"Ele vai para casa superalegre e feliz"

Luiz Augusto tem 8 anos e tem distrofia muscular de Duchenne. Ele usa a terapia assistida por cavalos como um dos tratamentos

Luiza Ferraz (texto) e Fernando Moraes (fotos)

Colaboração para VivaBem, em São Paulo

Este é um capítulo da série

Bichos e saúde mental

Conversamos com quatro pessoas que tiveram suas vidas mudadas e beneficiadas pela relação com os animais

Em cima de um cavalo, Luiz Augusto Cordeiro de Souza, 8, se diverte. Ele posa para as fotos, acena para quem chega, faz carinho e dá comida ao seu grande companheiro Harley, como é chamado o animal.

Esse é um dos momentos favoritos do garoto na semana. Na hora de caminhar, ele mostra certa dificuldade, mancando um pouco e precisando parar em alguns momentos. Isso porque ele tem distrofia muscular de Duchenne.

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A doença causa degeneração progressiva dos músculos. O problema ocorre devido a uma alteração genética, que resulta na ausência da distrofina, proteína fundamental para o funcionamento muscular.

As primeiras manifestações acontecem dos 2 aos 5 anos de vida. Geralmente, crianças com distrofia muscular demoram um pouco mais do que a média para começar a andar. Conforme crescem, a movimentação é afetada e eles sofrem com quedas frequentes, dificuldades para correr e subir escadas. Cerca de 30% dos casos podem apresentar comprometimento no aprendizado e comportamento.

"Nos estágios mais avançados, a doença atinge a musculatura cardíaca e pulmonar, causando a dependência de aparelhos. Em todos os pacientes, a força muscular piora ao longo do tempo, mas a velocidade varia caso a caso"

Fernanda Rocco, fisiatra da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente) e especialista em doenças neuromusculares

No caso de Luiz Augusto, o diagnóstico veio aos seis anos de idade, quando uma professora percebeu que ele não conseguia subir as escadas da escola. A mãe, Cristina Cordeiro, já havia percebido algumas anormalidades.

"Ele demorou muito para começar a andar, então eu procurei um médico, mas ele dizia que era a dor do crescimento. Até fizemos alguns exames para medir o tamanho dos ossos, mas estava tudo dentro da normalidade"

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Foi apenas em 2019 que a resposta veio, após realizar o exame genético que confirmou a existência da doença. Desde então, a vida de Cristina se transformou em uma busca infinita por tratamentos.

"No caso das doenças neuromusculares, não é indicado o uso de exercícios com carga, pois é possível romper a musculatura. O ideal é que haja um alongamento da fibra muscular, ajudando na mobilidade da criança, já que essa condição retrai os tendões"

Luiz Fernando Grossklauss, neurologista infantil e especialista em doenças neuromusculares pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo)

Orientada por um pediatra, a mãe conheceu a equoterapia, tratamento que utiliza o cavalo para uma abordagem multidisciplinar. De acordo com o ritmo da caminhada do animal, o paciente que está montado nele recebe estímulos capazes de favorecer o equilíbrio, a coordenação e a postura.

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Luiz Augusto faz o tratamento no Walking Equoterapia, um centro de reabilitação que atende crianças na Zona Sul de São Paulo. O local conta com uma equipe composta por ortopedistas, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e veterinários.

Veja aqui os benefícios da intervenção assistida por animais.

"A equoterapia faz muito bem para ele, ele vai pra casa superalegre e feliz. Ele fala que gosta, que brinca com os cavalos, ele ama isso"

Ana Caroline Cordeiro de Souza, 17, irmã mais velha de Luiz Augusto

Apesar de benéfico, esse tratamento ainda não é suficiente para desacelerar a progressão da doença de Augusto. A equoterapia precisa ser aliada à fisioterapia, sendo essa uma luta diária de Cristina, que não tem condições financeiras para encontrar lugares adequados.


Ela é diarista e conta com a ajuda de sua filha mais velha, Ana Caroline. Enquanto a mãe trabalha, a garota de 17 anos cuida de Augusto, dos avós e da irmã mais nova, que está com 10 meses.

"Coloquei Augusto na fila de espera para fazer hidroginástica, pois o médico recomendou, mas até agora não consegui"

Enquanto isso, Cristina tenta estimular o filho do jeito que pode, com atividades dentro de casa. Uma delas foi aprender a fazer biscoitos. "Eu queria estimular a cabeça e as mãozinhas dele, porque percebo que elas estão ficando meio 'abobadas'."

"Ele não consegue correr igual às outras crianças. O desenvolvimento escolar dele também é muito devagar e ele não tem coordenação motora. Alguns coleguinhas chamam o Luiz Augusto de burro. É dolorido, porque há muito preconceito."

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Até o momento, a distrofia muscular de Duchenne é irreversível. No Brasil, ano passado foi aprovado o uso de um remédio chamado Translarna (Atalureno), que não modifica o curso da doença, apenas atenua a piora. O uso de corticosteróides também pode tornar os danos mais lentos.

"As crianças que tomam corticosteróides são capazes de andar por dois a três anos a mais do que fariam sem ele, além de minimizar o risco de escoliose (desvio da coluna) e ajudar a preservar a função respiratória", diz Rocco.

Para os próximos anos, a expectativa é alta. "Já existem estudos bem avançados sobre uma terapia gênica com a microdistrofina [versão mais curta da proteína fundamental para o funcionamento muscular], que pode paralisar a evolução da doença", ressalta Grossklauss.

Para Cristina, o mais importante é ter fé e não desistir. "Às vezes, Augusto me pergunta: 'Mãe, se eu ficar na cadeira de rodas, como vai ser?' Ele tem muito medo, sempre pergunta se Deus um dia vai conseguir curá-lo. Eu digo: se Deus não te curar, ele vai te capacitar, para você mostrar a sua história e ajudar outras pessoas."

Este é um capítulo da série

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Publicado em 12/04/2022

Reportagem: Luiza Ferraz

Edição de texto: Gabriela Ingrid

Arte: Juliana Caro

Fotos: Fernando Moraes