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Infectologista francês diz que vacina contra a covid-19 é 'improvável'

Médico manuseando vacina, coronavírus - Cravetiger / Getty Images
Médico manuseando vacina, coronavírus Imagem: Cravetiger / Getty Images

24/06/2020 10h41

A guerra entre os laboratórios e países para a descoberta de uma vacina contra a Covid-19 é tema de um dossiê especial publicado pelo jornal Le Monde desta quarta-feira (24). O vespertino afirma que a disputa tecnológica, somada a uma batalha por financiamentos, é feroz, mas o texto considera difícil que a descoberta aconteça nos próximos meses. O polêmico infectologista francês, Didier Raoult, vai mais longe e diz ao Le Parisien que a vacina contra o coronavírus é "improvável".

Mais de US$ 4,5 bilhões estão sendo gastos nas pesquisas. Os investimentos revelam as fronteiras geopolíticas mundiais e desenham três grandes blocos: Estados Unidos, Europa e China. O objetivo de todo mundo é tentar descobrir a vacina no início de 2021, mas para o Le Monde essa data é quase irreal.

A matéria começa lembrando a polêmica criada pela multinacional francesa Sanofi, que havia sugerido em maio que os americanos, que investiram mais, teriam prioridade na vacina contra a covid-19. O diretor-geral do laboratório, Paul Hudson, voltou atrás na declaração e prometeu investir 500 mil euros em uma nova fábrica na França para garantir o fornecimento de vacinas no país e na Europa. "O grito de guerra parece enterrado, mas a batalha pelo acesso ao produto apenas começou", aponta o jornal.

"Nunca uma vacina foi considerada tão estratégica, essencial para a segurança nacional, a retomada econômica e a saúde pública", pensa a americana Suerie Moon, codiretora do Global Health Center do Instituto de Altos Estudos Internacionais e de Desenvolvimento de Genebra, citada pelo jornal.

Imunização coletiva baixa

A imunização da população contra a doença, que já provocou a morte de mais de 475 mil pessoas em todo o mundo, parece ser a única saída para essa crise. De acordo com estimativa do Instituto Pasteur, entre 3% e 7% da população mundial foram contaminados desde o aparecimento do novo coronavírus na China, em dezembro de 2019. Uma percentagem muito distante dos 60% a 70% necessários para a imunização coletiva e "todo mundo concorda que teremos que aprender a viver com o vírus", diz Moon.

Diante da gravidade da doença, as pesquisas para o desenvolvimento de uma vacina começaram cedo, desde o final de janeiro, e envolvem praticamente instituições de todos os países do mundo, como a Universidade de Oxford, que iniciou testes em voluntários no Brasil esta semana, passando pelo Instituto Pasteur na França ou Harvard nos Estados Unidos, sem esquecer de 10 multinacionais do setor listadas pelo jornal.

São quase 200 projetos de vacina em todo o mundo e quase todos têm como alvo a proteína Spike, que seria a porta de entrada do coronavírus nas células. Apenas 17 deles, desenvolvidos por grupos de pesquisas que reúnem institutos públicos e empresas privadas, começaram os testes clínicos; 150 continuam em fase de laboratório.

Essa competição gera várias questões: ela poderia levar a um impasse, uma vez que todo mundo utiliza o mesmo método para desenvolver a vacina? Os pesquisadores vão compartilhar seus resultados, negativos ou positivos? se pergunta Le Monde. Depois da descoberta, virão as batalhas pela produção e pelo acesso à vacina, lembra o diário.

É ético infectar pessoas sadias?

Le Monde também questiona se nessa corrida é ético infectar voluntariamente pessoas sadias para acelerar a descoberta do produto.

Ao Le Parisien, o polêmico médico e infectologista francês Didier Raoult, defensor ardente da contestada hidroxicloroquina, acaba com as esperanças. Ele acredita mais em uma "imunização natural" do que que numa vacina. Ele lembra que apesar dos bilhões investidos, nenhuma vacina foi encontrada para doenças emergentes e afirma que "estatisticamente é "improvável que uma seja disponibilizada uma vacina contra esse novo coronavírus". Mas atenção, "não digo que isso (a descoberta) não vá acontecer", ressalta Raoult.