Febre nos anos 2000, os carros de mensagens paravam as ruas para que todos ouvissem declarações de amor de uma pessoa pela outra. Também por amor, em junho de 2023, Laira Inácio decidiu chamar a atenção usando um desses carros de som, mas, desta vez, o veículo ecoou gritos, lágrimas e um pedido desesperado.
Àquela altura, a filha dela, Ana Júlia Inácio Faria, de 9 anos, estava com câncer em estágio avançado. A menina aguardava há anos a liberação na Justiça para conseguir um medicamento que chega a custar R$ 5 milhões por ano, e que ainda não é disponibilizado pelo SUS (Sistema único de Saúde). A mãe, então, decidiu estacionar um carro de som na Praça dos Três Poderes, em Brasília, para cobrar uma solução para o caso.
De óculos escuros, camisa estampada com a frase "lute como a Ana Ju" e microfone em mãos, Laira passou longos minutos gritando para as autoridades:
"As crianças com câncer no Brasil estão morrendo" e "por que o governo não paga a medicação de crianças com câncer no Brasil?"
Depois disso, finalmente a autorização de compra veio.
Mas já era tarde.
Ana Júlia morreu em agosto de 2023, no mesmo dia em que a decisão judicial que obrigava o plano de saúde a comprar o remédio da menina finalmente saiu.