"Controle da epidemia depende de cada um", diz epidemiologista francês
A França multiplica as medidas restritivas para conter a propagação da covid-19, mas o número de contaminações bate recordes diários desde o início de outubro. Como explicar que o rígido protocolo sanitário não baste para controlar o número de casos? Em entrevista à RFI, o epidemiologista Pascal Crepey, professor da escola de Altos Estudos da Saúde Pública de Rennes, no noroeste do país, explicou que esse aumento não é surpreendente
Bares e academias fechados, reuniões restritas e máscaras obrigatórias. Como o temido SARS-Cov-2 resiste a todas essas precauções? A resposta é relativamente simples, segundo o epidemiologista francês Pascal Crepey. De acordo com ele, as medidas são eficazes e permitem evitar que o país viva a mesma situação do mês de março, que levou o governo a confinar toda a população.
Na primeira onda da epidemia, diz, o R0, a chamada taxa de reprodução do vírus, era estimada em 3 —o que significa que cada contaminado infectava ao menos três pessoas. Hoje, ela gira em torno de 1,2, aproximadamente a metade. O vírus circula, mas mais lentamente do que na Primavera.
"Todas essas medidas tomadas pelo governo permitem desacelerar a epidemia. Por isso só agora estamos observando a chegada de um número cada vez maior de pacientes aos hospitais", afirma. O aumento do número de casos, esclarece, não começou em setembro, quando teve início o ano letivo, mas em agosto, durante as férias de verão no hemisfério norte. Muitos franceses desrespeitaram o distanciamento social, por exemplo, criando situações propícias para as contaminações - muitas delas em encontros com amigos ou familiares.
"As medidas não são totalmente eficazes para controlar a epidemia porque as contaminações também acontecem na esfera privada. É possível que essas medidas não sejam totalmente respeitadas. É complicado aplicar essas restrições no cotidiano, a longo prazo, mas a população deve se conscientizar desse risco e da responsabilidade de cada um nessa dinâmica da circulação do vírus, para que possamos retomar o controle da epidemia", diz.
Pascal Crepey insiste na necessidade de respeitar o uso correto da máscara e o distanciamento, além de isolar e identificar a rede de contatos de um caso positivo. "Só assim é possível evitar que transmitam o vírus", diz. A política atual de testes do governo francês tem muitas falhas - os laboratórios estão lotados e os resultados demoram para ficar prontos. Isso faz com que os pacientes não sejam isolados no período mais crítico da contaminação - os primeiros dias a partir do início dos sintomas.
Menos leitos
O epidemiologista também explicou que hoje a França tem menos leitos disponíveis nas unidades de terapia intensiva em relação a março. "A capacidade é menor porque quando falamos de 30% de leitos ocupados por pacientes de covid-19, por exemplo, isso não significa que os 70% que restam estejam desocupados, mas ocupados por outros pacientes que não têm a covid", esclarece.
Em março, toda a capacidade hospitalar foi direcionada para receber e tratar os pacientes contaminados pelo coronavírus, em detrimento de outros doentes. "Todos esses pacientes que também precisam ser hospitalizados nas unidades de terapia intensiva, não estavam internados em março - o que significa que temos limites bem mais baixos do que a primavera", explica. Por todas essas razões, a adesão da população francesa na prevenção é fundamental para evitar um drama ainda maior, previne.
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