Covid-19: contra mutações, cientistas criam vacina nasal eficaz em animais
As vacinas contra a Covid-19 atualmente disponíveis no mercado são eficazes para lutar contra as formas graves da doença, mas os imunizantes não bloqueiam a transmissão do vírus, que continua sua propagação. Além disso, o aparecimento de novas variantes pode comprometer a eficácia dos produtos.
As vacinas contra a covid-19 atualmente disponíveis no mercado são eficazes para lutar contra as formas graves da doença, mas os imunizantes não bloqueiam a transmissão do vírus, que continua sua propagação. Além disso, o aparecimento de novas variantes pode comprometer a eficácia dos produtos.
Em busca de um imunizante que controle a disseminação do vírus, uma equipe de pesquisadores franceses do Instituto Nacional de Pesquisa para a Agricultura, a Alimentação e o Meio-Ambiente, em parceria com a Universidade de Tours, criou uma vacina intranasal, que acaba de ser patenteada. O estudo foi conclusivo em animais. O produto pode estar disponível em 2023, se os testes clínicos que começam a partir do ano que vem tiverem o resultado esperado, explicou em entrevista à RFI Brasil a pesquisadora francesa Isabelle Dimier-Poisson, chefe do projeto e professora no laboratório de imunologia parasitária da instituição.
Segundo Dimier-Poisson, a ideia da vacina nasal surgiu a partir de um projeto concluído com sucesso: a concepção e o desenvolvimento de antígenos eficazes contra a Toxoplasmose, encapsulados em nanopartículas biodegradáveis. Administrada em spray, a vacina já foi usada em centenas de animais, e teve sua eficácia estimada em 100%.
"Com base nesses bons resultados, que tivemos há cerca de um ano, decidimos nos lançar na corrida para criar uma vacina contra a Covid-19 que possa ser administrada pelo nariz", explica. Segundo ela, seu laboratório conta com um time especializado na concepção, produção, elaboração e otimização de proteínas recombinantes complexas, usadas para produzir o imunizante. Entre elas, a Spike, que o SARS-CoV-2 utiliza para entrar nas células, e que está presente em todas as vacinas atuais.
A pesquisadora francesa explica que sua equipe, quando concebeu a vacina nasal, partiu da hipótese que a Spike não seria suficiente para lutar contra o vírus, que poderia mutar. O raciocínio dela estava correto: as variantes podem colocar em risco a eficácia dos imunizantes disponíveis atualmente, mas a vacina nasal permanece eficaz. Além disso, os efeitos colaterais são raros.
"Além da Spike, incluímos outras proteínas, que são interessantes porque não sofrem mutações, independentemente da variante. Incluímos proteínas que continuam idênticas aos originais, e isso é de fato a grande vantagem da nossa vacina", ressalta.
A escolha das proteínas baseou-se em uma pesquisa bibliográfica detalhada sobre o comportamento de vírus similares, como o SARS-CoV-1, que circulou entre 2002 e 2004, ou o MERS, que apareceu em 2021 na Arábia Saudita, e também provocavam síndromes respiratórias agudas severas. "São vírus que podemos dizer que têm, potencialmente, um comportamento idêntico ao do SARS-CoV-2", diz.
Nanopartículas
As proteínas recombinantes da vacina nasal contra a Covid-19 também são encapsuladas em nanopartículas biodegradáveis, compostas de amido de milho e lipídios, como no caso do imunizante contra a Toxoplasmose desenvolvido pela equipe. "São nanopartículas que permitem a difusão, no nariz, dos antígenos da vacina, que vão induzir a resposta imunitária desejada."
Em uma segunda fase, a equipe visa realizar os testes em países onde boa parte da população ainda não recebeu o imunizante ou tem uma taxa de vacinação baixa. "É importante dizer também que a vacina é não-invasiva, já que é usada no nariz e tem uma logística simples: pode ser conservada vários anos a uma temperatura a 4º C e vários meses em 20º C. E pensamos também nos países que têm pouco acesso à vacina, ou só tem uma dose. Queremos que se beneficiem do imunizante. Isso é muito importante para nós. "
Por ora, o objetivo da vacina nasal seria impedir as formas graves, mas também a transmissão, protegendo a mucosa do nariz e evitando que o vírus atinja os pulmões. Uma das primeiras etapas dos testes será utilizar o produto em populações vacinadas, como dose de reforço.
Hoje, entretanto, ainda não há um consenso sobre a terceira dose em todas as faixas etárias. Para a pesquisadora, exemplos como o da gripe, cuja vacinação é anual, indicariam a necessidade do reforço. "Na minha opinião, penso que esse reforço será benéfico para evitar que a pandemia continue e para que possamos, um dia, retomar a vida sem distanciamento social e máscaras", conclui.
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