Covid-19: a imunidade coletiva contra o Sars-CoV-2 é possível?
Dois anos depois do início da epidemia de Sars-CoV-2, o mundo ainda vive no ritmo das ondas provocadas pelo novo coronavírus e o aparecimento de novas variantes. Com a chegada da ômicron, mais de 1,5 milhão de casos são detectados todos os dias - o nível mais alto desde o surgimento do vírus, em 2020, segundo dados da plataforma Our World in Data, especializada no recenseamento de dados oficiais internacionais.
Dois anos depois do início da epidemia de Sars-CoV-2, o mundo ainda vive no ritmo das ondas provocadas pelo novo coronavírus e o aparecimento de novas variantes. Com a chegada da ômicron, mais de 1,5 milhão de casos são detectados todos os dias— o nível mais alto desde o surgimento do vírus—, em 2020, segundo dados da plataforma Our World in Data, especializada no recenseamento de dados oficiais internacionais.
Na França, segundo a agência Santé Publique France, mais de 52 milhões de pessoas estão totalmente vacinadas contra a Covid-19, o que representa 78,5% da população, e mais de um milhão aguardam a segunda injeção. Mas, segundo o Instituto Pasteur, um retorno à vida normal não será possível sem que pelo menos 90% da população esteja vacinada. Mas, com a chegada da ômicron, que gera sintomas mais benignos em comparação à delta, a tão sonhada imunidade coletiva seria possível?
Os governos europeus apostam no início de uma fase endêmica da epidemia de SARS-CoV-2 após a quinta onda. Isso significa que, a exemplo da gripe, ele se tornaria um vírus sazonal. A OMS, recentemente, admitiu essa possibilidade. O diretor do escritório regional da organização, Hans Kluge, disse que o continente pode estar se aproximando do fim da crise sanitária. Segundo a OMS, 60% dos europeus podem pegar a ômicron até março.
Após uma fase de circulação intensa, combinada à vacinação e à imunidade proporcionada pela infecção natural, é esperado um período de calmaria, confirma Jean-François Saluzzo, ex-diretor do Instituto Pasteur em Dakar, no Senegal, e autor do livro "A Saga das Vacinas contra os Vírus".
Segundo ele, as epidemias terminam "sozinhas", sem intervenção da medicina, e "pode-se esperar uma fase endêmica", mas é preciso prudência. "Podemos ser surpreendidos", diz.
"O vírus circula intensamente na população vacinada. Ele pode mudar e escapar totalmente à imunidade gerada pelas vacinas. Podem surgir subtipos diferentes, que seriam por exemplo, Covid 1, Covid 2, Covid 3, Covid 4, etc. é pouco provável, mas não deixa de ser uma hipótese", diss em entrevista ao programa Priorité Santé, da RFI.
O aparecimento de uma nova variante insensível aos imunizantes obrigaria as autoridades a adotarem novamente medidas rígidas para controlar a circulação viral. Essa possibilidade é real, principalmente levando em conta a baixa taxa de vacinação em alguns países.
"Pela lógica, a epidemia perderá força, progressivamente, e passaremos a um estado endêmico. Mas é preciso ser prudente, observar o que acontece ao redor, porque esse vírus, como eu disse, sempre pode nos surpreender."
O benefício gerado por uma infecção que provoca sintomas leves e reforça a imunidade é contrabalanceado pelo risco de uma alta circulação do vírus, que facilita o surgimento de novas cepas. Monitorar os testes em países com menos acesso aos imunizantes também permitirá antecipar uma reação comum dos países, além de uma distribuição mais igualitária das vacinas.
Coexistência com a delta preocupa
Os imunizantes, como já se sabe, atenuam a circulação do vírus, que deve ser limitada, para que seja possível atingir uma imunidade coletiva a longo prazo.
Em pessoas vacinadas com três doses, uma infecção pela ômicron se parece com uma rinofaringite ou uma gripe. A contagiosidade, entretanto, gera um número muito maior de casos, o que acaba, proporcionalmente, levando a muitas hospitalizações.
Um outro ponto preocupante revelado pela quinta onda epidêmica é a coexistência da cepa delta, mais perigosa, que ainda não desapareceu, com a ômicron, que infecta a população vacinada com facilidade.
Segundo o infectologista Christophe Rapp, membro do Conselho de Saúde Pública e presidente da Sociedade Francesa de Medicina de Viagem, a grande maioria dos pacientes internados na UTI hospital americano, onde ele atua, foi infectada pelo variante delta.
Contrariamente à ômicron, que atinge principalmente o trato respiratório superior, poupando os alvéolos pulmonares, a delta pode provocar as graves pneumonias que levam pacientes para a UTI.
Para evitar esses dramas, a única solução é aumentar, ainda mais as taxas de vacinação em todos os continentes, fazendo o possível para distribuir os imunizantes em países com pouco acesso.
"O objetivo principal da vacinação é limitar as hospitalizações, as formas graves e os óbitos. Para prevenir as complicações, é necessário tomar duas doses da vacina, e um reforço com a terceira. Isso já sabemos e é evidente.
Além disso, quanto mais vacinamos, mais as pessoas estarão protegidas e menos o vírus vai circular. Essa é a noção, um pouco complexa, de imunidade coletiva", conclui.
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