Atravessando um câncer

Roberta Borsari teve um tumor agressivo na mama e o esporte deu forças para ela vencer esse grande desafio

Giulia Granchi Do UOL VivaBem, em São Paulo Carine Wallauer/UOL
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Ondas grandes demais

Desafios sempre foram bem-vindos na vida de Roberta Borsari --apaixonada por esportes de aventura, ela passou os últimos 15 anos praticando atividades como canoagem, surfe, caiaque polo, caiaque slalom, kayaksurf, canoa havaiana... Além da longa lista de modalidades, a atleta acumula uma porção de medalhas e títulos internacionais e nacionais, como o de tricampeã brasileira de rafting. Mas seu maior desafio surgiu inesperadamente, e fora do esporte.

Em setembro de 2016, a designer gráfica, 43 anos, recebeu o diagnóstico positivo para um câncer de mama agressivo e em estágio dois. O baque foi grande para Roberta e para as pessoas próximas: como alguém tão saudável, sem qualquer histórico familiar, poderia ter um tumor?

Além de buscar respostas para essa pergunta, Roberta reuniu forças para encarar o problema e seguir em frente. "Comecei uma longa trajetória para entender a doença, li muito sobre o assunto e busquei tratamentos além da quimioterapia e radioterapia, como terapias dentro da medicina ayurveda e meditação."

"Não tive medo de morrer, queria viver e voltar a remar"

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Doença pode atingir qualquer mulher

Ao pensarmos em câncer, a genética e a falta de um estilo de vida saudável logo vêm à mente como maiores culpados pelo problema. Realmente, obesidade, sedentarismo, má alimentação, tabagismo e consumo excessivo de álcool estão entre os principais fatores de risco para muitos tipos de tumores. Porém, evitar esses hábitos ruins não é garantia de estar livre da doença.

"Quando estão fora do grupo de risco, algumas pacientes têm a falsa sensação de que estão protegidas contra o câncer de mama. Mas o maior perigo é simplesmente ser mulher", alerta Fabiana Baroni Makdissi, cirurgiã oncológica e diretora do Centro de Referência da Mama do A.C.Camargo Cancer Center.

De acordo com a American Cancer Society, a doença é até 100 vezes mais comum em mulheres do que em homens. Isso porque pessoas do sexo feminino têm mais tempo de exposição hormonal, consequentemente desenvolvendo um maior volume de tecido mamário.

Quanto mais velha for a mulher, maior tempo de exposição hormonal. Mas não é só por isso que a idade é, também, um fator de risco importante. "O câncer surge a partir de uma mutação genética. Quanto mais tempo se vive, maior a possibilidade de o DNA da célula passar a receber instruções erradas", explica Felipe Ades, oncologista do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Como quanto mais cedo o tumor é detectado, maior a chance de sucesso do tratamento, é muito importante que as mulheres consultem o ginecologista ao menos uma vez por ano para investigar se há alterações nas mamas. Além disso, o Inca (Instituto Nacional do Câncer) recomenda a realização anual da mamografia a partir dos 50 anos de idade --porém, mulheres que fazem parte do grupo de risco moderado ou elevado às vezes devem iniciar a rotina de exames bem antes, conforme orientação do especialista.

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Mente e corpo fortes para vencer o câncer

O tratamento de Roberta foi parecido com o de muitas mulheres que enfrentam a mesma situação: cinco meses de quimioterapia forte e uma cirurgia para retirada de quadrante da mama e linfonodo da axila; depois, mais 30 sessões de radioterapia. Para ela, a recuperação tinha que ser a melhor possível, já que seus planos de atleta e aventureira nunca saíram de sua mente. "Quis buscar todas as opções que existiam e pedi para o médico caprichar na cirurgia, porque, além de viver, eu ainda queria remar", contou a atleta.

Para combater o problema de maneira ainda mais efetiva, ela buscou a medicina ayurveda, técnica indiana milenar que visa restabelecer o bem-estar emocional e físico. "Além das estratégias mentais, como os princípios da meditação usados para fortalecer a mente e combater a indisposição dos pacientes, recomendamos mudanças nutricionais, adicionando alimentos com poder antioxidante e melhorando a capacidade digestiva e absorção dos nutrientes por meio de escolhas naturais", explica Ricardo Balsimelli, médico ayuverda da Clínica Soha.

Roberta acredita que a ayurveda a auxiliou a não sentir tanto os efeitos colaterais da quimioterapia e radioterapia. "Aprendi a escolher alimentos que ajudam a fortalecer minha imunidade, o que contribui para tornar meu corpo mais resistente no período do tratamento com medicamentos e radiação. Assim, passei de forma mais tranquila por esse momento", conta a atleta, que leva os ensinamentos da técnica indiana até hoje. Segundo os médicos, uma alimentação saudável realmente tende a favorecer a recuperação de qualquer doença.

Mas é importante ressaltar que tratamentos alternativos nunca podem substituir o tratamento "convencional". Eles servem apenas como apoio para fortalecer o corpo e a mente, contribuindo para que o paciente encare melhor a quimioterapia, a radioterapia e a cirurgia, por exemplo.

Tratamentos não medicamentosos: o que especialistas recomendam e Roberta adotou

  • 1

    Meditação

    Lidar com a doença pode gerar frustração, estresse e ansiedade --problemas que a meditação é famosa por combater. A técnica ainda auxilia na autoaceitação e no autoconhecimento.

  • 2

    Pensamento positivo

    "Apesar de não ter comprovação científica, na prática, sabemos que manter a fé, mesmo que seja apenas concentrada em se livrar da doença, ajuda muito", comenta Makdissi.

  • 3

    Alimentação saudável

    Uma dieta rica em frutas, verduras e legumes e sem alimentos industrializados melhora a resistência do corpo para o tratamento, deixando o organismo mais forte para aguentar, por exemplo, as sessões de quimioterapia.

  • 4

    Prática de atividades físicas

    Realizar exercícios aumenta a resistência e a disposição física, além de estimular a produção de endorfina e outras substâncias que trazem bem-estar. O treino deve ser recomendado de acordo com cada quadro.

A aventura pelas águas continua

Em março de 2017, Roberta finalizou o tratamento e, para comemorar, decidiu fazer o que mais gosta: embarcar em uma nova aventura. "A primeira coisa que fiz foi comprar uma passagem e ir ao Tahiti. Ainda nem estava 100% com a minha energia vital, mas sabia que precisava desse tempo para mim", conta.

Com a ajuda de fisioterapia e cuidados que toma até hoje, como uso de certos medicamentos e drenagem no braço pela falta do linfonodo, Roberta voltou a remar. Após alguns meses, a atleta retomou o projeto SUP Travessias, no qual percorre ilhas em sua prancha de stand up paddle (SUP), para registrar imagens de natureza, cultura e história dos lugares.

Fernando de Noronha, Ilha de Páscoa, Sri Lanka, Maldivas e Galápagos são alguns dos destinos já explorados pela atleta. "O projeto me levou a lugares surpreendentes e me trouxe experiências incríveis --nunca é só esporte, é também sobre conhecer culturas riquíssimas. Continuarei remando, porque desbravar ondas desconhecidas e mergulhar em jardins de corais é algo que sempre fará meu coração vibrar", conta, sorrindo.

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