicóloga brasileira Liliam Ferrarezi já atende pacientes online há um ano, desde que se mudou para a capital espanhola. Em quarentena há mais de dez dias, Liliam resolveu oferecer seus serviços gratuitamente depois de ler uma matéria da RFI sobre o impacto psicológico do confinamento na população.

"As pessoas estão em pânico e não conseguem pensar. Estão tendo muita dificuldade de se organizar neste tempos de confinamento. Como aqui na Espanha já estamos em quarentena há mais de dez dias, achei que podia ajudá-las", conta Liliam, que escreveu um post público na sua conta do Facebook oferecendo as sessões gratuitas.

"Como psicóloga clínica, estou disponibilizando alguns horários para atender de forma gratuita pessoas que precisam de ajuda. Em momentos de crise, é natural que haja medo, angústia, desorganização, busca incessante por informações. Se você estiver assim e isto estiver prejudicando a sua vida emocional, entre em contato comigo, vamos conversar. Serão dois encontros online, podendo se estender a três », dizia parte do post de Liliam. Ela conta que os agendamentos começaram em seguida. "Mas as pessoas estão tão perdidas com a questão dos horários que duas novas pacientes faltaram às sessões online justamente por não conseguirem se organizar", relata.

Liliam diz que ajuda as pacientes a "elencarem as prioridades para o dia de hoje". "É um atendimento emergencial, pontual, eu procuro dar uma contribuição para que as pessoas vivam esse momento", diz.

"O que eu vejo é que, para a maioria das pessoas, os problemas já estavam lá e esta questão do coronavírus chegou com muita força. Para muitas pessoas, dependendo da idade ou do estado de saúde, a questão é de vida e de morte. E claro que isso aflora e expande questões que já estavam lá", avalia.

Redes de apoio

A psicóloga conta que atendeu uma mulher com suspeita de coronavírus. Separada, mãe de uma criança, teve de deixar o filho com o ex-marido para não contaminá-lo e para se recuperar. "Tive que mostrar para ela que o principal era a saúde dela, que ela precisava cuidar de si antes de qualquer coisa. E acionei redes de apoio para ela, pessoas que pudessem deixar comida, mas a verdade é que tem muita gente que tem dificuldade em aceitar ajuda", relata Liliam.

Esta reflexão sobre as redes de apoio foi o que levou a psicóloga Paula Eskinazi a criar o grupo Tempo de Acolhimento. "Poderia fazer uma equipe só de psicólogos, mas pensei num grupo onde exista uma diversidade de profissionais, para que as pessoas possam escolher a especialidade que convém melhor a cada um. O paciente escolhe o profissional. Colocamos fotos e descrições no site para que os pacientes escolham", explica.

"Temos psicólogos e psicanalistas, mas temos também coach, focada nas atividades, o que fazer para organizar a semana, questões mais práticas, Reikianos que enviam Reiki, uma técnica de cura japonesa, a distância, sofróloga, que cuida da gestão do estresse e angústia por meio da de respiração e terapeuta de Florais de Bach, técnica de apoio emocional neste momento de crise pânico, dúvida, tristeza, solidão...", conta, sobre a equipe eclética.

Paula lembra que teve a ideia de formar o grupo na segunda-feira (16), saindo do consultório (o confinamento obrigatório na França começou na terça-feira, 17, ao meio-dia). "Eu soube de duas pessoas que entraram em conflito maior e tiveram uma crise de pânico com as notícias sobre o coronavírus e o confinamento. Uma delas teve de chamar o Samu. Pensei imediatamente que precisamos dar suporte emocional para lidar com a angústia coletiva. Como psicóloga, acho que podemos evitar que o Samu seja demandado para este tipo de coisa", explica.

"Estamos ofertando algumas horas por semana de cada um de nós, como apoio para as pessoas confinadas. A pessoa que precisar de ajuda pode marcar de onde ela estiver, no mundo todo. Não é uma consulta psicoterápica, é um espaço de escuta, de acolhimento e apoio", conclui Paula, que sempre faz trabalhos voluntários há anos e acredita que o voluntariado e as redes de apoio são fundamentais nestes tempos de crise.

Serviço:

Confira o site do grupo Tempo de Acolhimento.