Insulina faz 100 anos

Desde a descoberta, o hormônio evoluiu na forma e no conteúdo e marcou a história no controle do diabetes

Alexandre Raith (texto) e Marcos de Lima (ilustrações) Colaboração para VivaBem

Sede excessiva, perda de peso e aumento da frequência urinária. Os sintomas do diabetes são relatados desde o Antigo Egito, em meados dos anos 1500 a.C. Já a solução para a doença viria séculos depois, mais precisamente em 1921, ano em que a insulina foi descoberta por médicos canadenses que tentavam regular a glicose no sangue de cães. O estudo rendeu o prêmio Nobel de Medicina.

Atualmente, 100 anos após essa descoberta, os números assustam: o diabetes atinge cerca de 15 milhões de brasileiros. No mundo, são quase 500 milhões de pessoas com diabetes tipo 1 (ausência da produção de insulina devido a alterações nas células do pâncreas) ou do tipo 2 (fatores genéticos que causam resistência à ação do hormônio ou ambientais, como má alimentação, obesidade e sedentarismo), e gestacional (taxas de açúcar no sangue ficam acima do normal durante a gravidez). Todos eles dependem, em maior ou menor grau, da insulina para o controle da doença.

A boa notícia é que o tratamento para os diabéticos evoluiu muito. Hoje, temos a produção de insulinas mais fisiológicas; com diferentes tipos, é possível evitar a hipoglicemia com ajustes de doses de acordo com cada organismo. Também está à disposição dos diabéticos a chamada insulina de ação ultrarrápida, que se torna ativa quase imediatamente e pode ser aplicada logo antes das refeições. E, para quem tem pavor de agulhas, a esperança está apontada para os testes com a insulina em cápsula.

Em outra ponta, a do monitoramento da curva glicêmica, estão os novos aplicativos gratuitos para celular, que ajudam a calcular a dose necessária de insulina, contar carboidratos e registrar dados (veja a lista mais abaixo). O controle dos níveis de glicose no sangue é essencial para evitar as sérias complicações que a doença pode trazer.

Descubra como, ao longo de um século, a evolução da insulina melhora a qualidade de vida dos diabéticos no mundo todo.

Como a insulina age no organismo?

O pâncreas produz a insulina basal (secreção contínua que mantém a dose mínima necessária) e a bolus (liberação de grandes quantidades que impede que o açúcar dos alimentos se acumule no sangue após as refeições).

Existe outro hormônio produzido no pâncreas que age de forma contrária. Quando os níveis de açúcar estão muito baixos, o glucagon libera glicose para o sangue como forma de equilibrar a quantidade ideal. Portanto, a insulina auxilia na regulação do metabolismo.

"Toda célula precisa de um combustível para produzir energia e se manter viva, e a glicose é uma das principais fontes. A insulina também atua na síntese de proteínas, que faz com que as células cresçam e se multipliquem, e no metabolismo de gorduras que serão armazenadas no tecido adiposo", explica Rodrigo Moreira, endocrinologista e diretor do Departamento de Diabetes da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia).

A prescrição médica do uso de insulina é vital no caso de pessoas com diabetes tipo 1, já que o organismo não produz o hormônio.

Já no tipo 2, quando os medicamentos hipoglicemiantes e as mudanças no estilo de vida e nos hábitos alimentares são insuficientes. O número de aplicações diárias é individualizado, de acordo com as condições de saúde do paciente.

Ação e duração dos diferentes tipos de insulina

A nova geração de insulinas tem permitido mais comodidade aos indivíduos com diabetes. Os tipos disponíveis se diferem pela rapidez da ação e pela duração com que agem sobre a glicose do sangue. Pode haver combinações de uso e somente o médico pode fazer a prescrição.

A insulina do tipo lenta imita a secreção contínua do corpo para manter o nível mínimo ao longo do dia. Age em cerca de 90 minutos, com pico em 8 horas e ao longo de 18 horas.

Já a de longa duração funciona em 90 minutos e por até 24 horas, enquanto a ultralonga trabalha por 42 horas.

A do tipo rápida atua como a insulina que é liberada quando comemos. Aplicada 30 minutos antes das refeições, impede que a alimentação aumente os níveis de açúcar no sangue. Provoca efeito em 30 minutos, com pico em 3 horas e ao longo de 6 horas.

A ultrarrápida se torna ativa quase que imediatamente. Usada logo antes das refeições, atinge o ponto máximo em 2 horas e age por 5 horas.

"A evolução tem caminhado para a produção de insulinas mais fisiológicas. Antes, o paciente tinha uma sobrevida curta. Hoje, quanto mais modernas, mais fácil se torna o controle do equilíbrio glicêmico. Os diferentes tipos também ajudam a evitar a hipoglicemia, com o ajuste da dose de acordo com as necessidades do corpo e do tipo de alimentação, sem precisar aumentar o número de aplicações", diz Bruno Halpern, endocrinologista e chefe do Grupo de Controle de Peso do Hospital Nove de Julho (SP).

Formas de aplicação da insulina

  • INJEÇÃO

    Utilizada por 99% dos pacientes com diabetes tipo 1 ou 2, as injeções subcutâneas com seringas ou canetas aplicadoras ficaram menos doloridas com a disponibilidade de agulhas finíssimas. Para prevenir o surgimento de nódulos, recomenda-se fazer rodízio dos locais do corpo.

  • INALÁVEL

    Disponível no mercado há cerca de um ano, a insulina é absorvida pelos pulmões e entra na corrente sanguínea em menos de um minuto. Considerada do tipo ultrarrápida, atinge a ação máxima em 15 minutos. Indicada a adultos com diabetes tipo 1 e 2, não é recomendada a fumantes ou para quem parou de fumar nos últimos seis meses, pois a eficácia depende da capacidade pulmonar do paciente, nem para tratamento de cetoacidose diabética (altos níveis de glicose no sangue).

  • BOMBA DE INFUSÃO

    Aparelho eletrônico portátil que, ligado ao corpo através de uma agulha flexível, libera insulina durante 24 horas. O médico programa o equipamento, enquanto o paciente ajusta as doses de acordo com a alimentação e a prática de exercícios. Pode ser utilizada por indivíduos com diabetes tipo 1 ou 2.

  • CÁPSULA

    Ainda em fase de testes, fornece o hormônio por via gástrica e pode substituir as injeções em pacientes com diabetes tipo 2. A cápsula contém uma pequena agulha (feita de material biodegradável) de insulina comprimida, que é injetada quando atinge o estômago. A expectativa é a de que simule a ação dos tipos rápida e ultrarrápida.

À disposição pelo SUS

O SUS (Sistema Único de Saúde) fornece gratuitamente insulina humana de ação prolongada e rápida para diabetes tipo 1 e 2, e análoga de ação rápida para tipo 1, além de seringas e canetas aplicadoras.

A insulina humana é desenvolvida em laboratório, a partir da tecnologia de DNA recombinante. As insulinas mais modernas, chamadas de análogas, são produzidas a partir da insulina humana e modificadas de modo a terem ação mais curta.

Para ter acesso à insulina humana, o paciente deve se cadastrar na unidade de saúde da Atenção Primária e apresentar a prescrição médica válida. A retirada acontece na UBS (Unidade Básica de Saúde) e no Programa Farmácia Popular, mediante apresentação de documento com foto, CPF e receita médica.

No caso da insulina análoga, a entrega é feita nas farmácias do CEAF (Componente Especializado da Assistência Farmacêutica) perante apresentação das cópias do Cartão Nacional de Saúde, do documento de identidade e do comprovante de residência, Laudo para Solicitação, Avaliação e Autorização de Medicamentos do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica e prescrição médica.

Além da disponibilidade gratuita, o endocrinologista Osmário Sales, do Hospital Aliança (BA), acredita que o governo deveria investir em políticas de prevenção.

"Cerca de 90% dos casos de diabetes são do tipo 2, que são relacionados à obesidade. É preciso estimular o controle de peso, a alimentação saudável e a prática de exercício físico. Caso contrário, não terá sistema de saúde que aguente."

Aplicativos como suporte ao tratamento do diabetes

  • GLIC

    Conta com um diário que calcula a curva glicêmica, além de facilidades como medição de dose de insulina necessária, registro e transmissão de dados do controle glicêmico, contagem de carboidratos e tabela de alimentos.

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  • MINSULIN

    Possibilita o cálculo da dose de insulina a cada refeição pela técnica de contagem de carboidratos e o compartilhamento com o médico das informações de glicemia, doses aplicadas e alimentos ingeridos.

  • SBD

    Além de consultar as orientações nutricionais, o usuário pode realizar a contagem de carboidratos consumidos nas refeições.

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  • FATSECRET

    Auxilia na perda de peso ao calcular as calorias dos alimentos ingeridos. Dispõe de um diário alimentar e de exercícios e oferece receitas e informações nutricionais.

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Hábitos ajudam a manter o nível ideal de açúcar no sangue

  • ALIMENTAÇÃO

    Invista nas proteínas magras, nos alimentos ricos em fibras e no consumo de vitaminas e sais minerais de verduras, legumes e frutas com baixo índice glicêmico. Elimine farinha branca, doces e refrigerante.

  • MEXA-SE

    Isolamento social não impede a prática de exercícios físicos. Faça em casa. O sedentarismo é uma das causas do diabetes tipo 2, pois gera obesidade, hipertensão e colesterol. Além disso, a resistência à insulina promove ganho de peso, já que as células não absorvem a glicose dos alimentos.

  • SONHE COM OS ANJOS

    Durma bem entre 7 e 9 horas, para regenerar as células lesadas durante o dia. A reparação celular evita o aumento de peso e doenças provocadas pela obesidade.

  • MODERE NO ÁLCOOL E NÃO FUME

    Prefira beber vinho, que regula a pressão arterial e diminui o risco de doenças cardíacas, à cerveja, que aumenta a glicose no sangue. Já o cigarro aumenta o risco de diabetes, pois a nicotina prejudica a atividade das células do pâncreas.

  • MARQUE UMA CONSULTA

    Visitar o médico e fazer exames periódicos evitam a progressão da doença. Descobrir que o nível de glicose no sangue ainda está na referência de pré-diabetes reduz a chance de viver eternamente dependente da insulina.

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